Ela olhava distraída pela janela do seu quarto.
Havia passado um tempo no seu Instagram passeando pelos perfis que pareciam compartilhar uma única ideia chave: a liberdade! Praticamente todos bradavam por clemência divina para que o vírus fosse exterminado da face da terra e a vida pudesse voltar ao normal. Queriam poder sair de suas casas e assistir ao sol irrompendo imponente no horizonte, aquecendo e iluminando novos caminhos, novas chances que foram deixadas para depois. Queriam contemplar a lua chegando sorrateira, tímida e recatada, mas banhada de luz prateada para acalentar a noite de sono, confortar o merecido descanso depois de um dia de luta. Queriam ser livres de novo. Queriam suas escolhas de volta. Diziam-se enclausurados, amarrados, enjaulados.
Ela seguia, por dias, olhando pela janela do seu quarto de onde podia ver um emaranhado de varandas e janelas. Não avistava ninguém em nenhuma delas. Nenhuma viva alma pairava por ali. Onde estavam todos aqueles amantes vorazes do céu, do sol e da lua? Os astros ali continuavam, invariavelmente, presenteando a humanidade com os mesmos deslumbrantes efeitos. Que liberdade era essa que clamavam tanto se não conseguiam sequer sair do seu quarto, olhar para o alto e se conectar com o que estava ali parado, escancarado e perfeitamente imaculado fosse o que fosse? Postavam supostas perdas irreparáveis sem perceberem o quanto estavam perdidos e desconectados de si mesmos.
A verdadeira liberdade reside no auto olhar e o caos se torna remédio, sabendo dosar.