A Peste profética de Pedro Paulo Osório 

Incrivelmente profético. O espetáculo, dirigido por Vera Holtz e Guilherme Leme Garcia, estreado em 2016, foi um presságio ao que viria.

Estreado no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), passeou por alguns estados. Não poderia ser diferente, diante da grandeza da obra, que merecia e merece ser reverberada, pela magnitude da dramaturgia de Albert Camus, ganhador do Prêmio Nobel. 

O drama fala sobre uma pandemia de 1940, em uma cidade europeia, perfeito enlace e similaridade, comparando todos os aspectos, com os dias atuais. 

O ator sabiamente atravessa o presencial, ao qual está impossibilitado de fazer, então se lança no virtual e mergulha a cada espetáculo, com uma força cênica vigorosa. 

Pedro Osório, ator e idealizador da peça, avisa-nos, já no hall de entrada virtual, para atentarmos ao verbo, referindo-se ao texto. Uma narrativa de quase cinquenta minutos, irretocável, sem nenhum arranhão, simplesmente um trabalho vocal, indubitavelmente, perfeito. O ator/narrador não recorre a ferramentas existentes na plataforma Zoom, não é necessário, a potência do texto e o momento que vivenciamos, casam e nos levam ao altar.  

É de ficar embasbacado! 

O texto começa com o tropeção de um médico em um rato, e exatamente aí, o espectador já enxerga o Brasil em evidência! 

No momento em que brasileiros morrem asfixiados por falta de responsabilidade política, em uma pandemia, que já levou mais de duzentos mil mortos, percebe-se os ratos, “aqueles da piscina de Cazuza”. “Piscinas cheias de ratos, onde as ideias não correspondem aos fatos…

As expressões faciais do ator também demandam sentimentos que conhecemos bem. 

Como escolha, o objeto descrito no áudio visual, faz uma ponte daquela década ao caos de 2021, a máscara. A máscara não acolhida por um presidente, que desrespeitou desde o início as normas da Organização Mundial da Saúde.  

O drama é bem cerzido, uma obra atemporal e pelo que se pode constatar de uma força hipnótica colossal. Embora seja um solo, tem personagens ricos, bem narrados e que retratam a legitimidade dos sentimentos humanos, entremeados a catastróficos ressentimentos. 

A dramaturgia, encenada com maestria por Pedro Osório, é um soco no estômago, acredite, após o surto do coronavírus no mundo, o livro se tornou um bestseller, tanto na Europa quanto no Brasil, os leitores se voltaram para Camus. 

Tanto teatro, filosofia e literatura possuem a estética do absurdo, a linha de Ionesco e Beckett também abraça Albert Camus e sua Peste. Albert esteve no Brasil pessoalmente, foi recebido por Oswald de Andrade e agora o mundo recebe sua obra. Uma obra imprescindível para este momento, que dificilmente será apagado das memórias. 

A PESTE

Temporada até 30/1

Sábados, às 20h

Ingressos a partir de R$ 5

Classificação indicativa: 16 anos

Duração: 45 minutos

Garanta seu lugar: https://www.sympla.com.br/APESTEDECAMUS 

FICHA TÉCNICA 

Texto| Albert Camus 

Adaptação| Pedro Osório e Guilherme Leme Garcia 

Atuação e idealização | Pedro Osório 

Direção| Vera Holtz e Guilherme Leme Garcia 

Fotos Divulgação