Jornalismo sempre foi atividade paralela de escritores, que precisavam se sustentar trabalhando em redações, principalmente no Brasil, onde literatura é ganha-pão de poucos. Talvez o maior expoente de literato ex-militante da reportagem seja Ernest Hemingway, que separou drasticamente as duas carreiras, mas impôs um novo ritmo ao romance no século XX, com frases curtas e coesas, descrições pouco adjetivadas, à maneira de redigir textos jornalísticos. É do contato com a rua – cenário das incursões dos repórteres – e seus personagens que tantos jornalistas criam uma literatura muito próxima a das crônicas, mesmo quando relatam suas próprias experiências.
“Histórias de um não repórter” (Autografia, R$ 45,90), de Vicente Dattoli, jornalista esportivo e especialista em carnaval – diretor da Caprichosos de Pilares, foi assessor da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro -, não traz memórias, avisa o autor, que conta diversas passagens de sua vida em coberturas de Copas do Mundo, disputas internacionais de vôlei, o contato com deuses do futebol, como Diego Maradona, entre tantas lembranças. Não são memórias, são histórias dos outros, uma característica do jornalista, cuja vida pessoal não se confunde com a de quem é notícia. A paixão pelos temas pulsa em cada um dos relatos deliciosos de Dattoli, hoje longe das redações, mas ainda encantado pelas áreas a que se dedicou.
Tropas nazistas na Amazônia, o assassinato de um jornalista alemão no Rio, uma cidade perdida escondida na floresta com túneis subterrâneos que levariam às localidades incas. Esses elementos de filme de aventuras são parte da saga do documentarista Rapha Erichsen, que conta em “O enigma de Akakor – Farsas e segredos na Floresta Amazônica” (Faria e Silva, R$ 64,90) procura de respostas para a misteriosa morte do correspondente internacional Karl Brugger, alvejado no coração por um tiro, na praia de Ipanema, em 1984. Uma década antes, Brugger conheceu um suposto líder indígena, Tatunca Nara, que o encorajou a buscar Akator. Intrigado com o sumiço de aventureiros estrangeiros mortos ou desaparecidos depois de se lançarem em busca de Akator, Rapha Erichsen tenta encontrar Tatunca Nara, também conhecido por Hans Günther Hauk, sua identidade civil.
Radialista e produtor musical, João Carino informa no prólogo de “Contos quase reais” (Numa, R$ 61,90) que, embora alguns dos 25 contos sejam rigorosamente verdadeiros, boa parte se compõe de “invenções, floreios em torno de uma verdade”. O resultado é a seleção de saborosas crônicas da vida diária, com personagens ou situações sobre quem todos já ouviram falar. Entre eles, o motorista de ônibus que monta a segunda família com uma passageira, o charlatanismo de um médium desmascarado após uma falsa operação espiritual, a casa de um condomínio elegante usada como locação para filmes pornográficos, a edição da entrevista de um crítico musical que detesta bossa nova. Para embalar a leitura, o autor criou uma lista das canções que usa como epígrafe dos textos a ser ouvida em aplicativo na Internet.