A beleza incomparável do Teatro Amazonense

“Cabelos Arrepiados” conta a história de cinco crianças que, com insônia, acreditam que seus sonhos noturnos foram “roubados”. O texto da obra foi escrito pela autora, curadora, dramaturga e diretora de artes cênicas e visuais Karen Acioly (RJ). “Observei as crianças, que são antenas do que vivemos na sociedade. Percebi que as crianças urbanas, conectadas, estão dormindo cada vez mais tarde. E me perguntei: mas por que será? Quais suas angústias? Do que sentem medo?”, questiona Karen. (Garimpo Cultural)

O que falar do espetáculo “Cabelos Arrepiados”? Que fazem parte de coletivos e ajudam o Teatro brasileiro alcançar a excelência!

A curadoria teatral minuciosa do SESC mostra a que veio, é o que se nota ao conhecer os primeiros espetáculos contemplados pelo edital Pulsar, e se continuar neste nível, não ir ao Sesc assistir aos espetáculos será um pecado!

O texto é uma delícia, fala sobre crianças e sonhos roubados. O que atualmente, diante do que a sociedade enfrenta, está cada dia mais rotineiro para os pequenos, que captam tudo que está ao seu redor e absorvem muitos sentimentos e preocupações, que normalmente seriam da vida adulta. Durante a pandemia, o vírus não as alcançou como aos adultos, no entanto, também sofreram perdas e foram atingidas diretamente no âmbito do desenvolvimento psicológico e pedagógico, sem contar o estresse do confinamento, justamente para quem precisa de espaço para se desenvolver plena e saudavelmente. Diante disso, levar uma criança para assistir a essa maravilha de obra é extremamente importante e até indispensável.

São tantas as mensagens do texto, dentre elas: a importância das crianças contarem tudo a seus pais, a união que deve haver entre irmãos, as questões ambientais, entre outras, que Karen Acioly presta um serviço à sociedade com essa obra.

Tércio Silva é o diretor, iluminador e cenógrafo do espetáculo. A iluminação é de arrancar suspiros, ele soube trazer suspense, alegria, despertar sensações nos espectadores e aguçar a curiosidade, que maravilha! As crianças ficam com os olhos vidrados no palco, hipnotizadas e os adultos também, impossível não saborear cada cena.

Quanto à direção, parece que estamos diante de bonecos, algo sobrenatural e surreal, e lógico que Tércio tem culpa nesse cartório. Tudo perfeito e não dimensionável, difícil encontrar palavras para descrever as habilidades e façanhas do artista, sua competência o transforma em um profissional rebuscado. O cenário é bem fantasmagórico, gótico mesmo, provocativo, transporta para um universo que até então só se conhecia no cinema. Incrível a percepção artística para esta montagem, deixa todos estupefatos, porque vai além do que se espera, algo alucinante, luxuoso, um sonho incrivelmente concretizado!

Maria Hagge assina os figurinos e grava seu nome na história do Teatro infantil brasileiro. Um mergulho na imensa obra do cineasta, produtor, roteirista, escritor, animador e desenhista norte-americano Tim Burton. Segundo a Wikipedia, “seus filmes sempre apresentam aspectos góticos, fantasiosos, excêntricos e sombrios”. Os brasileiros já o conhecemos bem! Obras como “Noiva Cadáver”, “Os fantasmas se divertem”, “Batman”, “Edward mãos de tesoura” entre outras tantas maravilhas. Maria foi exímia ao adentrar esse universo. Podemos ver de alguma forma e ao vivo as maravilhas de Tim! Ela soube dar beleza a esse espetáculo por meio de suas criações. Quem assiste ao espetáculo de perto, não enxerga falhas, tudo é executado com esmero. Ela soube conectar os corpos dos artistas às indumentárias, potencializando ambos. Um trabalho visceral e inesquecível!

Cleyron Diirr leva aos palcos as formas animadas, que simplesmente são um primor. Quanta imaginação e beleza! Para os fãs do filme “Os Fantasmas se divertem”, uma lembrança do Besouro Suco está lá. Aproveitando para mencionar que os artistas mostram entender tudo de teatro de animação, das técnicas necessárias. Olham para as formas animadas com devoção e leva os olhares da plateia junto. Gente, que orquestra perfeita Tércio traz! Cleyron de certo está em plenitude consigo mesmo, só pode!

A direção musical, toda criação com sons e acordes seduzem e envolvem os espectadores. A opereta é executada com profissionalismo. A maquiagem e as caracterizações, rostos brancos e olheiras fantasmagóricas estão incríveis. Branco Souza é o preparador corporal e criou performances admiráveis, um verdadeiro manjar de corpos em sincronia de movimentos.

Vamos ao elenco: Maria Hagge, Magda Loiana, Jeferson Mariano, Gabriel Fontenelle, Davi Lopes e Cleyron Diirr estão além do que qualquer crítico pode esperar. Não existe um só entre eles, que chame mais atenção, estão lineares, harmoniosos e trabalham de mãos dadas, como formigas constroem coletivamente o que é preciso. Todos extremamente profissionais, com vozes, que surpreendem a plateia, estão arrebatadores. Tenores, sopranos e tudo mais que se pode imaginar, no palco do SESC Tijuca.

Corpos perfeitos, entregues às performances de seus personagens, criam asas e submetem a plateia a viajar por universos paralelos e lugares desconhecidos. Suas expressões faciais e corporais em perfeita sintonia.

O SESC Tijuca já apresentou “Soufflé de Bodó Company de Manaus”, antes da pandemia, por intermédio do Palco Giratório, artistas talentosíssimos. E agora, Buia Teatro com um dos melhores espetáculos infantis já vistos. O estado do Amazonas é incrível, reflete arte, como vivessem mergulhados em um Teatro próprio ligado à realeza, à nobreza, sabe fazer com gosto e com maestria. Que maravilha!

Esse espetáculo também traz um manifesto político, afinal ninguém poderá esquecer a falta de oxigênio em Manaus. Exatamente por isso, o maior pesadelo aparece com a faixa presidencial e mensagens em defesa da preservação do meio ambiente!

Logo na recepção, os artistas estão dão as boas-vindas, tocando instrumentos, aliás eles tocam todo tempo, artistas completos.

Uma obra-prima manauara de valor inestimável, como a riqueza de suas matas, fauna e flora!

O Trabalho coleciona vários prêmios e participações em festivais nacionais e internacionais, além de já ter feito parte da programação infantil do Itaú Cultural São Paulo.

 

FICHA TÉCNICA

Texto: Karen Acioly

Direção: Tércio Silva

Direção Musical: Jeferson Mariano

Figurinos: Maria Hagge

Fotos de: Leo Leão.

Iluminação e Cenário: Tércio Silva

Maquiagem e caracterização: O Grupo

Formas Animadas: Cleyton Diirr

Preparação corporal: Branco Souza

Cenotécnico: Célio Roberto

Produção RJ: Wagner Uchoa

Design Gráfico: Dante

Desenho de Som: Áudio Cênico-RJ

Técnico e Operação de Luz: Orlando Schaider

Assessoria de Imprensa: Maria Fernanda Gurgel

Produção Geral: Buia Teatro Co

Realização: SESC ARRJ – Edital Sesc RJ de Cultura 2022

CABELOS ARREPIADOS

Curta temporada até 1/5

Sábados e domingos, 11 h e 16 h

SESC Tijuca (teatro 1)

Rua Barão de Mesquita, 539, Tijuca

Ingressos Grátis (PCG), R$ 2 (Credencial Plena), R$ 5 (meia entrada) e R$ 10 (inteira)

Classificação crianças acima de 7 anos