O teatro de palavras é simplesmente arrebatador!
Denise Stoklos apresenta um espetáculo, incrivelmente narrado, com uma performance perfeita!
Obviamente não atingirá a todos, nem todos têm a eficiência de entendimento.
Às vezes, nem é só questão de ineficiência de entendimento, mas também de aceitação a diversos temas. A não aceitação de alguns fatos, virou moda.
Hoje, ladeira abaixo, a Ciência perde a soberania para muitos, uma teimosia impensada, sem argumentos, longe da do Sísifo, porque esse ao menos pensava, buscava um sentido em tudo.
Denise Stoklos dirige, executa e adapta seus textos com maestria.
Ela não é nada menos do que se pode esperar de uma das maiores atrizes cênicas do Brasil. Respeitada e admirada pelos amantes do Teatro, por mérito.
A sua execução é tão eloquente, que fascina o espectador. Não se trata somente de um audiovisual, mas de um presente, oferecido a todos pelo Sesc!
Dizem ser uma leitura performática, mas paira uma dúvida, porque não é possível que seja somente uma leitura. As mensagens não são implícitas, nada subjetivas. É o teatro nada apolítico. Afinal, no Teatro político, redundância é uma das maiores respostas já obtidas no próprio Teatro e a mais coerente!
A crítica deveria ser sobre a dramaturgia, palavra por palavra, pois há uma potência nada dimensionável. Digna de imensas obras, uma montagem genuinamente teatral, abre-se mão de figurinos, cenários e iluminação, parece adentrar a “Era do Teatro Essencial”.
São palavras que vão se moldando em explicações latentes, com argumentos cabíveis a todos que a assistem.
A explicação de Medeia é um manjar, a voz da atriz ecoa, onde o mito é somente a intenção de provocar análises, enquanto a nossa Medeia é real, é assassina, é de carne e osso.
Que olhar espectadores, que olhar… Cada palavra tem sua importância na voz dessa atriz. É apaixonante a sua utopia.
Uma aula é dada por intermédio dessa “leitura”, na somatização de alguns dos seus espetáculos.
Professora em Nova Iorque, do seu teatro essencial. Sua identidade é bruta, forte, por razões óbvias, teorias próprias, muito aplicáveis, porque são inteligentes e racionais, basta assistir para compreender. Trabalhou com diretores imensos como Antunes Filho, Antônio Abujamra, Luis Antônio Martinez Corrêa e Fauzi Arap. Estabeleceu-se dentro e fora do Brasil, traduzindo o teatro para todo entendimento.
Denise é um monstro sagrado do Teatro brasileiro, essas palavras não têm a intenção de dar holofotes a este espaço, mas pretende sim, trazer ao conhecimento público e fazer reverberar o reconhecimento a uma mulher que defende a humanidade, defende Kafka, Pina Baush, defende Medeia e faz dela uma oportunidade para mudanças.
Por meio de Denise é possível entender “As Palavras Gestuais” , porque elas são gesticuladas, paridas com o sopro de vida da atriz, numa intelectualidade acima da média.
Durante a pandemia também emprestou seu talento a outro espetáculo, ao lado da dramaturga Dione Carlos, contra as mazelas que assolam o Brasil. Da a sensação de que Denise fala com cada espectador, com suas parábolas não bíblicas, numa dimensão nada insana.
Denise fecha a obra e se despede divinamente, entendendo que o Teatro agora também é virtual e que a ela coube não fugir da nova linguagem, viu a importância da mesma em sua comunicação, sendo gigantesca, uma das melhores já vistas.
Denise fez sua história, na história do teatro brasileiro e nesse momento, já sangrando, respirou fundo e persistiu, frente a mesma sociedade que a apedreja. Abrem-se as cortinas, ela faz chorar, sorrir e sentir. Denise faz cada espectador entender o quanto a arte é firme, sólida como uma rocha, que o mistério da apresentação artística é mera filosofia, que chega a cada espectador, independentemente de onde possa estar. EVOÉ!
Obrigada ao Sesc e obrigada à Denise Stoklos, essa parede era para ser intransponível, a biologia de certa forma afasta, mas a escuta permanece viva e mais uma vez, o aprendizado acontece, permitindo a todos tornarem-se mais humanos. viva o teatro!
Teatro de palavras?
“A peça apresenta caminhos de progressos deste tipo de Teatro, marcando cinquenta e dois anos de atividade teatral ininterrupta de Denise que, aos 70 anos, tem um repertório de mais de quinze solos escritos, traduzidos e adaptados por ela, como “Casa”, “Desobediência Civil” e “Carta ao Pai”.”
AS PALAVRAS GESTUAIS
On-line e gratuito
Classificação 14 anos
Assista: https://www.youtube.com/watch?v=-yklwb-X4Og&t=897s
FICHA TÉCNICA
Direção, dramaturgia, leitura e adaptações: Denise Stoklos
Assistente: Vanessa Matos
Fotos: Leekyung Kim
Produtor: Luís Henrique Daltrozo (Luque)
Produção: Daltrozo Produções