Ainda que a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna tenha sido taxativa na fala do Barão de Coubertin, que reverberou na Grécia, em alto e bom tom, a famigerada frase que transcreverei a seguir, como justificativa para a proibição da participação de mulheres no evento, as mulheres insistiram, persistiram e se mantiveram na luta pelo direito de participação e contribuição com este evento.
“Nada se aprende vendo-as agir; e assim os que se reúnem para vê-las obedecem preocupações de outra espécie (…) Talvez as mulheres compreenderão logo que esta tentativa não é proveitosa nem para seu encanto nem mesmo para sua saúde. De outro lado, entretanto, não deixa de ser interessante que a mulher possa tomar parte, em proporção bem grande, nos prazeres esportivos do seu marido e que a mãe possa dirigir inteligentemente a educação física de seus filhos”, disse Pierre de Frédy, o supracitado Barão.
Na qualidade de mulher brasileira, se eu pudesse lhe responderia dizendo que muito se aprende nos observando agir e não somente no esporte, porque hoje somos muitas, somos fortes, competentes, capazes, engenheiras, astronautas, professoras, médicas, cientistas, artistas, executivas, empreendedoras, e tudo o mais que quisermos ser, apesar de ainda esbarrarmos com pensamentos retrógrados por aí.
Não, não compreenderemos que esporte não é proveitoso para nossa beleza, para o nosso charme, combinaremos seis premiações da FIFA como melhor jogadora de futebol do mundo com campanhas de batons de longa duração, só pra ratificar nosso “encanto”.
Quanto a nossa saúde? Irá cada vez melhor regada ao esporte, aliás, comprovadamente as academias serão sempre recheadas de mulheres e nós iremos invadir as quadras, os ringues, os autódromos, os campos de futebol e os octógonos, da Esgrima à Natação, passando pelo Surf e pelo Skate. Nessas duas modalidades então, já estamos entrando pela porta da frente e com louvor viu Barão?
Quanto a tomar parte em proporção bem grande, sinto muito lhe informar, mas de um ano e meio para cá, um bichinho bem minúsculo, invisível a olhos nus, que paralisou o mundo, isolou homens e mulheres, ricos e pobres, fortes e fracos e dizimou, indiscriminadamente, a todos, só para provar que não há espaço para superioridades por aqui nesse mundinho… A propósito por conta dele, muito provavelmente, nem os residentes do Japão poderão se fazer presentes nos estádios durante as competições, turistas, nem pensar… Apesar dos investimentos, apesar da resistência em cancelar, ou adiar as Olimpíadas no ano passado, o Coronavírus veio e mostrou que com ele não tem conversa.
E as mulheres seguem apesar de tudo Barão, cuidando dos filhos desfrutando dos prazeres esportivos dos maridos de igual para igual, disputando, ou assistindo, se assim desejarem. Continuam não somente dirigindo inteligentemente a educação física de seus filhos, porque em tempos de pandemia muitas delas tiveram que acompanhar de perto o ensino remoto, assessorando praticamente a totalidade das disciplinas. A propósito, não menos inteligentemente, a primeira cientista a mapear o código genético do Coronavírus foi uma mulher, está bom para o senhor Barão?
E é por isso, que apesar dos pesares, somos nada mais nada menos, mais de cento e cinquenta mulheres brasileiras chegando a Tokyo para esta nova edição olímpica. Uma pena o senhor não estar presente!