O voo suave que só um passarinho entende

A pandemia foi um castigo para todos os brasileiros e para a classe artística, que depende de público e sofreu com sua ausência, mas o sol voltou a raiar e com ele, a liberdade de se viver em comunhão com o próximo, de respirar sem medo e de voltar a sonhar! Assim também acontece com os artistas e com o Teatro, que voltaram a sonhar!

“O que só passarinho entende é um monólogo escrito e produzido pela autora carioca Agatha Duarte, protagonizado pelo ator pernambucano Samuel Paes de Luna, que conta a história de uma personagem, que vive no Vale do Jequitinhonha, no interior do Estado de Minas Gerais, a narrativa mescla memórias de sua própria história em sua terra natal, Limoeiro. O espetáculo apresenta de maneira lúdica e poética a singularidade de uma mulher que, apesar de marcada pelas intempéries da vida, carrega a convicção de que o real valor e a beleza de sua existência estão no conhecimento empírico, diretamente ligado à natureza.” (Sinopse)

O espetáculo vem carregado de simplicidade, e ao mesmo tempo de beleza. O artista Samuel Paes vive Totonha, a protagonista. Ele apresenta ao espectador uma mulher de idade avançada, simpática e doce, na verdade, encantadora. As expressões corporais são riquíssimas, pois Samuel encurva-se durante todo o espetáculo e o desenvolve nessa pegada, trazendo verdade o tempo inteiro. Samuel tem um trabalho de corpo fantástico, que vale a pena ser assistido. Vale mencionar que o ator foi aluno da escola de Teatro Martins Penna. Espaço esse, abandonado pelo Estado, luta para sobreviver, o que é um descaso com a arte, com os artistas e com a Cultura do país, um absurdo sem igual!

“A Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna é uma escola centenária de Artes – a primeira escola pública de Teatro do Brasil, fundada em 1908. Entre seus espaços formaram-se importantes nomes da Cultura e da Performance nacional como, a título de exemplo, Procópio Ferreira, Tereza Rachel, Joana Fomm, Denise Fraga, dentre outros nomes.” (site da escola).

A cenografia, concebida pelo artista Thiago Becker, traz a verdade de Totonha, está tudo tão belo e tão mágico… Thiago usou a dosagem lúdica certa no espetáculo. Os tons vão do ocre ao nude. A palha, os fios de algodão, o tecido cru, as folhas secas e outros elementos foram bem escolhidos para sua composição. A iluminação também é um ponto forte da obra, Thiago também é responsável por ela, que completa o cenário.

O responsável pela trilha sonora é Rodrigo Fronza, músicas autorais, uma beleza, quem tem a escuta apurada perceberá a grandeza de suas concepções artísticas.

Thiago e Samuel são da Cia. Artística Cobaia Cênica sediada em Santa Catarina. Estiveram no SESC Copacabana, antes da pandemia, com o espetáculo Benjamim, um palhaço que conta a sua história. E mais uma vez, transformam o acanhado e o simples em magia. A história do palhaço Benjamim é um transbordo de arte! Fez a plateia se derreter em lágrima e risos. Artistas envoltos em bom gosto e emoção. Não é à toa que a companhia é comumente indicada a premiações.

O espetáculo “O que só o passarinho entende” esteve no teatro Cesgranrio, mas foi interrompido durante o isolamento social, para que todos ficassem em casa e se protegesse do vírus, que levou quase 700 mil brasileiros.

A jovem e premiada dramaturga Agatha Duarte premiada por suas excelentes performances textuais.

“O que só passarinho entende” é uma obra inesquecível que, por intermédio dos objetos de cena, cria um elo com a plateia. Segundo o respeitado crítico teatral Gilberto Bartolo, “Um espetáculo teatral de rara beleza e poesia”. Após assistir à performance fica impossível não concordar com suas palavras.

O sertão mineiro anteriormente apresentado pelo imenso Guimarães Rosa, em “Grande Sertão Veredas” e também pelo literário Marcelino Freire, em “Contos Negreiros”, livro vencedor do Prêmio Jabuti. O literário, que nasceu em Recife, desenhou Totonha, personagem que faz parte dessa coletânea premiada. Tem coisa mais bonita? A geografia do rio mesmo seco, mesmo esculhambado? O risco da poeira? O pó da água? O que fazer com essa cartilha? Número?

A Cia. Cobaia Cênica e Ágatha Duarte construíram um espetáculo macio, aveludado, rico em poesia e verdade. O desfecho do espetáculo conta com uma obra de arte esculpida por madeira, ferro e muito sonho… obra de Edolino Sabino, conhecido como Seu Neza. Sua arte carrega o sonho de Totonha e o sonho de todos os espectadores do sempre surpreendente Teatro brasileiro.

O QUE SÓ PASSARINHO ENTENDE

Curta temporada de 28 a 30/10

Teatro Armando Gonzaga Avenida General Osvaldo Cordeiro de Farias, 51, Marechal Hermes

Sexta e Sábado às 20h e domingo às 19h

Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia)

Informações: (21) 2332-1040

Duração: 75 minutos

Classificação: 12 anos

Curta temporada de 4 a 6/11

Teatro Firjan SESI Caxias

Rua Artur Neiva, Circular, Duque de Caxias

Sexta às 19h, sábado às 20h e domingo às 19h

Ingressos R$ 20 e R$ 10 (meia)

Informações: 0800 023 1231

Duração: 75 minutos

Classificação: 12 anos

FICHA TÉCNICA

Dramaturgia: Agatha Duarte

Conto Totonha: Marcelino Freire

Direção: Thiago Becker

Atuação: Samuel Paes de Luna

Cenografia: Thiago Becker

Cenotécnico: Edolino Neza Sabino

Figurino: Cissa Guerra

Trilha: Rodrigo Fronza

Produção: Cia Cobaia Cênica

Fotos: Andrea Rego Barros