Você é um bom leitor? Quando e quanto você lê?

Uma pergunta: quantos livros você leu no último trimestre? Se a resposta foi nenhum, não se sinta tão mal, você faz parte dos 74% de brasileiros que não compraram, nem leram nos últimos meses.

Aproximadamente metade da população brasileira sabe ler, mas não lê. O Brasil dentre 76 países está na 59ª posição no ranking de leitura, segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) de 2018. Esse resultado há mais de uma década dá o alerta da qualidade de ensino no país.

Um número alarmante. Profissionais da área da Educação justificam esse alto percentual de não leitores pela falta de vontade política, pelo pouco investimento feito na educação, pelo processo de alfabetização tardio e pela própria cultura do povo brasileiro, mais oral do que textual. As crianças brasileiras só passaram a ser alfabetizadas de forma mais eficaz e cuidadosa há menos de 100 anos.

Historicamente somos um país analfabeto. O Brasil engatinha em relação a outros países. O país mantém a cultura da oralidade mais forte do que a cultura letrada, como ocorre em países europeus, onde o livro sempre teve fundamental papel na educação e na formação cultural do cidadão.

São muitas as consequências para um país cuja população não lê. Há muita dificuldade para debater e discutir questões um pouco mais complexas. Vale ressaltar também que o processo de leitura estimula importantes habilidades cognitivas. Os especialistas, sem exceção, afirmam que sem o hábito da leitura é difícil praticar ações como se colocar no lugar do outro, pensar em soluções criativas para problemas do dia a dia, ir a fundo em debates éticos, argumentar e contextualizar fatos de outras épocas e lugares entre outras ações não pontuadas aqui. Sem a leitura fica prejudicado o entendimento do mundo em que se vive e, do mundo ao redor. Aumenta a intolerância, a dificuldade de superar questões básicas, o desrespeito e a dificuldade de aceitar outros pontos de vista etc. A falta de leitura torna o Brasil um país raso. E um dado ainda mais grave: alfabetizados declarados leitores, muitas vezes leem, mas não sabem interpretar o que leram.

A literatura traz uma vivência ao leitor que vai além da própria vida, pois ele também percebe a vida e a realidade dos personagens e seus dramas, opiniões, qualidades, defeitos, limitações, em universos distintos e muitas vezes inseridos em culturas completamente diferentes da do próprio leitor, com problemas, hábitos e realidades distintas. Dessa forma, a leitura permite a possibilidade de um convívio ao longo de dias, semanas, ou meses, com outras vidas e contextos, algo muito mais intenso e profundo do que assistir a um filme.

O número de leitores no Brasil aumentou, de acordo com pesquisa encomendada pelo Instituto Pró-Livro e realizada pelo Ibope em 2016, mas ainda é pequeno. Na ocasião o país teria 104,7 milhões de leitores o que corresponderia a 56% da população. Considera-se que o brasileiro lê 4,96 livros em média por ano. Desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88 lidos por conta própria. Desse total 2,43 são lidos na íntegra enquanto 2,53 são lidos em partes. O levantamento considera leitor quem leu, inteiro ou em partes, pelo menos um (01) livro nos últimos três meses. Já o não leitor é aquele que declara não ter lido nenhum livro nos últimos três meses, mesmo que tenha lido no último ano.

O número de mulheres leitoras continua maior do que o número de homens leitores, também são elas as maiores incentivadoras ao hábito da leitura. Entretanto o número de homens leitores cresceu de 2011 (44%) para 2016 (52%). Houve também aumento de leitores na faixa etária dos 18 aos 24 anos.

O retrato do leitor brasileiro mostra que a Bíblia ainda é o livro mais lido, em qualquer nível de escolaridade e aparece nas listas como o último livro lido e o livro mais marcante. 74% da população não comprou nenhum livro no último trimestre e 30% dos entrevistados nunca comprou um livro.

A justificativa dada pela maioria dos não leitores para não ler é a falta de tempo. E no ranking do que o leitor prefere fazer no seu tempo livre, a leitura ficou em 10º lugar. Em 1º lugar o leitor prefere assistir à televisão (73%) – preferência que caiu no gosto popular comparada a outros anos da pesquisa, entre 2007 (77%) e 2011 (85%). Em segundo lugar, está a preferência por ouvir música (60%). Em seguida aparecem usar a internet (47%), reunir-se com amigos ou família (45%), assistir vídeos ou filmes em casa (44%), usar WhatsApp (43%), escrever (40%), usar Facebook, Twitter ou Instagram (35%), ler jornais, revistas ou notícias (24%), ler livros em papel ou livros digitais (24%) – na décima posição tem a mesma porcentagem de praticar esporte. Apenas perdem para a leitura de um livro: desenhar, pintar, fazer artesanato ou trabalhos manuais (15%), frequentar bares, restaurantes ou shows (14%), jogar games ou videogames (12%), ir ao cinema, teatro, concertos, museus ou exposições (6%), não fazer nada, descansar ou dormir (15%).

A pesquisa perguntou a professores qual tinha sido o último livro que leram e 50% respondeu nenhum e 22%, a Bíblia.

Desculpas muito usadas para não se ler são a falta de grana e tempo. Mas sabemos que a falta dinheiro não é mais justificativa em um mundo globalizado e virtual, é fácil encontrar obras na íntegra disponibilizadas na internet, outra opção também seria buscar uma biblioteca, ou até mesmo pedir um livro emprestado. Hoje em dia é comum encontrar bibliotecas solidárias e pontos para troca de livros. Se a justificativa é a falta de tempo, basta a pessoa se organizar, sempre encontramos tempo para o que importa. Pode-se ler em qualquer lugar, a qualquer hora. Melhor é assumir que ler não é prioridade, que não lê porque não quer e, pronto.

O estudo levantou ainda quem são os autores mais lidos e os títulos mais citados pelos leitores. Os escritores mais citados são: Augusto Cury, Chico Xavier, Gabriel Garcia Márquez, Paulo Freire, Benny Hinn, Ernest W. Maglischo e Içami Tiba. Os títulos: Esperança, O Monge e o Executivo, Amor nos tempos de cólera, Bom dia Espírito Santo, Livro dos sonhos, Menino brilhante, O símbolo perdido, Nosso lar, Nunca desista dos seus sonhos e Fisiologia do exercício.

Quando perguntados quais os títulos mais citados como os últimos lidos ou que estão sendo lidos: Bíblia, Diário de um banana, Casamento Blindado, A Culpa é das Estrelas, Cinquenta Tons de Cinza, Ágape, Esperança, O Monge e o Executivo, Ninguém é de ninguém, Cidades de Papel, O Código da Inteligência, Livro de Culinária, Livro dos Espíritos, A Maldição do Titã, A Menina que Roubava Livros, Muito mais que cinco minutos, Philia e A Única Esperança, são os primeiros da lista.

Na lista dos escritores preferidos dos brasileiros estão Monteiro Lobato, Machado de Assis, Paulo Coelho, Maurício de Sousa, Augusto Cury, Zibia Gasparetto, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Chico Xavier, John Green, Ada Pellegrini, Vinícius de Moraes, José de Alencar e Padre Marcelo Rossi.

Dentre os livros mais marcantes, os religiosos e a Bíblia seguem como referência, mas a lista é bem diversificada, com alguns clássicos e infantojuvenis: Bíblia, A Culpa é das Estrelas, A Cabana, O Pequeno Príncipe, Cinquenta Tons de Cinza, Diário de um banana, Turma da Mônica, Violetas na Janela, O Sítio do Pica-pau Amarelo, Crepúsculo, Ágape, Dom Casmurro, O Alquimista, Harry Potter, Meu pé de laranja lima, Casamento Blindado e Vidas Secas.

Em um estudo realizado pela agência NOP World Culture Score Index, para medir os hábitos das pessoas em 30 países, o Brasil se classificou na 27ª posição no ranking de leitura, à frente apenas de Tawian, Japão e Coréia. Na América do Sul, Venezuela (14º lugar) e Argentina (18º lugar) são os melhores classificados. Ainda de acordo com o NOP World os indianos são os que mais dedicam horas semanais para a leitura de livros, seguidos pelos tailandeses.

Segundo dados divulgados pelo Pisa, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, apontou que os brasileiros avaliados ainda estão abaixo da média apresentada pela maioria dos países. Na mais recente edição, os resultados mostraram que, em 2018, o Brasil caiu no ranking mundial de educação em matemática e ciências; e ficou estagnado em leitura. Dois terços dos brasileiros de 15 anos sabem menos que o básico de matemática.

Em 2000, a pontuação do Brasil nas habilidades de leitura era de 396 pontos. Em 2009, chegou a 412. Quase dez anos depois, em 2018, a pontuação foi de 413. As notas dos demais países variam de 340 a 555, na média, sendo que 400 pontos indicaria um nível básico de compreensão.

O programa tem o objetivo de ser um exame que qualquer estudante do mundo pode fazer e não foca apenas em saber ou não se um estudante aprendeu um conteúdo na escola, mas se o jovem consegue aplicar o conhecimento adquirido na vida real. Por isso, é possível comparar os níveis de aprendizagem de estudantes de países diferentes e entender o que os sistemas de ensino podem fazer para melhorar seu desempenho.

Desses dados e informações apresentados em diversas pesquisas sobre o assunto, devem-se considerar a resposta da maior autoridade do tema no mundo, a Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Para o setor da ONU, que cuida de educação e cultura, só existe leitura nos países onde ler é uma tradição nacional, o hábito de ler vem de casa e são formados novos leitores. O grande problema é que muitos brasileiros foram do analfabetismo à televisão, sem antes passar por uma biblioteca. Para agravar a situação, muitos especialistas culpam a escola pela falta de leitores. Professores indicam excelentes clássicos do século IXX a jovens do Ensino Médio, são obras que normalmente não atraem esses jovens, que inclusive, as consideram chatas e pesadas. Com isso, o hábito da leitura deixa de ser estimulado e apreciado e, torna-se uma obrigação. A probabilidade desse jovem buscar novas leituras ao sair do colégio será remota. Há um grupo de educadores que defende a adoção do sistema anglo-saxônico, que sugere adotar clássicos mais próximos dos anos 50 e 60. É um debate latente, que deve existir e ser frequente entre educadores, para que o país encontre meios de estimular a leitura e formar novos e bons leitores.

Uma das razões de apostarmos e investirmos em cultura no Jornal Portal, é acreditarmos que podemos colaborar com a formação de novos leitores e, insistiremos nesse propósito. Se você leitor, chegou ao final desta matéria e, sabendo que você faz parte de uma minoria, ficamos satisfeitos em saber que estamos no caminho certo.

Aí vai a dica do Portal para leitura, selecionamos 10 livros para incentivar você a ler mais:

1. Um amor incômodo, de Elena Ferrante.
2. Sapiens – Uma breve história da Humanidade, de Yuval Noah Harari
3. Homo Deus, de Yuval Noah Harari
4. Os testamentos, de Margaret Atwood.
5. Madame Bovary, de Gustave Flaubert.
6. 101 dias em Bagdá, de Asne Seierstad.
7. Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
8. O alforje, de Bahiyyih Nakhjavani
9. Não conte a ninguém, de Harlan Coben.
10. A mulher silenciosa, de A.S.A Harrison.

Fontes: Instituto Pró-Livro; ANL; Centro Regional para el Fomento del Libro en América Latina; G1/O Globo; Estadão/Cultura.