Em uma das farras olímpicas, vividas por mim em 2016, conheci uma mina da
Rússia – ela falava um português difícil, mas bebia Catuaba fácil. Dizia
que adoraria que o país dela fabricasse a bebida.
Papo vai, dose vem, trocamos uma ideia boa. Muito boa. Um amigo até tentou
explicar para ela que no Brasil existe uma expressão (“a coisa tá russa”)
para quando não vai nada bem. Ela não entendeu a frase, no entanto, pareceu
entender bem o povo brasileiro.
Ela me disse que já havia vindo ao Brasil duas vezes e o que mais gostava
aqui era a alegria do povo.
Disse para ela que eu, sinceramente, não consigo entender como conseguimos
ser um povo tão feliz em um país com tantos problemas. Expliquei, ainda,
que não sabia se essa alegria toda era boa ou ruim, por não compreender se
isso nos ajuda a superar as dificuldades ou se colabora para que nunca
saiamos delas.
Ela desdenhou da minha etílica reflexão e disse que a Rússia é cheia de
problemas como os nossos: corrupção, violência, bebidas caras. E o fato de
ser um povo menos festivo não muda em nada essa realidade. Eles, assim como
nós, continuam com dificuldades. E sem Catuaba.
No dia seguinte, peguei um metrô lotado, com o ar condicionado ruim e
tinha gente, dentro do vagão, fazendo piada da situação.
Agora (sóbrio), continuo sem saber se ser um povo festivo e que faz graça
com quase tudo é bom ou ruim. Talvez seja os dois. Talvez só um. Talvez
nenhum. Pelo menos, temos Catuaba. O que já é um bom motivo para ser feliz.