Seria maravilhoso se esta primeira matéria do ano se inspirasse nas promessas, nas metas e em todos os planejamentos, que normalmente fazemos para a virada. Bastante previsível até este tema.
Embora, ele se repita, nem sempre logramos o êxito esperado que nos motivara a cada uma dessas promessas. Ainda assim, início de ano é momento de planejar, de sonhar e de se organizar. Até tive esta intenção, de escrever sobre isso, antes mesmo do fim do famigerado 2020 acontecer.
No entanto, outro assunto me apavora e me devasta e, portanto, preciso colocar para fora minha indignação. Assunto igualmente recorrente, mas que, a cada dia, aumenta e nos choca ainda mais: o feminicídio.
De acordo com estudos publicados pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2020, houve um aumento do número de feminicídios no Brasil. Mas quando, em pleno Natal, nos deparamos com um crime realizado pelo marido, na frente das filhas, a questão ganha uma outra proporção e um destaque, inevitavelmente, maior.
Na mesma semana, outro caso bastante similar. Agora, durante a revisão final deste artigo, novamente outra reportagem sobre o aumento desses índices. Então, ficam algumas perguntas no ar: “quando isto vai acabar?”, “quando a mulher conseguirá viver em paz e livre desse machismo (velado ou explícito), que faz com que um companheiro, marido, amante, ou namorado sinta-se no direito de agredir, ou pior, tirar a vida de sua ex?”.
São perguntas que precisam de nossa intervenção para que consigamos ter respostas mais otimistas. Fui delegada numa conferência estadual dos direitos da mulher, no início deste século, e lá aprendi sobre a Lei Maria da Penha e os tipos de violência aos quais a mulher pode ser sujeitada: psicológica, moral, patrimonial, sexual e física. Passaram-se quase duas décadas para eu ver campanhas relevantes e frequentes, especificando cada uma dessas violências.
O feminicídio é o ápice de um processo, que se desenrola lentamente ao longo da relação. Cada vez mais, é preciso que a mulher compreenda, que antes do empurrão, ou do tapa – sinais enquadrados como violência física, existe um caminho repleto de sinais de violência, que ela precisa extirpar de sua vida.
Sim, não tolere nenhum tipo de violência! Por mais que a sociedade tenha feito considerar como toleráveis alguns desses sinais, não podemos nos enganar. Humilhar, xingar, diminuir a autoestima, tirar a liberdade de crença, tentar persuadir a mulher a acreditar que está ficando louca, controlar e oprimir, expor sua vida íntima sem autorização, atirar objetos, sacudir e apertar os braços, forçar atos sexuais desconfortáveis, impedir que se faça a prevenção da gravidez e das DSTs, ou obrigar a abortar, controlar seu dinheiro, ou reter seus documentos, quebrar seus objetos, tudo isso é sinal de que algo não vai bem na relação.
Somos livres para vivermos sozinhas, se assim desejarmos. Na maioria das vezes, o velho e bom ditado: “Antes só do que mal acompanhada!” é eficaz para nos libertar da exposição ao perigo.
Uma relação saudável deve ser pautada em cima da confiança, do respeito e, principalmente, da admiração, que um deve sentir pelo outro. Não insista em relações, que já anunciam a ausência desses sentimentos! Não julgue a mulher que prefere estar só. Todas queremos e merecemos viver em paz! Deixem-nos viver!