“Romeu disse à Julieta:
— Você tem uma pele ruim! Não dá a sua aparência um toque muito jovem.
Julieta disse de volta a Romeu:
— Por que você simplesmente não vai embora, se isso te incomoda tanto?”
(Bob Dylan, ganhador do Prêmio Nobel de 2016)
Contemporaneidade resume o texto do dramaturgo Gustavo Pinheiro nesse espetáculo. Uma perspicácia que seduz letrados e outros nem tão letrados, o que é determinante em um texto teatral, afinal o Brasil não é lá um grande exemplo de ferozes leitores, leitores são minoria.
Essa linguagem aproxima espectadores e, geralmente, reverbera com maior potência e satisfação. O texto ratifica esse dramaturgo, que caminha a passo largos ao posto de tornar-se um dos maiores dramaturgos da atualidade. Os amantes de Teatro já sabem que Gustavo sempre apresenta obras significativas e que aborda temas atuais com destreza, mesmo quando encara de frente o rebuscado Shakespeare.
São obras, que participam, inclusive, de amostras internacionais, tamanha façanha de seus escritos.
A atriz Julia Rabello, no que lhe concerne, mostra a que veio, mesmo diante do contexto “Shakespeariano” brinca e borda com perfeita execução cênica. Uma sensação de frescor, sutileza e simpatia faz reverberar.
Um rico figurino rico transporta à estimada Julieta de 2020, com olhar ao novo século, atual, moderna, nem por isso menos feminina, uma delícia de apreciar!
Uma atuação inteligente e também educativa, afinal o uso de máscaras ainda se faz necessário. Viva o Teatro, que mais uma vez, se coloca ao lado da vida!
Na historinha do príncipe, a “gripezinha” é mencionada, afinal, fábulas bobinhas presidenciais também são contadas nessa narrativa. Que texto primoroso, delícia de atuação e filmagem.
Óbvio que o espetáculo não agradará a todos, pelo estilo cômico de um dos maiores dramaturgos de todos os tempos. Mas, afinal, em que tempo estamos? Até onde cabe fingir o clássico amor, idealizado e romantizado, sem desnudar a realidade que cerca as mulheres e as relações tóxicas?
Acordem Julietas, Rosalinas, Mércias! Tantas, entre tantas vítimas de disfunções diversas e de relacionamentos adoecidos. Para quem achou o texto raso, não soube ler as entrelinhas, nem ter a percepção do lado mais vulnerável da relação. O texto não é em nada raso e vem desvendar a realidade que cerca milhares e milhares de mulheres no mundo.
O mundo está em constante transformação e em pleno século XXI ainda é preciso gritar que a Terra não é plana!
Julia Rabelo faz parte dessa geração de humoristas não banais, mas com narrativas provocadoras, analíticas e muito inteligentes, o trabalho desempenhado por ela é irretocável. Ela está a vontade com sua linguagem jovem e atual, apropriada à intenção.
Fernando Philbert carrega em seu currículo espetáculos potentes e verdadeiros. Sabe conduzir, com elegância, o elenco com o qual trabalha, percebe-se o quanto respeita a essência do artista e dá a liberdade necessária, para compor espetáculos apreciáveis.
O audiovisual atende às expectativas, em relação à qualidade do teatro filmado.
E o Teatro resiste de pé, corajosamente!
Parabéns aos envolvidos, um espetáculo que vem trajando uma roupagem de honra, o mesmo espetáculo de Ionesco, de Bertold, de Antonin, de Molière… o Teatro político!
Foto Cristina Granato
ROMEU & JULIETA (E ROSALINA)
Teatro On-line
Únicas apresentações: 12 e 13/6
Sábado e domingo, às 20h
Duração 50 minutos
Classificação 14 anos
Ingressos: a partir de R$ 20
Compre pela plataforma Sympla
Acesse: https://www.sympla.com.br/romeu-e-julieta-e-rosalina__1242813
FICHA TÉCNICA
Elenco: Júlia Rabelo
Texto: Gustavo Pinheiro
Direção: Fernando Philbert
Luz: Vilmar Olos
Cenário: Natalia Lana