De Vitor Hugo para a eternidade

Daniel Herz, o rapaz do movimento, o diretor que sabe fazer execuções corporais como ninguém, o que está mais que comprovado. Daniel parece trilhar cada vez mais alto no seu Teatro, no seu estilo e na sua identidade. No espetáculo “Corcunda – Dueto para ator e catedral Gótica”, ele não é diferente, penso que todo artista que trabalha com Daniel passa a ter uma experiência interessante quanto ao corpo teatro, porque é evidente o quanto ele transforma o artista em movimentos cênicos esplendorosos.  Na saga de Daniel, independentemente do tamanho do elenco, o palco sempre está cheio, devidamente preenchido, pode ser um monólogo e não haverá “buraco”, incrível olhar. Durante o espetáculo é possível encontrá-lo lá, sentado com as pernas cruzadas e o olhar atento, não se sabe se admirando ou ainda tentando encontrar melhorias para sua execução.

Maurício Grecco fez bem feito seu trabalho. Até quando executa alguns gramelos —pequenos grunhidos e sonoridades compreensíveis e decifráveis — é possível notar o estranho Quasímodo. Sobe e desce até cair da torre com precisão, muito bem ensaiado, quando a luz vai ao seu encontro, do alto de uma das torres de Notre-Dame, abusa das expressões faciais e convence a plateia. Ao interpretar a Esmeralda, o ator não poderia mais do que se vê no palco, mas confesso que seria lindo ver uma mulher dançar para o Quasímodo, pode-se sentir falta disso, afinal a Disney ferrou com a cabeça da maioria quando criança, como também não contou que Esmeralda morre na história! No entanto, o lenço vermelho criou um lindo efeito e é possível assistir a um teatro de animação, no momento que ele pega a cigana no colo. Lindo!

O que faz a plateia ir ao delírio é o Capitão Phoebus, Grecco com suas peripécias abusa do sotaque francês em um texto inteligente e dinâmico. Que inclusive vale ressaltar ser de autoria do próprio artista Mauricio Grecco, de Daniel Herz e de Tiago Herz. Nessa obra, o DNA artístico fica evidente, pelo brilhantismo do já premiado ator, autor e diretor artístico Daniel Herz, que mais uma vez é responsável por um trabalho valoroso, que merece ser enaltecido pela crítica e pelo público, e pelo trabalho impecável de seu assistente e filho, Tiago Herz.

A iluminação de Renato Machado compõe um espetáculo elegante, digno de palmas, uma beleza que pode ser vista por quem passar pelo teatro Oi Futuro, no Flamengo. Renato exagerou na dose do “bem posto”, com refinamento. Belo trabalho!

A cenografia constituída por objetos de cena é fabulosa, tudo colocado em cena é útil. Doris Rollemberg e Maurício Grecco, com lealdade, sapiência e sem exageros, mostraram expertise para recriar Notre-Dame. O ‘menos é mais” merece prêmio na categoria! Inclusive, a maquete da igreja deixa os espectadores boquiabertos, parece uma joia!

Clívia Cohen e Lucila Belcic assinam a indumentária. A cabra Djali está ali no palco agarrada aos personagens, uma tremenda sacada desses profissionais. Para evitar “spoiler”, apenas um registro: foi de uma competência admirável!  O tom terra, nude, marrom, valoriza o véu da Esmeralda em tons mais quentes. Excelente trabalho!

Vitor Hugo arrepiou-se com a despedida do ator no palco, esteja onde estiver, aplaudiu quando finalizou “que a história há sempre de ser lembrada”! Lembrou muito Carlos Ruiz Zafon, um catalão, um dos mais bem sucedidos literários contemporâneos, que escreveu com sabedoria e certeza “Uma história não tem princípio nem fim, só portas de entrada. Uma história é um labirinto infinito de palavras, imagens e espíritos em conluio para nos revelar a verdade invisível sobre nós mesmos. Uma história é, em definitivo, uma conversa entre quem narra e quem escuta, e um narrador só pode contar até onde vai a sua perícia, e um leitor só pode ler até onde está escrito em sua alma. Essa é a regra fundamental que sustenta qualquer artifício de papel e tinta, porque, quando as luzes se apagam, a música se cala e as poltronas da plateia ficam vazias, a única coisa que importa é a miragem que ficou gravada no teatro da imaginação que todo leitor tem em sua mente. Isso e a esperança que todo contador de histórias carrega dentro de si: de que o leitor tem aberto o coração para alguma de suas criaturas de papel, emprestado a ela algo de si para torná-la imortal, nem que tenha sido por alguns minutos. E dito isso, provavelmente com mais solenidade do que a ocasião merece, convém aterrissar o pé na página e pedir ao amigo leitor que nos acompanhe na conclusão dessa história e nos ajude a encontrar o que é mais difícil para um pobre narrador preso em seu próprio labirinto: a porta de saída.”

Bravíssimo Zafon, Grecco (que não é o Velasquez) e os Herz!

“O corcunda Quasímodo, um bebê deformado, é abandonado na porta da Catedral de Notre-Dame de Paris e passa a ser criado como filho pelo responsável pela Catedral, o poderoso Arquidiácono Claude Frollo. O Corcunda cresce longe da sociedade, dedicado a sua paixão — os sinos de Notre-Dame. Até que um dia, Frollo se apaixona pela bela cigana Esmeralda. Quasímodo também se apaixona pela moça, mesmo se dando conta da impossibilidade de realizar esse amor. Frollo, rejeitado pela cigana, reage de forma violenta, num crescendo de destruição de si mesmo e da própria cigana. A partir daí, um inevitável confronto entre Frollo e Quasímodo vai ser estabelecido” (Sinopse)

FICHA TÉCNICA

Dramaturgia: Daniel Herz, Mauricio Grecco e Tiago Herz

Direção: Daniel Herz

Diretor Assistente: Tiago Herz

Elenco: Mauricio Grecco

Cenografia: Doris Rollemberg e Maurício Grecco

Música Original: Leandro Castilho

Figurinos e Adereços: Clívia Cohen e Lucila Belcic

Desenho de Luz: Renato Machado

Cenotécnico: Anderson Dias

Fotografia: Jackeline Nigri

Projeto Gráfico: Lygia Santiago

Produção Executiva: Monica Farias

Direção de Produção: Marta Paiva

Coordenação e Idealização: Mauricio Grecco

Realização: Horizonte Produções Artísticas

Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

Patrocínio: OI, Governo do Estado do Rio de Janeiro e Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura

CORCUNDA – DUETO PARA ATOR E CATEDRAL GÓTICA

Temporada até 1/5

Sábados e domingos, às 16h

Centro Cultural OI Futuro Rua Dois de Dezembro, 63, Flamengo

Ingressos gratuitos

Retirar ingressos na plataforma Sympla

Classificação livre

Informações: (21) 3131-3060