O condomínio mais absurdo e visceral do teatro brasileiro

Uma maravilha em forma de teatro vem ao encontro do espectador. Tão belo e provocante quanto Afrodite! Atores bem ensaiados, um trabalho feito em equipe culmina em excelência.

Olhares e corpos afiados enquanto a nota do piano é tocada, assim começa o audiovisual convidando o público a um dos melhores espetáculos dos últimos tempos. Nada mais belo que mãos insinuando borboletas, são os atores dando movimento ao texto.

Algo do teatro europeu paira nas cenas, mas obviamente, com o dinamismo e a inigualável simpatia brasileira. O trabalho de corpo do elenco realmente chama a atenção. Parecem bailarinos, feitos de mola, mas são atores imersos em seus personagens com devoção e absoluta capacidade cênica.

Todo o elenco está no palco durante o espetáculo, mas não estão conectados diretamente a cada cena, apenas participam criando fotografias preciosas e inesquecíveis. Pode-se dizer que surpreendentes também! Tudo sutil, mas impacta quem os assiste.

O Homem da maçã não peca e fica difícil saber se realmente trata-se de um ator, ou um dos bichinhos nojentos, ocasionalmente encontrados na fruta.

E se uma escritora consegue criar seres híbridos para diluir todas as suas tensões, é possível que a diretora Clara Carvalho dê vida a cada personagem.

Um trabalho feito por mãos habilidosas e cérebros astuciosos transborda bom gosto e faz uma ponte com a arte, em todas as suas esferas.

O homem de cavalo é um ator em explosão, como uma bomba, tamanha força e consistência de seu trabalho. Belíssimo! Quanta expressividade!

O áudio do espetáculo persiste em encher os ouvidos dos espectadores com sinfonias mágicas. Nada tão artesanal e visceral quanto esses artistas em cena. Percussões admiráveis em seus corpos, um espetáculo robusto. Talvez uma das melhores cenas do espetáculo: o cavalo e a liberdade da sua criadora. Que força!

Faltam palavras para mensurar a beleza que os dois artistas oferecem!

A música original, criada para a peça, foi concebida por Mau Machado, que merece ser ovacionado por tamanha percepção divinal.

O espetáculo conta com o ar atmosférico do Surrealismo e do Expressionismo, sendo assim, os belíssimos figurinos criados por Marichilene Artisevskis são inspirados nos quadros de alguns pintores do estilo.

A iluminação de Wagner Pinto nutre as cenas com competência, impossível não evidenciar esse elemento também fundamental para tornar esta obra primorosa.

A caracterização dos personagens colide com a perfeição. Movimentos e música parecem simbióticos, une carne, espírito e alma.

O dramaturgo Visniec atravessou uma ditadura, sua acidez é bem-vinda nesse momento em que um autoritarismo sombrio pode ser sentido pela sociedade, colocar para fora todo esse obscuro sentimento, por intermédio da arte, é libertador.

O espetáculo esteve presencial antes da pandemia e durante o ano de 2020, foi premiado merecidamente em diversos quesitos. Um trabalho onde os artistas entendem a força da harmonia.

Ao Condomínio cabe resumir que: se uma pérola agrega valor, um colar delas simplesmente as tornam mais sedutoras e valiosas.

Cumprem os papéis com maestria, parecem insaciáveis na busca por performances deslumbrantes, que elenco, que elenco…

“O artista é indispensável porque é o perturbador profissional da banalidade.” (Visniec)

 

Foto Ronaldo Gutierrez

 

FICHA TÉCNICA

Texto: Matéi Visniec 

Direção: Clara Carvalho 

Elenco: Ana Clara Fischer, Felipe Souza, Mônica Rossetto, Rafael Levecki, Rogério, Pércore, Suzana Muniz

Tradução: Luiza Jatobá

Assistente de Direção: Mau Machado

Figurino: Marichilene Artisevskis

Música Original: Mau Machado

Desenho de Luz: Wagner Pinto

Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli

Design Gráfico: Mau Machado

Fotos: Ronaldo Gutierrez

Fotos (registro processo): Roberto Lajolo

Operação de Luz: Dida Genofre

Operação de Som: André Bedurê

Adereços: Luis Carlos Rossi

Costura e Modelagem: Judite Gerônimo de Lima

Costura de Enchimento: Paula Gaston

Alfaiate: Miguel Angel Arua

Envelhecimento: Foquinha Cris

Direção de Produção: Selene Marinho /SM Arte e Cultura

Coordenação de Produção: Ariel Cannal

Produção Executiva: Marcela Horta / SM Arte e Cultura

CONDOMÍNIO VISNIEC

 Temporada até 25/4

Quinta a sábado, às 20h. Domingos, às 18h

Assista:  www.plataformateatro.com

Ingressos: Gratuitos

Duração: 55 minutos

Classificação: 14 anos