Quantos sins nós dizemos em um não? Somos o que queremos ser, ou desejamos ser, ou podemos ser – como diz a música dos Engenheiros do Hawaii, que ajudaram a construir quem eu sou. Contudo, acredito que somos mais o que não queremos ser.
Depois de meses, visitei meu afilhado, Isaac, de quatro anos de idade. Meu tio, que foi comigo, fez a clássica pergunta para o garoto: “Vai ser o que quando crescer?”. Esperto que é, ele disse “eu não sei” e correu para brincar.
Eu, que sempre soube sem saber, fui brincar com ele. Na brincadeira, Isaac me explicou um cenário cheio de meninos heróis e velhos vilões que precisavam ser derrotados. Após a detalhada explanação do moleque, o quase jovem aqui disse: “Eu sou o herói da espada e você o bruxo de cabelo branco, beleza?”. Tomei um corte: “Eu não quero ser um velho chato que faz mal pras pessoas”, ele disse com a língua livre que toda criança tem.
Nunca tive total certeza do que eu ia ser quando crescesse. Hoje em dia, acho isso uma tortura para qualquer pessoa. Imagina ter que decidir algo para o resto dos seus dias quando você viveu tão poucos dias para saber. Quem muda de carreira, hábitos, costumes, enfim, de vida “depois de velho” está mais que certo. Errado é se cansar com o que não vale os cabelos brancos e as dores no joelho.
Talvez por não ter essa certeza exata (quem precisa disso?), eu acabe fazendo algumas coisas na minha área de atuação profissional e muitas outras na realidade pessoal. E tudo certo. Estou de boa dividindo meus dias entre crônicas, matérias jornalísticas, roteiros, amigos, alegrias. Por outro lado, eu sempre soube o que não queria para mim. E são muitas coisas.
Outro dia, uma amiga me perguntou o que eu mudei nos últimos tempos, no que amadureci. Não acho que tive nenhuma grande mudança, mas reafirmei alguns pontos. Entre eles, a importância da minha família para mim e a certeza de que não quero perder tempo com o que não me faz bem. “Só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”, fala aqui o poema de Torquato Neto.
Eu sempre soube o que não queria para mim e assim como meu sábio afilhado, eu não quero ser um velho chato que faz mal pras pessoas. No mais, é intensificar o exercício do e de ser. Quando ou não crescer. Isso já é um bom começo e um ótimo final.