Sou leitora contumaz e sem preconceitos. Experimento de tudo, mas acabo optando por leituras um tanto sofisticadas. Os best-sellers sempre exerceram fascínio sobre mim, que, criança, estranhava a resistência de meus pais a adquirirem boa parte dos livros em destaque nas vitrines de livrarias. Em casa nunca entrava um Harold Robbins, um Lombsamg Rampa, sequer um Sidney Sheldon. Vinham muitos Simenon, Garcia Márquez, Julio Cortazar. Brasileiros, às pencas, mas brasileiro só escrevia livro “sério”, na minha cabeça.
Existem novas gerações de autores que vendem quilômetros de best-sellers, hoje chamados de “romances de entretenimento”, pois, aparentemente, para alguns especialistas, literatura precisa ser profundamente aborrecida e desafiar o leitor, jamais diverti-lo. Nem sempre esses best-sellers conseguem entreter leitores exigentes; às vezes é preciso pular páginas até alcançar uma conclusão óbvia e rasa. Importante é, ao menos, tentar conhecer esses escritores, ainda que bem depois do lançamento desses campeões de vendas.
Frequentando há alguns anos a lista de mais vendidos no Brasil, onde já passou a marca de meio milhão de cópias comercializadas, Os sete maridos de Evelyn Hugo (Paralela, R$ 49,90), o maior sucesso da norte-americana Taylor Jenkins Reid foi lançado em 2017. A trama pretende recriar o ambiente da Era de Ouro de Hollywood através da trajetória de uma atriz, do estrelato à decadência. A adolescente Evelyn Hugo mal assiste a duas aulas de interpretação e ganha um Oscar. Usa a beleza para seduzir chefões dos estúdios, casa-se com um superastro e pavimenta assim sua bem-sucedida carreira. O drama vem da descoberta de sua bissexualidade e da paixão por outra atriz. Taylor Jenkins Reid, que trabalhava com elencos para o cinema, até mostra um pouco das estratégias midiáticas do meio, concentrando, no entanto, a maioria das jogadas na protagonista, que não é apenas bela, mas um gênio do marketing desde os 20 anos de idade. Sidney Sheldon, roteirista tarimbado (ganhou um Oscar, em 1948, um Tony, em 1959, e um Edgar pelo melhor livro de estreia, em 1971) de cinema e televisão antes de se dedicar à literatura, deu mais veracidade às protagonistas de O outro lado da meia-noite (Record, R$ 69,90), romance que, em 1973, o alçou ao sucesso. Com mais de 300 milhões de livros vendidos mundo afora, Sheldon era um mestre na captura de públicos diversos, embora o maior reconhecimento adquirido ainda esteja nas peças televisivas e cinematográficas.
Antecipando a onda confessional da literatura contemporânea, há cerca de vinte anos, a editora Catherine Millet lançou A vida sexual de Catherine M (Ediouro, R$ 39,90), com um olhar quase jornalístico para suas recordações. Tem contagem do número de amantes que recorda pela constância em encontros ou por relevância performática, avaliações das melhores posições para usufruir do sexo grupal. Apesar dos relatos numerosos de práticas sexuais coletivas, individuais, em ambientes fechados ou ao ar livre com desconhecidos ou com parceiros habituais, o livro é quase tão pouco insinuante e excitante como o Kama Sutra. Não que seja um manual, mas mantém o distanciamento de um guia e uma visão bastante francesa, aquele olhar peculiar e melancólico sobre o sexo dos que chamam o orgasmo de “pequena morte”. Passada a euforia, o escândalo, o noticiário, toda a polêmica levantada, resta um livro surpreendente pela sinceridade e crueza das descrições. Duas décadas depois de seu lançamento e da venda de mais de e 2,5 milhões de exemplares em 47 países, o texto de Millet guarda o tom de celebração da sexualidade feminina, mas perde o impacto no momento em sexo virou tema obrigatório nas entrevistas de celebridades. Entretenimento tem sua época, vide as ondas de histórias sobre bruxos, vampiros, romances apimentados. Vale a pena ler best-seller? Às vezes, eles surpreendem o mais refinado dos leitores, principalmente nas tardes de férias chuvosas, quando um Sidney Sheldon acalenta até os corações eruditos.