Certa vez, na Feira de São Cristóvão, numa madrugada de sábado para domingo, tinha um cara vestido de Michael Jackson dançando em frente a uma loja de CDs – sim, ainda existem lojas de CDs.
Eu parei e fiquei olhando o cara, todo vestido de Michael, dançando. Achei divertido no primeiro momento, mas depois fiquei meio puto. Pensei que ele era contratado da loja e estava ali, dançando, três da manhã, enquanto um monte de bêbado passava e tirava sarro dele em frente a um estabelecimento que não iria vender nada aquela hora da noite. Algumas pessoas interagiam legal com ele, porém, a maioria só parava para sacanear o cara. Percebi que ele ficou cheio de ódio quando um moleque tentou tirar o chapéu dele. Até achei que ele iria virar o Michael Jackson do jogo de Master System (videogame antigo) e sair metendo a porrada em geral – eu ajudaria ele.
Quando ele parou de dançar, eu fui falar com ele. Elogiei (ele realmente dançava bem) e disse que só fiquei meio bolado por ele estar sendo “explorado” ali, aquela hora. Aí, para minha alegria e surpresa, ele fez meu argumento dançar para trás.
O Michael Jackson da Feira de São Cristóvão disse que não estava ali a trabalho. Falou que dançava porque era a paixão dele. Fazia “só por prazer”. Contou que trabalha em um emprego comum do qual não gosta muito (eu tava meio bêbado e não lembro com o que ele trabalha) e que sai nas horas vagas para dançar em locais públicos. Disse que era muito feliz fazendo isso, dessa forma, apesar de se incomodar com quem pega mais pesado nas brincadeiras enquanto ele dança.
O mundo precisa de mais gente como esse Michael Jackson da Feira. Essa gente que não se rende diante de uma vida sempre sacrificante, essa gente que sustenta as paixões acesas, vivas, mesmo quando não são compreendidas por um universo de pessoas que vivem por viver, sem perceber, empurrando a vida sem um grande motivo. Um grande motivo, como dançar Michael Jackson, caracterizado como tal, às três da manhã na Feira de São Cristóvão – só por prazer.