Um audiovisual carregado de beleza chamado “Em Busca de Judith”, com texto elaborado a duas mãos, faz uma imersão na história.
Quem é Judith? A avó paterna da solista Jessica Barbosa.
O espetáculo inicia-se com uma atriz negra cheia de majestade cênica. (-Isso é indiscutível).
O vídeo usa tomadas externas, tudo meticulosamente bem feito, nota-se absoluto profissionalismo na edição.
Em 2018, o duo Pedro Sá Moraes e Jessica Barbosa conheceu a Colônia Juliano Moreira, um ”hospício” fundado na metade do século XX, que retirava do convívio social pessoas tidas como “não normais”, que a sociedade queriam tornar invisíveis.
Desse cenário e história explode toda a dramaturgia.
Jessica acreditava que sua avó havia falecido em um acidente de carro, até que veio ao seu conhecimento a internação de Judith, levada compulsoriamente ao manicômio, onde viveu até sua morte. Esse silenciamento da voz feminina parece criar as mesmas asas de Pégaso na atriz, que alça um voo ferrenho e belo para quem a assiste.
Pontes são criadas e é tudo tão rico, tão cultural que fica impossível não registrar essa obra.
O lugar escolhido segue abandonado, proporciona à narrativa um cenário cru, nada que contraste com a agonia de um manicômio da época. Sem beleza, como deve ser visto e sentido.
A atriz segue contando a história de sua avó e mistura a história de Judith ao Velho Testamento Judaico e a outras referências bíblicas. As ervas que são heranças dos ancestrais, provenientes da umbanda, e movimentos corporais riquíssimos da dança africana, proporcionam um verdadeiro espetáculo ecumênico, uma proeza não usual.
Como se não bastasse a teatralidade que transborda da atriz, inserções musicais pela doce voz de Jessica, contrastam com a força que transcende de suas cenas.
As músicas são compostas por arranjos sublimes e composições primorosas de Pedro Sá Moraes, tudo harmônico, soa agradável aos ouvidos. A direção, também de Pedro Sá, mostra virtuosismo.
O figurino de Cris Rose merece uma salva de palmas, harmonioso não só com a atriz como também nas outras esferas do espetáculo, perfeita tomada de decisão, belíssimas escolhas.
Na verdade, a identidade visual é perfeita, Tutano Nômade foi sensível ao dar cores certas ao espetáculo.
A fotografia instiga questionamentos, de como é possível chegar a essa obra de excelência, em uma linguagem teatral tão nova.
É impossível mencionar todos os nomes, mas a ficha técnica apresenta um elenco primoroso de estrelas que brilham em céus escuros.
Afinal, o momento é sombrio, ainda mais com o corte de investimentos do Governo Federal nos programas de saúde mental.
Estrelas brilham para denunciar a falta de lógica do Governo, evidenciando na essência do teatro, a política.
E voltando ao texto de referências tristes e belas, a primeira delas Arthur Bispo do Rosário, levado a essa mesma colônia, considerado esquizofrênico-paranoico, ficou internado por mais de cinquenta anos e lá também passou a criar, fazer arte com objetos oriundos do lixo, que mais tarde foram classificados como arte de vanguarda. Antonin Artaud, um dos maiores diretores do Teatro Francês, sofreu com tratamentos ainda hoje duvidosos, por culpa de sua poesia e comportamentos considerados delirantes, foi submetido a eletrochoques que lhe afetaram a memória, o corpo e o pensamento.
Emocionante o trabalho e as expressões corporais da atriz diante de tudo que relata.
Contemplar Jéssica atuando causa um prazer inenarrável.
EM BUSCA DE JUDITH
Temporada até 29/3
On-line e gratuito
YouTube – https://www.youtube.com/user/canaljessicabarbosa
Classificação 12 anos
Gênero teatro canção
Duração 75 min
FICHA TÉCNICA
Idealização e Dramaturgia: Jessica Barbosa e Pedro Sá Moraes
Elenco: Jessica Barbosa
Direção Geral e Trilha Sonora Original: Pedro Sá Moraes
Supervisão Artística: Joel Pizzini
Supervisão de Direção: Fabiano Freitas
Direção de Movimento, Preparação Corporal e Assistência de Direção: Leandro Vieira
Diretor Assistente: Felipe Rodrigues
Diretor de Fotografia e Iluminação: Breno Cunha
Cenografia e Direção de Arte: Ana Rita Bueno
Cenotécnico: Ricardo Garcia Perez
Estagiário de Arte: Danilo Martins
Figurino: Cris Rose
Costura e Moulage: Juarez Souza de Oliveira
Visagismo e Maquiagem: Diego Nardes
Assistente de Visagismo e Cabelos: Lucas Souza
Direção de produção: Taís Alves
Produtora Assistente: Flavia Fontes
Controller Financeiro: Marcele Sampaio
Produtora associada: Polófilme
Produtora audiovisual: Juliana Domingos
Produtora de Set: Bárbara Kahane
Elaboração do Projeto: Pedro Sá Moraes e Taís Alves
Fotografia e Making of: Fernando Dias
Identidade Visual: Tutano Nômade
Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Assessoria – Gisele Machado & Bruno Morais
Redes Sociais: Agência LBDigital
Montagem: Alexandre Gwaz
Finalização: Pólofilme
Parcerias: Museu Bispo do Rosário, TABA, Guapoz, Epa, CCAASS e Quanta
Realização: Zingareio Produções Artísticas