O Oscar literário

Ao ganhar o primeiro Oscar para o Brasil, o filme “Ainda estou aqui” já havia conquistado prêmios importantes no cinema internacional, entre eles o de melhor roteiro, no Festival de Cannes, e o de melhor atriz em drama no Globo de Ouro para Fernanda Torres. Ainda que a maior premiação cinematográfica da estrela não chegasse, a campanha que o diretor Walter Salles, produtores e o elenco empreenderam em torno da trajetória de Eunice Paiva levou a um interesse pela triste história recente do Brasil e, dez anos após seu lançamento, a uma intensa busca pelo livro de Marcelo Rubens Paiva, que já vendeu 100 mil cópias e terá tradução em inglês.

Depois que Fernanda Torres recebeu o Globo de Ouro de melhor atriz, em janeiro, “Ainda estou aqui” (Companhia das Letras, R$ 79,90) passou a ser o livro mais procurado no e-commerce.  Adaptações cinematográficas impulsionam a venda de seus textos originais, como vem acontecendo com a obra do inglês Robert Harris, que já teve oito de seus romances de ficção histórica levados para o cinema. Pelo menos três foram incensados pela crítica: “O escritor fantasma”, “O oficial e o espião”, ambos dirigidos por Roman Polanski, e “Conclave” (Alfaguara, R$ 48,90), que ganhou os principais prêmios cinematográficos internacionais pelo roteiro adaptado, incluindo o Oscar. O thriller político trata da reunião de bispos católicos do mundo inteiro que em poucos dias elegem um novo papa.

Inspirado pela história real de um reformatório na Flórida onde seus internos, menores de idade, passavam por maus tratos, entre surras e abusos sexuais, quando não eram assassinados pelos funcionários da instituição, “O reformatório Nickel” (Harper Collins, R$ 59,90) rendeu o segundo Pulitzer por ficção a Colson Whitehead, em 2020. No terreno da instituição, fechada em 2011, foram encontrados 55 cadáveres de jovens.   A trama do romance acompanha dois adolescentes submetidos à violência dos carcereiros. A versão cinematográfica obteve indicações para Oscar de melhor filme e roteiro adaptado.

Admirador apaixonado pela série de livros criados por L. Frank Baum no início do século XX, Gregory Maguire lançou, em 1995, “Wicked” (Darkside, R$ 69,90), imaginando a vida pregressa da malvada Bruxa do Oeste, que inferniza a passagem da menina Dorothy pela Terra de Oz. Oito anos depois, a fantasia de Maguire foi transformada em um dos mais bem-sucedidos musicais da Brodway, chegando ao cinema em 2024, com indicações a diversos prêmios, incluindo o Oscar.

A história original de Baum, um best-seller que se tornou clássico, teve diversas edições brasileiras. Uma das melhores é a da coleção Clássicos Zahar (R$ 78), com prefácio do economista Gustavo Franco abordando as conotações políticas atribuídas ao romance, que chegou a ser banido de bibliotecas norte-americanas nos anos 1950, em plena caça anticomunista do macarthismo, por associarem o Reino de Oz a um “Estado socialista”. Também foi atribuído ao enredo uma defesa de um movimento da época, que pretendia fazer da prata a moeda de lastro do país, ao lado do ouro. Enquanto o nome do Reino, Oz, é também a abreviatura para “onças”, medida de peso usada para quantificar metais preciosos, como ouro e prata. Os sapatinhos que Dorothy ganha ao matar a Bruxa Má do Leste eram prateados, cor da prata – que no filme, para se destacarem no cenário, tenham ficado vermelhos –, andando sobre a estrada de tijolos amarelos, dourados como o ouro. Outras análises apontam as descrições fiéis ao estilo de vida rural no país na virada do século, enquanto a grande maioria dos leitores acompanha as aventuras de Dorothy, destinadas, por Baum, ao público infantil – ainda que também encante os adultos.