Em um dado momento, em situações lançadas, sem que ninguém bote fé, uma conversa vira flerte. As duas pessoas estão lá, próximas ou conectadas pela distância virtual e uma troca de ideias banais passa a ter um outro ou algum motivo. O flerte surge na esquina da simpatia, entrando para a esquerda – onde começa o amor.
O clima, o futebol, a notícia do dia, o problema de trabalho. Quando a conversa vira flerte tudo esquenta, a jogada é certeira e não precisa de VAR, o jornal já acabou e começa o tempo do lazer.
O tom das línguas cansadas muda, melhora, sobe o som. A fala amansa. “Calma, alma minha, calminha”, como canta Zeca Baleiro em Alma Minha. O flerte é o nascer do novo.
Sem a urgência da paixão e a eternidade do amor, o flerte tem seu tempo. Ritmo próprio. Quem precisa de relógio nessas horas?
O flerte surge em qualquer estação do ano. Na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o flerte nasce, como essa crônica vagaba, que flerta descaradamente com “O amor acaba”, de Paulo Mendes Campos.
Em todos os lugares, o flerte nasce. Seja na protocolar fila do mercado ou na impositora pista de dança. Nasce e não morre. Apenas dá espaço para a paixão ou para o amor, quando não o querem mais por perto. Mas se acaso quiseres, ele sempre diz sim e fica. Revoa sobre os dias e se revela em uma conversa banal, que assim vira flerte e vai. Independente. Independentemente do grau de relacionamento. Todo casal precisa flertar.
O flerte é o começo de tudo e tudo o que começa tem um início. Às vezes, a gente nem nota, mas uma hora, o flerte nasce. Em um dado momento, em situações lançadas, sem que ninguém bote fé, uma conversa vira flerte e a gente vira tudo.