Três da manhã, o telefone de Jorge toca. Ele acha que é o despertador, mas é uma ligação de Carlos, seu colega de ensino médio – que ele não vê há quatro anos, desde quando acabaram a escola.
Jorge (com a voz apagada): “Alô…”.
Carlos (com a voz acesa): “Fala, irmão! Beleza? Aqui é o Carlos. Estudamos juntos no ensino médio! Lembra de mim?”.
Jorge: “Lembro sim… o que houve?”.
Carlos: “Então, lembra daquela festa que fomos uma vez e ficamos bêbados? No último ano, perto da formatura? Lembra que você falou que eu podia contar com você pra sempre?”.
Jorge: “É o quê?!”.
Carlos: “É, amigo, tô precisando de você. Tive uns problemas com a Justiça e tô preso. Vou ficar na tranca por um tempo. Minha família não quer mais saber de mim por causa dos outros problemas que tive na Justiça, aí tô precisando da tua ajuda. Tem como você trazer um celular pra mim aqui na cadeia? Sabe onde tem que botar pra trazer, né? Tem que tá bem escondido…”.
Jorge: “Cara, eu não te vejo há anos. Tá maluco?”.
Carlos: “Porra, irmão, você disse que eu podia contar com você pra sempre…”.
Após desligar o telefone, Jorge fica com uma dúvida na cabeça. Decide encontrar a resposta. Retorna a ligação para Carlos.
Jorge: “Cara, como você conseguiu o meu número? E como tá me ligando se tá preso?”
Carlos: “O Lucas, que andava com a gente e tava bêbado também aquele dia, me passou. E eu tô usando o aparelho comunitário aqui. Preciso de um pra mim, pra arrumar uns esquemas aí fora. Coisa honesta. E preciso de um celular grande…”.
Jorge desliga novamente, bloqueia o número usado por Carlos e faz outra ligação:
“Fala, Lucas! Beleza? Tô precisando de uma ajuda sua, cara. Lembra que você falou, na época da escola, que eu podia te ligar quando precisasse? Então…”.