Enquanto, pensava um tema para esta crônica, recebi a notícia da morte de um primo. Ele já não estava bem há um tempo e, infelizmente, teve uma parada cardíaca. Imediatamente, todos se lembraram dele, em postagens nas redes sociais, sempre citando sua alegria e bom humor. Até mesmo os parentes distantes. Por que algumas pessoas só dão valor quando alguém parte? Porque é mais fácil amar quem está longe.
Como diz meu guru Xico Sá “a convivência é o Cavalo de Tróia do amor”. Pois é. A proximidade traz a galope os defeitos, vícios, cargas. Com certa distância é tudo trote e cavalgada. Só alegria e vento na crina. Distância aproxima. Proximidade afasta.
Um amigo, ainda isolado por conta da pandemia de Covid-19, me disse que esse tempo longe das pessoas de seu convívio fez com que ele passasse a enxergar essa gente toda com outros olhos. Alguns, ele passou a querer ver ainda mais de perto. Outros, ele não quer enxergar nem de telescópio.
Esse amigo me propôs esse exercício. Tentar olhar com certa altura social, pessoas do chão do meu cotidiano. Ficar um tempo pensando, analisando o ser e alienando o que sei e sinto sobre o sujeito que está sendo objeto direto do meu experimento. Constatei que estou cercado de gente maravilhosa. Foi bem interessante olhar pessoas como meus pais, por exemplo, como pessoas e não como meus pais. Eles são incríveis. Como pais e como pessoas.
Outro amigo, esse morando fora do Brasil, também falou algo do tipo, certa vez. Disse que a distância fez com que ele tivesse certas percepções de certos alguéns. Muito além da saudade e seu charme brasileiro. Por alguns, ele sentiu indiferença, que é o desprezo elevado à máxima potência. Um desprezar galáctico, daqueles que só com satélite, lupa ou paradoxo, você pode enxergar o alvo.
Para citar outro guru que sempre tenho por perto, vou fechar citando Millôr Fernandes, o do Méier, que nem é tão longe de onde escrevo agora. “Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos bem”. Igualmente reverenciáveis são as que conhecemos a fundo e conseguimos olhá-las com distância, pois a vista embaça quando se está perto demais.