2007. Esse é o número de amigos que tenho numa rede social. Então, parei para refletir essas milhares de relações. Uma rede tecida em tão pouco tempo. Resgata gente desaparecida de quem não se tem notícia, há décadas, ou sequer, se lembra o nome. Outro dilema: tentar reconhecê-las pelas fotos – parece piada – teria mesmo aquela criatura estudado, dançado, viajado (e tantos verbos no particípio passado) com você? Mas, como você sempre foi sociável e comunicativa, a pessoa narra um episódio do qual vagamente você se recorda e lá está mais um número somado a sua coleção de amigos. Isso porque você já afirmou ser seletiva. Na sua rede: só amigos que você conhece! Nada de estranhos, intrusos, ou bisbilhoteiros de plantão (até parece!).
Você quer resguardar sua privacidade e a internet já é invasiva por demais. Tão invasiva, quanto superficial. Na realidade, pode-se viver apenas de aparências e trocar ‘emotions’ infantilizados, curtir e cutucar, sentir-se incluído. Parte de algo que não é palpável e talvez nunca seja. É virtual. Amizades que um dia até podem ter feito parte do seu mundo, mas que hoje, provavelmente, nem caibam mais na sua vida. A gente muda de fase, muda de casa, às vezes até de país, envelhece, casa, separa, tem filhos (ou não os teve), casa de novo, adoece, cura, separa de novo, viaja, retorna, faz novos amigos… “o tempo não para”, certo Cazuza? A vida muda e a gente também. Muitas vezes, tanto, que nem nós mesmos nos reconhecemos.
E por que razão esses fantasmas, ressurgidos do passado, nos reconheceriam, ou nós a eles? Já é delicado mantermos relações estreitas e sólidas de amizade no mundo real. Como podemos acreditar numa amizade regada por coraçõezinhos e florzinhas enviados no dia do aniversário, ou do amigo, se nem da voz desse amigo você se lembra mais.
Ah! Que saudade sinto do tempo em que falava horas a fio, por telefone, com minhas amigas, riamos de perder o fôlego (e não eram kkkkkkks virtuais), conversávamos sem perceber o passar das horas e sem abreviar as palavras. Era amizade de verdade, de andar de mãos dadas na rua, de olhar nos olhos e saber o que a outra estava pensando, de sentir o calor de um abraço. Marcávamos de nos encontrar e não tínhamos celulares (coisa que naquele tempo, só os ‘Jetsons’ tinham!), mas mesmo sem ficar mandando zap a cada minuto, nunca falhava, os encontros eram certeiros, lá estávamos no lugar e na hora marcados… e nenhum barulho, ou música programada, interrompia o bate-papo. Não parecíamos ter dislexia quando conversávamos com alguém, porque não dividíamos a atenção com mais nada, senão com a própria pessoa que estivesse ali conosco. A troca era real, téte a téte, olho no olho. Sabíamos degustar cada momento da vida, aproveitando cada instante. Creio que por isso, temos tantas boas recordações.
Naquela época, não poderíamos nos imaginar sentadas num grupo de amigas, frente a frente, cada qual com seu aparelho celular ultramoderno, teclando sem parar, com a cara enfiada na telinha, sem piscar, completamente hipnotizadas, absorvidas, apenas porque sente uma absurda necessidade de responder imediatamente as mensagens dos cinquenta grupos ou mais, do qual faz parte. Alguns dos quais, nem sabe bem do que se trata, mas conhece um ou outro indivíduo, então, não quer sair, para não parecer antissocial. Sendo assim, parte da sua vida, apita daquele aparelho. Um aparelho que domina você quase completamente. Você não vive mais sem ele, vai ao curso com ele, vai à rua com ele, vai ao banheiro com ele, vai para a cama com ele, vai ao cinema com ele (infortúnio de quem sentar ao seu lado e ficar extremamente incomodado com a luz da tela acesa, até que você termine de checar todas as mensagens, antes do filme começar, e finalmente, coloque no vibrar). Se um momento não for registrado numa selfie, provavelmente ele não aconteceu. E se você o perde, lá se foi toda sua vida, você se desespera, perde seus contatos, sua agenda, suas fotos, seus grupos e ninguém mais acha você. Você deixa de existir.
Neste mundo que estamos criando e permitindo que seja o mundo de nossos filhos, não há espaço para pessoas comuns. Seres humanos desconectados não existem.
E se pararmos para pensar, estamos permitindo que as relações fiquem também, cada vez mais virtuais, e conectadas apenas por meios tecnológicos, dentro da frieza das telas. Nós não somos como as máquinas, somos de carne e osso, precisamos tocar, abraçar, beijar, sentir o perfume, respirar o mesmo ar, gargalhar de verdade, ouvir a voz do outro, olhar nos olhos. Perdemos mais tempo olhando para telas do que vivendo e olhando para as pessoas. Desliguem os celulares e brinquem mais com seus filhos. Leiam mais, inclusive para eles. Em vez de mandar um zap para sua amiga, se ela é mesmo sua amiga, toque a campainha da casa dela, ela vai se emocionar em ver você. Ligue para as pessoas que você ama, não só diga que as ama pelo Facebook para que os outros vejam, diga a elas, pessoalmente. Para e pensa, temos tempo para retomar a nossa vida de volta. E ter perto os amigos que realmente nos importam. Diferente do Roberto, não faço a mínima questão de ter um milhão de amigos. Dos meus 2007, os verdadeiros, conto nos dedos de minhas mãos.