Cresci ouvindo pessoas falarem ao meu redor sobre a temida “dor da defloração”. Confesso que eu mesma tive esse temor quando me entreguei a um rapaz pela primeira vez. Sou uma mulher de cinquenta e três anos, e, na minha época esses assuntos não eram tão livremente discutidos como são hoje. As meninas conversavam sobre sexo e assuntos afins sempre em pequenos grupos e algumas raras tentativas de elucidar algo sobre isso não passavam de explicações biológicas feitas na escola sobre o aparelho reprodutivo humano.
O medo do preconceito, da represália, numa geração que embora tivesse nascido subsequente a geração que pregou o amor livre e comemorou a descoberta da pílula, ainda convivia com muitos tabus e vários tipos de pressões sociais. Esse fato, certamente contribuiu para que pessoas que tinham este problema se fechassem ainda mais de forma angustiante, até. Se isto acontecia assim na década de 1980, o que esperar em pleno século XXI?
Escolhi este tema, porque por incrível que pareça o vaginismo ainda é muito pouco abordado nas rodas e no convívio social. Vale esclarecer para quem não conhece que o vaginismo consiste na contração involuntária da vagina, de forma contínua e resistente, durante o ato sexual. Portanto, a mulher que sofre de vaginismo, sente muita dor todas as vezes que se relaciona sexualmente, independentemente do tamanho do pênis do homem ou quaisquer outros fatores.
Talvez a tendência em reforçar a questão da dor na primeira relação tivesse a intenção de retardar o acontecimento precoce, que na época era entendido como a perda da virgindade antes do casamento. Todavia, fato é que a falta de informação faz com que muitas mulheres permaneçam sofrendo dessa condição, uma vez que o vaginismo atinge aproximadamente de 3% a 5% da população feminina. Muitas vezes encarado como uma “frescura”, vaginismo tem tratamento, cura e precisa ser mais abordado. É comum mulheres que possuem este problema escutarem conselhos do tipo, “relaxe”, “beba algo para se soltar”, no entanto, são sugestões sem embasamento, uma vez que quase não se fala no assunto.
Com a causa majoritariamente de ordem psicológica, a rigidez na educação, ou pressões religiosas que supervalorizam a questão da virgindade contribuem para o desenvolvimento do problema. Além disso, traumas ou abusos também se encontram dentre as possíveis causas do vaginismo.
A contração da mulher que está com vaginismo é tão forte que a musculatura não admite sequer que o pênis se aproxime da vagina, para ocorrer. Mesmo se tratando de um problema biológico de uma determinada parte do corpo cuidada pelo ginecologista, nesse caso especificamente, será necessário outros tipos de tratamento, habitualmente psicoterapia, fisioterapia, ou outros especialistas e, muitas vezes, necessita ser combinado com exercícios de relaxamento do canal vaginal.
Cada paciente terá seu próprio tempo para alcançar sucesso no tratamento, mas o mais relevante de tudo é que a mulher siga debatendo suas demandas acerca da sexualidade, com liberdade, segurança e sem temer os julgamentos preconceituosos, que só fazem piorar a situação da mulher com vaginismo e aumentar os mitos e tabus sobre o assunto.