O progresso é para todos, inclusive para gente pobre. Frase da qual nunca devemos esquecer, reproduzida neste espetáculo, simplesmente magnânimo.
Enquanto o espetáculo Diários Marginais não começa, já na sala de espera, ouve-se marchinhas de carnaval. Tudo com leveza, um convite a alegria, que tanto precisamos neste momento.
Logo no começo o público se depara com Lima Barreto sentado em sua poltrona, escrevendo. Devaneios e devaneios, até aparecer o divertido e mais solto João do Rio.
E conforme o texto segue seu ritmo, é possível se dividir entre as opiniões dos personagens, pois são muito bem construídos na dramaturgia. E lógico, trata-se de ilustres literários reconhecidos e respeitados pelos brasileiros.
Se de um lado assistimos aos prazeres carnais de João do Rio, do outro temos o olhar perturbador e conservador de Lima Barreto, é possível fazer um mergulho por suas obras literárias, desnudando as características de ambos.
Durante o espetáculo são desenterrados clássicos inesquecíveis do samba que impecavelmente bem inseridos no audiovisual possibilitam maior conexão com a época vivenciada pelos cariocas protagonistas e a atual, vivenciada pelos espectadores.
Harmonia e simpatia coroam esse espetáculo. A dramaturgia é um espetáculo à parte.
A narrativa do hospício em que Lima esteve por conta do alcoolismo surpreende, um vídeo adentra a cena e novas ferramentas tecnológicas expõem fotos do local. O Hospital Nacional dos Alienados funcionava no Palácio Universitário da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), campus da Praia Vermelha. Foi quando a loucura enlaçou as palavras do Lima a sua literatura.
João do Rio é encarnado por Wagner Brandi, maravilhosa encenação! Vale a pena assistir à obra. Vale lembrar que o irreverente João do Rio nasceu no mesmo ano que Lima Barreto. João era homossexual e ajudou a inserção das obras de Oscar Wilde no Brasil.
Dorian Gray entra em cena por meio dessa dramaturgia, ele é personagem do literário sentenciado por seu caso com o filho de um homem que pertencia a nobreza aristocrata da época. Pobre Wilde!
A dramaturgia mais uma vez acerta em mais uma de suas frases eloquentes: “A mudança acontece através dos loucos…”
Em 22 de fevereiro de 1904, João realizou uma série de reportagens intitulada “As religiões no Rio”. Impossível não mencionar esse trabalho do também jornalista e teatrólogo.
Não tem como dar errado uma trilha sonora com a música Camisa Listrada de Assis Valente, na voz da Carmem Miranda, seguida por outras marchinhas, em um momento em que o carnaval está sentenciado a saudade.
Figurino e cenário de uma competência irrepreensível, principalmente para on-line. A composição dos personagens, desde os figurinos à excelência dos atores Wagner Brandi e Gilson Gomes.
A mímica bem empregada em alguns momentos da narrativa pelos atores. Clara dos Anjos, moça periférica do Rio de Janeiro, também visita a dramaturgia, em um devaneio de Lima…
As influências literárias de Lima Barreto bem transportadas ao audiovisual.
O cenário perfeitamente adequado à plataforma digital, a casa do escritor, com livros e mais livros. A menção ao isolamento foi incrível. A Cia Oráculo, que completa vinte e cinco anos, traz essa maravilha de presente ao público.
Diários Marginais, uma obra recomendada com louvor.
DIÁRIOS MARGINAIS
Assista no YouTube linktr.ee/oraculocia
Dias: 5 a 7, 12 a 14, 19 a 21 e 26 a 28/2
Sexta a domingo, às 16h
Classificação: 12 anos
Ingressos gratuitos
Texto e atuações: Gilson Gomes e Wagner Brandi
Direção do espetáculo teatral: Luiz Furlanetto
Direção do espetáculo Cineteatro e Direção de arte: Oswaldo Eduardo Lioi
Cenografia: Ianara Elisa
Vídeo mapping: Mayara Ferreira
Edição de vídeo: Mayara Ferreira e Ciáxeres Régio
Fotografia: Leonardo Pergaminho
Design gráfico: Alexandre Muner
Iluminação: Djalma Amaral
Iluminação Cineteatro: Wagner Brandi e Ianara Elisa
Operador de luz: Ianara Elisa
Direção Musical: Charles Kahn
Músicas originais para o espetáculo: Wagner Brandi
Direção de palco: Ana Paula Casares
Assessoria de imprensa: Eduardo Lamas
Filmagem do espetáculo: Júlio Kummer
Produção executiva: Oráculo Cia de Teatro
Coordenação do projeto: Gilson Gomes
Realização: WGL Produções e Eventos & Kadiwéu Projetos Artísticos
Fotos: Bianca Souza