Impossível não passar por essa coluna a montagem “Ponto a Ponto”! Trata-se de uma obra atemporal. Falar de avó é prazeroso, são presentes que a vida dá. Elas sempre são complacentes e até, de certa forma, carentes em dar amor.
As avós são responsáveis por tanto afeto, algumas são exemplos a serem seguidos. Carinhosas e dispostas a sempre oferecer o melhor da vida aos netos, avós tem cheiro de bolo, são a maior demonstração de ternura que há no mundo.
As avós modernas, dos dias atuais, também atuam como mães e ajudam na criação dos netos, assumem inúmeros cuidados e obrigações pelos pais, são pilares na educação deles, já que a maioria dos pais precisa desse suporte para trabalhar. Elas cuidam para que atenção e afeto de mãe “em dobro” não lhes faltem.
Aos finais de semana, elas normalmente também estão presentes, assim era no passado e assim algumas famílias mantém a tradição: domingo é dia de almoço na casa da vovó, com mesas fartas e recheadas das gostosuras e quitutes, que só elas sabem preparar. Casa de vó tem estilo, sempre algo retrô define a decoração.
A foto de algum falecido, um disco antigo, as louçarias de família, que foram presentes de casamento, as memórias espalhadas pelos quatro cantos da casa. Avó são registros inesquecíveis, que todos levam no coração, levam para vida, sorte daqueles que as tiveram e as têm. Avós deviam viver para sempre! (de algum modo, vivem!)
A peça era o que eu esperava do artista Luiz Fernando Guimarães, ele construiu uma avó mais contemporânea, mas que ainda usa as páginas amarelas e veste aquelas camisolas longas, bordadas, de tecido leve, como as avós de antigamente. Luiz Fernando não veio caricato, não recriou uma avó estilo Rita Lee de cabelos laranja e pinta de garota, ao contrário, ele encarnou uma mulher com mais de oitenta anos, dentro dos padrões atuais.
Não usou uma voz feminina, ao contrário, trabalho tudo com muito equilíbrio. Mesmo quando esquecia a dentadura, ou quando tinha dificuldades de abrir a porta! O artista dá um show cênico. Não é piegas ao retratar a velhice!
Construiu um personagem no estilo da maioria das avós contemporâneas, que mora sozinha, tem a memória frágil, o que para a idade pode ser normal, mas uma senhora alerta e generosa. A plateia se diverte e ri com um texto nada raso, que também é atual e inteligente.
A plateia fica tão atenta ao texto, que quando acaba, fica perdida, pois ele realmente envolve, resgata memórias afetivas, a maioria, em algum gatilho do texto, viaja com os artistas no palco e para um tempo muito além do agora.
O neto, vivido por Bruno Gissoni, assume com graça seu papel. É bem o estilo neto montanhista adorável, ainda que meio desligado. Trata a avó de forma diferente, quando passa na casa da avó Vera, percebe-se a estranheza, mas depois, aos poucos, como uma cebola, as camadas vão desnudando, é bonito de se ver. Pois a relação toma forma. O ator está bem ensaiado, leva o texto com responsabilidade, com uma voz perfeita, perfeitamente adequado ao papel. Nada forçado também, nada mesmo. Ele, naturalmente e vagarosamente, torna-se um querido para avó e para os espectadores. Um neto, “meio doidinho”, mas que por meio do respeito recíproco acaba conquistando a avó.
Ainda mais quando a leva para o sofá, para “curtir uma onda”, e assim segredos guardados por Vera são revelados. Quem não gostaria de ter um neto desse?
Renata Ricci assume dois papéis, o da ex-namorada do neto e também de uma “peguete”. A ex-namorada é legal, a “pegue-te” simplesmente vem com o melhor clichê do mundo. A plateia se entrega à atriz, e como não se entregar? Ela sabe bem utilizar o clichê a seu favor e brinca com isso. Soube brincar com o texto e com a entonação de voz! Foi fantástica! Coadjuvante merecedora de uma salva de palmas!
Figurino e cenografia estão além do que se espera. Ao entramos no belíssimo teatro Copacabana Palace, lá está a casa de Vera. Minuciosamente criada, em detalhes. Absurdamente perfeita. Faltam palavras para descrever a criatividade e o bom gosto de Natália Lana, que por sua vez, não sai da coluna, tem cadeira cativa por aqui, graças ao desempenho de seus trabalhos, sempre mágica, sublime, com mãos responsáveis por façanhas extraordinárias! A figurinista Graziela Bastos atende a olhares ávidos. Os figurinos estão casados não só com os personagens, mas com o tempo e com o texto, incrível sua façanha.
Um profissional plugado na vida, soube trazer a realidade para o palco. A direção é glamourosa, já que tudo está de acordo, o olhar da direção merece reconhecimento, pois nada acontece sem o ouvir e o agir de um diretor artístico.
A iluminação não poderia não ser mencionada, porque faz tempo que o quesito não chama tanto a atenção. O desenho de luz acompanhou as horas do dia, com esmero, brinca com o amanhecer e o anoitecer de forma delicada e assertiva. A luz é de uma excelência geralmente assistida em espetáculos de grandes produções! Maneco Quinderé é seu nome!
Viva o teatro, viva a família, viva nossas histórias, pois é exatamente o que se vê nessa montagem, o espetáculo da vida, da vida de todos nós!
EQUIPE TÉCNICA
Elenco Principal: Luiz Fernando Guimarães, Renata Ricci e Bruno Gissoni
Equipe Criativa:
Texto: Amy Herzog
Direção Geral: Gustavo Barchilon
Cenário: Natália Lana
Figurino: Graziela Bastos
Design de Som: Gabriel Angelo
Desenho de Luz: Maneco Quinderé
Visagismo: Feliciano San Roman e Dhiego Durso
Assistente de Direção: Guilherme Logullo
Diretora Residente: Lana Rhodes
Estagiária de Direção: Isabel Castelo Branco
Tradução: Andres Santos e José Paulo Fiks
Roteiro adaptado: Gustavo Barchilon
Diretor de Palco: Carlos Tiburcio
Contra Regra: Marcos Santiago
Microfonista: Adriana Lima
Operador de Som: Bernardo Nadal
Operador de Luz: Paulo Ignácio
Chefe Camarim: Alyzandra Pessanha
Estagiária de Camarim: Karin Freitas
Peruqueira: Raquel Reis
Cenógrafa Assistente: Marieta Spada
Cenotécnico: André Salles
Assistente de Adereço: Kadu Lobato
Tratamento Imagem: Barbara Lana
Costura de Cenário: Silviana Duarte
Assistente de Figurino: Malu Guimarães
Costureira: Zezé Nogueira
Equipe Produção:
Diretor de Produção: Thiago Hofman
Produção Executiva: Graziele Saraiva
Produção Local: Gheu Tibério
Assistente Produção: Leandro Leal e Renata Stilben
Estagiária Produção: Juliana Brigido
Coordenação Financeira: Thamilles França
Coordenação de Projeto/Jurídico: Natália Egler
Equipe Comunicação e MKT:
Assessoria de Imprensa: Trigo Press
Assistente Comunicação: Renata Ramos
Gestão de Marketing: R+Marketing
Marketing Cultural: Thiago Hofman / Rodrigo Medeiros / Gheu Tibério
Fotógrafo: Caio Galucci
Direção de Arte: Edu Juffer
PONTO A PONTO
Teatro Copacabana Palace
Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 291, Copacabana
Temporada até 10/7
Quinta, sexta e sábado, às 20h30 e domingo, às 19h
Ingressos a partir de R$ 35 (meia)
Plateia R$ 100 e R$ 50 (meia)
Camarote R$ 100 e R$ 50 (meia)
Frisa R$ 80 e R$ 40 (meia)
Balcão R$ 70 e R$ 35 (meia)
Descontos clientes Porto Seguro 20%
Vendas pela plataforma www.sympla.com.br
Vendas na bilheteria do teatro 2 horas antes de cada sessão de quinta a domingo.
Duração 70 minutos
Classificação 14 anos