Diane Keaton e Jeremy Irons trombando em cenas constrangedoras num filme em que o mau gosto parece ser o propósito maior
Como é difícil ser fã ardoroso da Diane Keaton. Eis a reflexão que arrebata esta crítica após a cabine online desta enorme bomba que é Amor, casamentos e outros desastres, um filme tão ruim que desafia a capacidade de quem o descreve de manter a calma necessária para organizar argumentos coerentes em linhas que, de preferência, não contenham impropérios. E que, também de preferência, se furtem a cair no trocadilho mais banal: dizer que o filme é, ele sim, um desastre completo. Em realidade, Diane Keaton, que interpreta uma mulher cega que se envolve com um solitário produtor de eventos com tendências ao transtorno obsessivo-compulsivo (Jeremy Irons), não é nem mesmo a protagonista do filme, já que se trata de mais uma narrativa com multiprotagonismo contando diversas historietas sobre amor que se entrelaçam, aos moldes de Simplesmente amor (Richard Curtis, 2003) e Noite de Ano Novo (Garry Marshall, 2011), filmes que, malgrado estejam longe de serem classificados como grandes obras, são minimamente estruturados do ponto de vista narrativo. Em contraponto, esta tentativa do diretor (e um dos roteiristas) Dennis Dugan, que anteriormente assinou algumas outras comédias de gosto duvidoso, é tão constrangedora que o fato de que, em pleno 2021, fala sobre amor apenas se focando em histórias de casais heterossexuais é o menor de uma longa lista de problemas. Trata-se de um filme tão ruim que se tem a sensação de que tamanha falta de apuro dramático ou estético teria que ser intencional, talvez uma piada interna aos moldes de Andy Kaufman, que, segundo as lendas, plantava chistes que propositalmente só poderiam ser compreendidos por um seleto grupo de pessoas.
Para começar, todas as histórias são pouco inspiradas, apressadas, previsíveis e contam com personagens rasos e incapazes de gerar a mais vaga torcida por parte do espectador (indispensável numa comédia romântica). Temos a jovem maluquinha e levemente desiludida com o amor que é contratada para produzir um enorme casamento e se apaixona pelo músico que escolhe para animar a festa; o casal de desconhecidos que participa de um bizarríssimo reality show e acaba acorrentado, em convivência forçada; o guia de turismo que se apaixona à primeira vista por uma passageira de seu tour, jovem que tem um sapatinho de Cinderela tatuado no pescoço (uma tentativa de inovação “audaciosa”) e se perde dele ao fim do passeio (quem adivinharia?). E, por fim, a trama que coloca os magníficos Jeremy Irons e Diane Keaton em cenas constrangedoras, cheias de piadas repetitivas e sem a mais vaga graça, em que uma mulher cega tromba em objetos ou se acidenta, numa representação estereotipada e absolutamente não crível da deficiência visual (em especial nas passagens em que há um cão-guia). Que esse tipo de representação ainda figure no cinema mainstream dos anos 2020 surpreende menos do que irrita. Entende-se que a tentativa aqui é justamente aproveitar o arquétipo da mocinha das comédias românticas que, desajeitada, encanta justamente por sua imperícia, mas o resultado pode ser classificado sem medo como ofensivo.
Seria possível afirmar que Amor, casamentos e outros desastres serve ao menos para nos lembrar de que até atores do quilate de Keaton e Irons se metem em furadas retumbantes. Com isso, talvez pudéssemos lidar melhor com nossas próprias vergonhas artísticas. A verdade, no entanto, é que Diane Keaton, uma atriz absolutamente fabulosa, com um grande tino para a comédia, vem enfileirando uma lista de filmes preguiçosos e esquecíveis nos últimos dez anos. São obras que desafiam os fãs mais fervorosos, caso desta que escreve, que assistiu aos sofríveis Do jeito que elas querem (Bill Holderman, 2018), O Natal dos Coopers (Jessie Nelson, 2015), Um amor de vizinha (Rob Reiner, 2014) e – talvez o pior destes – Querido companheiro (Lawrence Kasdan, 2012). Trata-se de um cenário tão devastador que o apenas simpático Hampstead (Joel Hopkins, 2017) parece ótimo e o realmente bom Ruth & Alex (Richard Loncraine, 2014) ganha contornos de obra-prima. Seria muito pedir encarecidamente para Diane, que, afinal, na enorme querela do cancelamento de Woody Allen, sempre se posicionou a favor do amigo e ex-companheiro, fizesse ao menos mais um filme em sua companhia? Nós, seus fãs apaixonados, almejamos parar de sofrer.