Antes da pandemia o espetáculo Nefelibato estava em cartaz no presencial. O desenho da arte chamava a atenção: um rosto e no alto de uma cabeça, diversas imagens entre nuvens.
Uma mente que se compromete somente com o idealismo? Viver alheado a realidade? O que seria Nefelibato?
Um monólogo consistente, mas também, não podia ser diferente, além do experiente ator Luiz Machado, o espetáculo conta com Amir Haddad e Fernando Philbert, impossível que viesse a dar errado!
O Teatro Sesi Firjan entendeu a importância da obra e apresentou por meio do Pocket Cultural, um espaço oferecido àqueles que ainda se mantém a salvo em suas casas e de alguma forma continuam conectados à arte. Também não era de se esperar algo diferente por parte dessa instituição, que tem uma curadoria robusta e perspicaz.
Entretanto, o espetáculo também ganhou espaço no teatro PetraGold, um dos primeiros a levar a nova linguagem digital à sociedade.
Entender, para minimizar esse caos humano, é necessário.
“A dramaturgia conta a história de um homem que anda pelas ruas da cidade, Anderson oscila entre a lucidez e a loucura — ele hoje é apenas a sombra de um homem outrora bem-sucedido, mas que perdeu tudo: sua empresa, todas as suas economias, o grande amor da sua vida e um parente querido”
A década de noventa é o antagonista do espetáculo, a Era Collor de Mello, o ex-presidente, hoje, inacreditavelmente, senador federal, que levou o Brasil ao seu primeiro impeachment, em 1992. Uma década onde as máfias siciliana e calabriana da Itália foram instaladas no Planalto Central com esquemas milionários, segundo o olhar do escritor Lucas Figueiredo, no livro Morcegos negros.
Povo nas ruas e caras-pintadas de verde e amarelo, jovens de todo o Brasil protestaram. O personagem Anderson, como muitos brasileiros, perdeu seu negócio e teve a sua vida devastada. E muitos, como ele, passaram a viver entre o delírio e a lucidez.
O teatro, por ser político, traz um atravessamento passado que parece se chocar com o presente e mais uma vez, o povo está nas ruas gritando por mais um impeachment, só que dessa vez, não por um desfalque financeiro, mas por mais de meio milhão de vidas perdidas.
O que chama a atenção nesse trabalho de Luiz Machado é como o ator se comunica com a plateia, o olhar da direção feita por Marina Salomon, que dá ao artista partituras corporais inebriantes. A voz, a alegria, a atuação do artista são realmente lindas.
As músicas muito bem escolhidas para o belíssimo solo.
Cenário e iluminação apropriados. Os objetos de cena são bem-vindos, compões com dignidade o cenário. A figurinista, Teca Fichinski, como sempre teve precisão cirúrgica. Figurino encantador e assertivo.
O tema abordado leva a análises importantes. Os que vagueiam pelas ruas também têm suas histórias, existem motivos para estarem ali e não são menos humanos por suas condições precárias e de vulnerabilidade. Estão ali ansiando por acolhimento, muitas vezes com problemas psicossomáticos e muito distantes de uma vida minimamente saudável.
O espetáculo Nefelibato é uma cartilha de aprendizado, onde a plateia é submetida a um mergulho de empatia, que tenta humanizar corações e dar a dimensão do entendimento para com aqueles que sofrem com perdas cognitivas, largados à própria sorte. É a luz da alma que se acende, ao apagar dos potentes refletores do teatro!
NEFELIBATO
On-line e presencial
Teatro PetraGold
Rua Conde Bernadote, 26, Leblon
Temporada até 28/7, às 19h
Gênero: Comédia dramática
Ingressos: a partir de R$ 20
Adquira seu ingresso: https://www.sympla.com.br/online—nefelibato—teatro-petragold-online__1259616
FICHA TÉCNICA
Texto: Regiana Antonini
Supervisão artística: Amir Haddad
Direção: Fernando Philbert
Interpretação: Luiz Machado
Cenografia e figurino: Teca Fichinski
Iluminação: Vilmar Olos
Música: Maíra Freitas
Direção de movimento: Marina Salomon
Preparação vocal: Edi Montecchi
Design gráfico: Cláucio Sales
Assistente de direção: Alexandre David
Assistente de cenário: Juju Ribeiro
Realização: LM Produções Artísticas