Abro esta crônica como quem abre um bar. Com a certeza da importância dessas pessoas que levantam as portas de todas as percepções para nós, desabitados bebedores, dos mais boêmios aos mais de leve. Os donos e donas de bares são os balcões onde a existência é servida em porções.
As confusões estão sempre no cardápio. Gostemos ou não, as brigas acontecem. Há vezes que a vida só acontece na luta. Como dizem os teóricos da sétima arte: não se faz cinema sem conflito. A vida imita a arte. E o dono do bar está lá, assistindo tudo e todos, na paz de um pastelão. No meio do climax, chega e corta. Fim. Tranquilidade é negação. Em meio às garrafas cheias, nada, nada. “Dono de bar de verdade não bebe”, dizem. “Até bebe, mas não vicia”, completam. Desce mais. Todo mundo virando, virado e os donos e donas, quando muito, só de biquinho nos copos, leves como um beija-flor.
Todo balcão é um pouco divã. Serve para as mesas de bares também. Para que levar problema para casa se podemos deixá-los no bar? Haja ouvido para os proprietários desses estabelecimentos. Vale lembrar que estou falando de bares de verdade, que no Rio de Janeiro são chamados de boteco. Por aqui, muitas vezes, bar é o nome que dão para restaurantes. Que ressaca indigesta.
Quando alguém se abre para você, o mínimo a ser feito é não se fechar e responder. Quem fala muito quer ouvir. Nessas horas, os donos de bares são mais que psicólogos, porque não têm ética médica e respondem, na lata, o que acham do caso, dão altas. Altíssimas ideias.
São muitas as situações que engrossam o caldo do quilate dos donos e donas de bares. Caixas e caixas cheias de confirmação. Paredes de certezas. Em outra crônica, disse que queria ter a sorte de um chofer de caminhão. Agora afirmo que desejo e invejo a plenitude de um dono de bar. Tomo tudo para mim.