A pandemia chegou ao Brasil e obrigou a todos o isolamento social, com isso, vários setores da economia tiveram perdas incalculáveis, inclusive o setor cultural. O setor luta para manter-se vivo, com o auxílio dos profissionais da área, combatentes e incansáveis. Alguns desses profissionais são curadores e durante esse período, mostraram-se extremamente competentes ao trazerem aos festivais virtuais, primorosos espetáculos.
O IX Festival de Piauí foi assertivo em suas escolhas, uma deliciosa surpresa àqueles que apreciam clássicos nas artes cênicas, prova disso é o espetáculo gaúcho “De La Mancha: O Cavaleiro Trapalhão” da Rococó Produções Artísticas e Culturais, uma montagem livremente inspirada na obra de Cervantes, “Dom Quixote” e deixar de registrá-lo na coluna Plateia seria um sacrilégio.
O espetáculo permeia entre o universo infantil e o adulto. Com grandiosa percepção, a adaptação de Guilherme Ferrêra, é levíssima e divertidíssima. Não faltou criatividade, o audiovisual parece não ter limites e os profissionais esbanjam maturidade cênica.
Cores e alegria atravessam todo o espetáculo, que merecidamente recebeu 9 indicações e conquistou 7 prêmios, em festivais nacionais de Teatro. A beleza do espetáculo é infindável. Os atores Guilherme Ferrêra e Henrique Gonçalves parecem ultrapassar os limites de seus ofícios, pois executam a obra com vigor, dinamismo e diversão. São artistas, que certamente seriam fortemente abraçados por Cervantes.
As partituras corporais são imensas, o texto parece estar fincado na alma de cada um deles. A equipe soube executar o audiovisual, está irretocável. As caracterizações foram tão bem elaboradas, que se descuidar, o público se abstrai do espetáculo como um todo. Os figurinos ultrapassam à margem do bom e se aproximam com legitimidade da perfeição.
Iluminação perfeita, vídeos preparados para o espetáculo com graça. Sábias e competentes mãos se uniram e trouxeram à sociedade, com leveza, uma das maiores literaturas do mundo. Com uma linguagem simples e acessível ao entendimento de todos, apresentam a literatura do século XVII. Rompem com a ideia errônea de que seja um teatro elitizado, sem abrir mão de uma estética riquíssima em todos os sentidos. Salvas a esse olhar tão preciso, afinal o teatro deve ser para todos!
A trilha sonora é adequada ao espetáculo. O cavalo de Dom Quixote é apresentado por meio da corporeidade animal, na construção do corpo artístico.
A amada do protagonista, Dulcinéia del Toboso, promove um dos momentos mais inesperados do espetáculo. Maravilha cênica é como se resume essa primorosa obra.
Texto, figurino, som, filmagem, iluminação, trilha sonora, dramaturgia e artistas, que juntos, desencadeiam um turbilhão de emoções na plateia. A atualidade entranha nesse clássico sem receio. E evidentemente, nunca apolítico como o teatro é e deve ser. Que viva para todo o sempre “De La Mancha: O Cavaleiro Trapalhão”!
Parabéns ao festival que trouxe ao público um espetáculo tão fantástico!
DE LA MANCHA: O CAVALEIRO TRAPALHÃO
On-line e gratuito
Classificação Livre
Duração 45 minutos
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=IVzi9ilEheQ
FICHA TÉCNICA
Adaptação e direção: Guilherme Ferrêra
Elenco: Guilherme Ferrêra e Henrique Gonçalves
Trilha sonora original: Pedro Borghetti e Guilherme Ceron
Produção musical: Guilherme Ceron | Toca do Graxaim
Provocação coreográfica: João Raphael de Paula
Iluminação: Roger Santos
Sonoplastia: Vinicius Soares
Figurino: Lúcia Machado
Maquiagem: Suzana Machado
Cenografia: Rococó produções
Adereços de arame: Jairo Teixeira Artesão
Fotografias: Tom Peres
Viodeomaker: Julio Estevan
Identidade visual: Jéssica Barbosa
Apoio cultural: Riatitá Flamenco
Assistente de produção: Alessandra Bier
Produção e realização: Rococó produções artísticas e culturais
Fotos Tom Peres