O rapaz, que estava em frente à coluna do muro que separa uma escola e uma entrada para uma rua sem saída, jogava uma moeda para o alto. Após o lançar do níquel, ele olhava para ver se deu cara ou coroa. Como se fosse árbitro da própria sorte.
As pessoas passavam com pressa e roupas bonitas, balançando seus cabelos. A moda do cabelo comprido voltou? Vou deixar o meu crescer outra vez. Quem parece que cresceu de uma vez foi o rapaz da moeda. A vida nos acaba. Vinte e poucos anos, mas com cara de muitos outros. Roupas rotas, sujo e descalço, ele não tinha cara de quem tinha muitas moedas no bolso. Nem cara, nem coroa. Batia nas janelas dos carros pedindo algo que poucos escutavam.
Próximo ao mesmo sinal, onde não é recomendado parar depois das 22h por conta dos muitos assaltos, uma senhora, sentada na calçada, segura uma criança com um braço enquanto estende o outro para pedir moedas para quem passa na rua.
Eu, ainda que contrariado pela manhã, pelo despertador, pelo engarrafamento e pela insegurança, estava indo para o trabalho que escolhi (ou aceitei), na aérea que escolhi (ou aceitei), na profissão que escolhi (ou aceitei).
Poderia ser diferente. Eu poderia estar indo para outro lugar, outro caminho, outra área, outro trabalho. Eu poderia ter escolhido menos e, com isso, a vida poderia ter escolhido mais por mim. Ou não. Nós forçamos as possibilidades de escolhas ou as possibilidades nos forçam a escolher? Sempre fui favorável ao maior número de escolhas possível. Para tudo na vida. Para todas as pessoas. Será que posso ser assim? Será que o mundo pode ser assim?
O rapaz, enquanto o sinal não fechava, ainda estava jogando a moeda para o alto, como se estivesse buscando ajuda para escolher algo. Será que ele pode escolher tanto assim? Será que podemos escolher tanto assim? Será que temos o sonhado poder de escolha? Quantas moedas nós ainda temos para apostar?