Ernúbia é uma cantora de rádio, que com simpatia convida os espectadores a interagirem com ela, ainda que no imaginário. Ela é danada em orientar os seus ouvintes e o faz com muita delicadeza, claro!
A jornada é dividida em cinco episódios, os temas muito bem escolhidos para cada um deles.
A atriz Luísa Vianna é doce, vanguardista de um tempo que traz saudades a milhares e milhares de brasileiros. As cantoras do rádio marcaram época. Ela canta e encanta os espectadores, sedutoramente. Suas expressões faciais são simpáticas e naturais, nada forçado.
Uma filmagem competente, limpa, que desperta o público a acompanhar.
O cenário utilizado resulta em bom gosto e harmonia irretocáveis. A máquina de costura ao fundo remete a plateia virtual à Era de Ouro do rádio e dessas cantoras. A estética do audiovisual é linda e também responsável por parte de todo encantamento.
Julia Deccache foi perfeita em sua criação. Não se trata de um texto denso, nem de uma dramaturgia dramática, daquelas rebuscadas, longe disso. O texto é despreocupado, mas causa repercussão, por sua beleza, suas palavras assertivas, que chegam com maciez nesse momento catastrófico e pandêmico.
Dalva de Oliveira atravessa o texto e aquece o coração dos ouvintes, como uma lareira em fogo. “Meu amor ninguém seria mais feliz que eu, se tu voltasses a gostar de mim…”
Grande Dalva, deliciosamente Dalva, a música é executada com uma voz doce, suave, feérica.
A escolha do repertório foi a cereja do bolo. A direção musical de Guilherme Borges foi nitidamente atenta e perspicaz. Um mergulho bem executado!
Ernúbia fala de amor e solidão, interpreta canções como “Linda Flor” e “Que será”, de Dalva de Oliveira, e “Meu Mundo Caiu”, de Maysa.
— A Rádio inventamos para atravessar o tempo. É um convite para reouvirmos com atenção as canções que nos fazem chorar, ouvindo o quanto ressoam na história da nossa personagem, diz Maria Isabel, idealizadora do projeto. E acrescenta: — Ernúbia é uma alegoria, um encontro de idades num corpo vivo, querendo continuar. Uma afirmação de que, a qualquer tempo, é hora de estar viva, perto do que nos emociona.
O currículo e a experiência do diretor Caio Riscado traduzem a sua magnitude. Seu conhecimento e olhar oferecem ao público qualidade. Um espetáculo de perfeito encaixe, todo equilibrado, mostra como suas interferências foram precisas.
Inês usa um figurino contemporâneo, com toques da época dourada, relembra as canções ao final dos episódios. O microfone “Vintage” se enlaça com a voz e o olhar doce da atriz.
É uma delícia ouvi-la e estar em sua companhia, e a magia acontece, a cantora enfeitiça toda a plateia e isso fica evidente no Chat de mensagens postadas, no canal onde está hospedado o espetáculo virtual. Fica muito difícil se desconectar de Inês, tão marcante em sua imensa qualidade cênica. Os corações espectadores entendem isso, quando batem felizes ao início de mais um episódio. Esquece-la é uma tarefa impossível.
A linguagem é nova, mas os objetos de cena não, um capricho a essa viagem no tempo.
O rádio “retrô”, as luvas de poá, as cortinas floridas…
As orientações da rádio “Acordar o Tempo” são engraçadas, mas com certa razão, como a dica para “não deixar de sonhar”!
Palavras como esperança permeiam um dos episódios, fazem o espectador entender que tudo passa e vai passar. Ernúbia se despede do espectador com dificuldade, ela não sabe se despedir. E cabe a discussão, por que a despedida?
A beleza dessa obra merece voltar incontáveis vezes para embalar a todos com as canções, que até hoje reverberam tantos imaginários nostálgicos. São músicas que fazem sentido e dizem muito.
O Sesc Rio derrama um pote de açúcar no Brasil, em forma de audiovisual. Aliás, vale sempre ressaltar o quanto o Sesc tem dado imensa contribuição à Cultura e à sociedade. Os artistas puderam contar com o apoio dessa, que é uma das maiores instituições culturais do país, principalmente durante este período conturbado para a Cultura, em que os teatros precisaram fechar as portas e os artistas perderam o palco. Viva o Sesc!
Um audiovisual regado de boas vibrações. “Continuem vivos” é a mensagem final!
RÁDIO ACORDAR O TEMPO – WEBSÉRIE
On-line e gratuito
Até dia 12/7
Acesse e assista:
https://www.youtube.com/watch?v=-8ikXhZtcIk
FICHA TÉCNICA
Elenco: Luísa Vianna
Idealização, direção e roteiro: Caio Riscado e Maria Isabel Iorio
Direção de fotografia: André Hawk
Direção musical e arranjos originais: Guilherme Borges
Direção de arte, cenário e figurino: Julia Deccache
Still, Backstage, Gifs e Ensaio Fotográfico: Bléia Campos
Voz em off e canções: Luísa Vianna
Edição de som e mixagem: Mari Blue
Edição e montagem: Carinna Arantes
Finalização e correção de cor: Tuany Rocha
Técnica de Som: Yasmin Lima
Direção de produção: Luísa Vianna
Assistente de produção: Maíra Garrido