Chega a primavera e aquele Ipê lindo, que habita a rua Caruaru, aqui no Grajaú, floresce amarelo. É uma árvore pequena, super fotogênica e com uma aura majestosa. Que ser magnífico! Que imagem para apreciar! Aliás, tudo na natureza tem um design maravilhoso. E eu me pergunto: qual seria o motivo?
Essa pergunta é retórica, como quase todas em nossa vida, afinal, não temos nenhuma resposta pronta. Vivemos na busca constante por responde-las. Já que a verdade é fluida e a mente trai. Como disse Rauzito: “Que o mel é doce, é coisa que me nego a afirmar, mas que parece doce, eu afirmo plenamente.”
Dependentes de um ponto de vista, nunca temos uma consciência plena, mas, sempre, parcial. Como naquela charge, onde dois caras leem um número no chão, um diz que é 6, o outro diz que é 9 e brigam. No entanto, como um olhava por cima e o outro por baixo, os dois estavam certos.
Buscamos respostas exatas para coisas que não devem ser pensadas dessa maneira, por possuírem diversas respostas reais. Nossa incapacidade de trocar a lógica, dependendo do assunto, tem resultado em conflitos desnecessários.
Por isso, digo que não há certeza de quase nada. Entre as poucas que podemos ter, estão: a vida, a morte, a gravidade, o medo, a impermanência e as perguntas sem resposta. Com essa informação, podemos amenizar nossas angústias e perceber o quanto nos ilude pensar que temos as respostas certas.
Cada um traz, dentro de si, respostas e verdades, que não são unânimes. É ilusão pensar que nossa opinião é mais qualificada e que devemos matar ou morrer por ela. Muitas vezes, ficar calado, ouvir e se interessar pela demanda dos outros, tem muito mais efeito do que vomitar nossas convicções.
Numa perspectiva histórica, não somos nada. O que fazer então? Alguns construíram monumentos, afim de ter seu nome lembrado. Outros preferiram deixar como legado, relevantes contribuições para o desenvolvimento da humanidade. O que visavam? Ser lembrados ou contribuir com o formigueiro?
Sejam os objetivos egoístas ou altruístas, um meteoro ou outra guerra, pode fazer tudo virar pó e, simplesmente, desaparecermos sem deixar rastro. Pode parecer pessimismo, mas o objetivo do texto é, apenas, chamar a atenção para o que, realmente, importa. Tentar ajudar a fazer a ficha cair.
Tenho a esperança de que alguém que leia, possa abraçar as incertezas e a falta de respostas e entender que essa é uma condição humana e que, sabendo conviver com isso, podemos ir muito além. Porém, é preciso incorporar, de novo, a postura da humildade, pela constatação inexorável de que nada sabemos.
A natureza, por ter bilhões de anos a mais do que nós, sempre nos ensina. E aquela pequena flor, que nasce no cume do morro mais alto, apesar de lutar contra todas as adversidades, sempre se apresenta com todo seu esplendor.
Assim como a pequena abelha faz o mel, mesmo sem ser notada. E a mais bela pedra preciosa se encontra nas entranhas da terra. Qual é nosso propósito?
Fama? Sucesso? Qual é a nossa contribuição? A maioria das maravilhas da natureza, nunca será vista por nós, nunca será filmada para documentários. Nunca saberemos os nomes destes pequenos seres vivos do planeta, células microscópicas mas, nunca, insignificantes. Anônimos mas, nunca, irrelevantes.
O Ipê, a flor e a abelha dão o melhor de si. Dão tudo o que têm. Dão suas vidas. Não importa o quanto nós os valorizamos. Muitas vezes, ignoramos o simples, esperando “fazer a diferença” e deixamos escapar diversas oportunidades de servir para alguma causa, ou alguma coisa: “A gente somos inúteis”.
Em cada trabalho é preciso estar presente, de corpo e alma. Ainda que seja para limpar uma latrina. Não há trabalho menor. Temos que dar nosso melhor, seja como profissional, ou como ser humano. Não se trata de ser melhor do que ninguém, apenas, a melhor versão de nós mesmos. Usando o presente e, não, esperando por um futuro incerto, vendo a vida se esgotar.
Certo dia, um desconhecido compartilhou sua vida, através de um texto, de um quadro, de um filme ou de uma canção. Não apenas com a intenção de botar para fora seus fantasmas, mas buscando se comunicar. Sem querer, senti o chamado e sua mensagem me serviu. Só isso já basta. É o trabalho da borboleta. Sem plateia.
A vida não precisa de aplauso. Acontece independentemente de espectadores. E curiosamente, flui. O ser vivo de ontem, é o combustível fóssil de hoje. Já foi planta, dinossauro, petróleo, energia e agora é fumaça. Que volta ao solo e alimenta outra planta. Temos que parar de temer e passar a ver a beleza deste ciclo, que acontece há bilhões de anos, alheio ao nosso consentimento.
Por pensar assim, tenho muito cuidado com o que passo aos alunos, muita responsabilidade. Medo de errar. De falar uma verdade que penso hoje e que amanhã pensarei diferente. Não porque a coisa, em si, vá mudar, mas porque vou pensar de outra forma, vou mudar meu olhar. Por isso, tenho muita cautela.
Educar de verdade, com profundidade, é difícil. Não se trata de criar técnicos e especialistas, mas, mentes críticas, flexíveis e empáticas. Que pensem por si mesmos, sem diminuir o outro. Ensinar é ensinar sobre a vida. Por meio de uma ferramenta, um ponto de vista, um estado de espírito, que pode ser qualquer matéria, mas acredito, particularmente, no poder da arte.
Aos alunos, digo que sou um irmão mais velho, que tive mais experiência e posso auxiliar. Sem a arrogância de quem tem as respostas, mas, sim, com a certeza de que estou longe delas. Qualquer professor sabe o quanto se aprende com as particularidades de cada olhar de seus alunos.
Ninguém detém a verdade. Até mesmo quem diz seguir a palavra de Deus, está sujeito ao ônus de uma má interpretação. Na vida, surgem situações que nos exigem repensar e que colocam em cheque nossas certezas. No entanto, as velhas perguntas, nos mantém na busca pela virtude, pela verdade inatingível.
Distorcendo o tempo, disparamos contra as horas, ao invés de usá-las a nosso favor. Numa corrida desenfreada por ter, estamos esquecendo de ser, de desfrutar nossa família, amigos e planeta. Não falo de festa, falo de silêncio, de observação, de amor, de gozar a existência em harmonia com o cosmos.
Abraços e até a próxima!