“O espetáculo conta a história de três mulheres com perfis e histórias de vida bem distintas, que se encontram em uma sala virtual para uma sessão de terapia em grupo. Ao perceberem que o psicanalista não aparece, resolvem fazer a sessão sem ele. Um mergulho na psiquê das personagens e em temas contundentes como autoflagelo, TOC, cleptomania, ansiedade, depressão, compulsão em sexo, consumismo e corrupção. A narrativa tragicômica, que tem classificação etária 18 (anos), aborda temas relevantes como saúde mental, relações, ética e inteligência emocional.”
Ao ler o parágrafo da sinopse acima, pode não se esperar muito do espetáculo, além de mulheres representando os papéis já esperados. No entanto, os espectadores são surpreendidos, pois elas atuam de maneiras bem diferentes, não forçam uma barra tentando apresentar personagens estereotipadas, muito ao contrário, tudo parece bem real de tão natural. Cada uma delas construiu bem a sua personagem e o seu espaço. Exatamente por isso, a plateia virtual fica presa à tela, às atrizes, aos textos e a tudo que envolve a peça, mesmo nos novos moldes audiovisuais.
O espetáculo pertence à Mostra Sesc de Artes — Aldeias Bahia. “Alimentando as Feras” estará on-line até o dia 15 de outubro.
As atrizes Aícha Marques, Evelin Buchegger e Mariana Moreno estão bem posicionadas e de bem com a câmera. O que não se pode negar é a competência dessa realização, realizada na nova linguagem dos tempos pandêmicos, como também não se pode deixar de mencionar os nomes desse elenco e ficha técnica. Lis Schwabacher, Sama Buchegger, Tom França, Carlínio França e Marcos Povoas são os nomes que fizeram dessa obra uma das melhores durante a pandemia.
Que filmagem! Nitidez e angulação perfeitas, numa mistura de cenas não virtuais — porque tudo parece real, inclusive os cenários — tudo afinado e transformado em arte. O audiovisual está perfeito, de certo, feito pelas mãos habilidosas dos profissionais envolvidos.
Cada atriz ocupa um espaço diferente, e representa uma personalidade diferente de mulher. Isso equilibra a obra, elas são diferentes e se conectam por meio de um texto trabalhado com expertise. Problemas que envolvem mulheres e homens são expostos sobre a ótica delas. Os temas são abordados na ausência do terapeuta, numa sequência de desabafos.
Embora em espaços menores, do que habitualmente os artistas têm nos palcos, suas expressões corporais são bem apreciadas e reveladas por ângulos vistos de fora da câmera que as acompanha, são várias filmagens, que se compõe na tela, de outra tela.
As expressões faciais igualmente convincentes.
A personagem Cléo é aquela mulher de bom nível social que perde tudo, sempre com um copo de whisky em mãos, faz trocas com as demais companheiras de sessão e interpreta bem uma mulher envolvida em corrupção. Sandra é uma mulher tradicional, com sérios problemas, inclusive de automutilação. Aparentemente, Heloisa carrega problemas mais leves, mas inúmeros problemas sexuais. Os problemas relatados permeiam os universos femininos e masculinos, normalmente encobertos por vergonha, entre outros sentimentos enrustidos.
São três atrizes fantásticas e muito bem conduzidas por Sofia Federico, que assina a direção artística.
Reconhecer a grandeza de Sofia não é uma tarefa difícil, a conexão entre as atrizes faz parte de um trabalho de direção bem aguçado e competente. Os olhares das atrizes mostram essa conexão que vai além da tela e a maneira com que alcançam os espectadores está diretamente relacionada com quem as conduziu, e Sofia o fez com maturidade artística.
O texto de Aícha Marques é bem elaborado. Temas sempre em voga, pois abordam problemas facilmente encontrados — e camuflados — na sociedade. Podem acometer pessoas “comuns” com quem convivemos, e apenas estarem disfarçados. Muitos problemas psicoterápicos, comumente analisados nos consultórios, são escondidos, porque sofrem preconceitos por parte da sociedade e da própria pessoa acometida, o que torna o tratamento ainda mais complicado.
O texto tem momentos pesados, mas não seria um bom texto se a agressividade exposta em algumas palavras não fizesse parte de algumas cenas. Tudo na dose certa e necessária, evidencia a dor vivenciada pelas personagens.
ALIMENTANDO AS FERAS
On-line e gratuito
Mostra SESC de Artes — Bahia
Classificação 18 anos
Assista: https://www.youtube.com/watch?v=eksvvCXZSR0&t=34s
https://www.youtube.com/watch?v=eksvvCXZSR0&t=34s
FICHA TÉCNICA
Texto: Aícha Marques
Direção: Sofia Federico
Atrizes: Aícha Marques, Evelin Buchegger, Mariana Moreno
Assistente Direção: Ana Paula Bouzas
Direção de Produção: Milena Leão
Assistente Produção: Kaíka Alves
Direção de Arte: Renata Mota
Assistentes de Direção de Arte: Luiza Dahia e Igor Liberato
Figurino e maquiagem: Mauricio Martins
Produção de Arte: Luiza Dahia
Cenotécnico: Paulo Florêncio
Assistentes de Filmagem: Lis Schwabacher, Sama Buchegger, Tom França
Designer Gráfico: Carlínio França
Montagem, finalização e edição de som: Marcos Povoas
Assessoria Digital: Nayanna Mattos
Assessoria de imprensa: Allcance Comunicação
Realização: Aicha Marques, Evelin Buchegger , Mariana Moreno, Baú Produções e Carambola Produções