Semana passada, uma triste notícia abalou o jornalismo carioca. Anna Maria Ramalho, querida colega, editora e uma das madrinhas desta coluna partiu do planeta. Anna, a quem conheci em redações de jornais cariocas, não foi amiga “pessoal”, mas virtual. Acolheu esta coluna há onze anos em seu portal, esteve próxima por telefonemas e comunicações diversas nesta era da distância física, mostrando que afetividade e carinho são possíveis ainda que de maneira epistolar. Elegante, divertida, bela e simpática, sempre recebia efusivamente cada sugestão de livro que eu oferecia, além de mostrar empatia e apoio em ocasiões nada festivas.
A coluna de hoje é para Anna, com sugestões de leituras que ela poderia apreciar. Têm reflexão, têm diversão e têm vida. Essencialmente, trazem características que definem essa mulher maravilhosa. Ter conhecido Anna e privado dessa convivência tão atual – por escrito, às vezes por áudios, noutras por telefone – foi um privilégio permitido pelo avanço tecnológico. Em outras épocas também seríamos amigas, trocando cartas, bilhetes e observações, numa distância tão próxima pelas afinidades que compartilhamos.
Bastante aos gritos (7 letras, R$ 45), de Cesar Garcia Lima, é a poesia do mundo real, que está para fora das portarias e das grades dos edifícios cenograficamente protegidos da pobreza e da violência incorporadas às metrópoles brasileiras. Mas ali também estão as decepções com as amizades fugazes, as paixões arrebatadoras que um dia acabam, as dores ironizadas pelas próprias referências culturais (como o poema Bergman: Estive na Suécia/e lembrei-me de sofrer). As imagens surgem a cada página, compondo um retrato do momento contemporâneo, fugaz, solitário, mas gregário diante de quem não se atordoa, apenas admite as imposições – e os benefícios – da tecnologia. Em Dados móveis, Cesar constata que sua amiga de infância “virou um link”, o ex-chefe “migrou para um aplicativo”, a família mora em um grupo de mensagens, enquanto sua vida é um post para pessoas que ele talvez conheça. Uma brilhante definição da existência diante de telas, em que o virtual se transformou em experiência real.
Conte como quiser (Paraquedas, R$ 39,90) reúne os olhares contemporâneos de dez estudantes de escrita criativa do curso Liberte o Escritor que reveem contos de fadas com um olhar contemporâneo. Com organização de Sol Mendonça, estão lá um Barba-Azul encarnado no empresário que assedia as estagiárias da firma, uma Bela Adormecida sob as pressões de um péssimo casamento, a Branca de Neve que divide o quarto da república com sete estudantes enquanto enfrenta as maldades da madrasta. No mais ‘carioca’ dos contos, de Luciana Figueiredo, uma Cinderela foge do compromisso eterno com um príncipe no bloco de carnaval.
O tumor (Tabla, R$ 61), do líbio Ibrahim Al-Koni conta a história de um homem que tem uma túnica plasmada a seu corpo. Com a túnica deveriam vir poder e sabedoria, mas Assanai, escolhido por um dito líder para ser seu representante desde que use o traje, sente-se tolhido e revoltado com a estranha missão – aceita por impulso, sem imaginar os ônus do encargo. O drama kafkiano se desenrola no deserto mostrado como nas narrativas de lendas ancestrais.
Eden (Patuá, R$ 59,90), romance de estreia do carioca Álvaro Senra, cria uma distopia em território fluminense. Uma guerra estoura em alguma nação e os personagens sobrevivem a uma possível hecatombe nuclear. Cruzando a Avenida Brasil em busca de comida e água não contaminada, um grupo de sobreviventes quer ir para Éden, uma região de nome bíblico, que pode ser um bastião da resistência a malfeitores violentos, onde haverá paz e uma vida idílica. No trajeto, eles se abrigam em shopping centers desertos e em diferentes construções, percebendo que o valor dado a bens materiais já não existe em um mundo sem qualquer tipo de sociedade até então conhecida.
O coração do rei – A vida de Dom Pedro I: o grande herói luso-brasileiro (Edições de Janeiro, R$ 55,96), da jornalista Iza Salles, traz em forma de romance histórico a biografia do primeiro imperador do Brasil, um português que se entregou totalmente ao espírito dos trópicos e foi das mais importantes personagens para transformar a ex-colônia em uma nação. A autora traça um retrato bastante simpático daquele jovem impetuoso e mulherengo, que fez dois filhos soberanos dos ‘seus’ dois países: Pedro II, no Brasil, e Maria da Glória, em Portugal. Uma vida breve e intensa, combinada à devoção aos muitos prazeres e à política.
O apartamento de Paris (Intrínseca, R$ 47,90) é mais uma das sinistras tramas da inglesa Lucy Foley, uma autora de thrillers intrigantes, em que cada capítulo derruba as certezas adquiridas nas páginas anteriores. Jess, uma jovem inglesa, vai a Paris passar uma temporada em companhia do irmão Ben, que não está à sua espera. No edifício pequeno e luxuoso moram poucas pessoas, quase todos pouco receptivos à presença da moça, que não pode recorrer à Polícia para encontrar o irmão. Desconfiando de cada pessoa com quem trava conhecimento, ela precisa apostar em seus instintos para descobrir o paradeiro de Ben.