Um grito de liberdade para a nova geração

Precisa-se urgentemente de práticas que levem a mudanças sociais, principalmente quando se fala de racismo. O assunto é sério, por mais sanções que existam quanto aos atos preconceituosos, nada parece surtir efeito. O tema é de extrema importância especialmente para quem vai fazer o futuro diferente.

Não dá para entender porque o setor artístico preto ainda sofre tanto preconceito, pois a cada obra nota-se a beleza de tantos trabalhos cênicos riquíssimos, belíssimos e premiados. Mas sendo o Teatro tão político e tão imenso, nascido do povo, vem gritar a seu favor, com eloquência. E é exatamente por isso, que a belíssima obra de Junior Dantas está aqui nessa coluna!

Não se pode fechar os olhos e deixar passar desapercebida a chance de reverberar um espetáculo tão importante e atual.

O Sesc Tijuca volta com excelência e enxerga do alto, como águia, a carência da sociedade. Incrível a concepção e a identidade dessa instituição incansável, sempre focada e incisiva no mais belo dos ideais: educar!

O monólogo “O Pequeno Herói Preto” é uma obra de viés pessoal, exatamente por isso, tem legitimidade, sua essência é real, nasce da memória do artista, que apresenta sua história num solo infantil gracioso e convincente.

“Representatividade importa”. A frase que tem se repetido ultimamente, reforça a criação do espetáculo inédito “O Pequeno Herói Preto”, que estreou sua primeira temporada, presencialmente, no dia 2 de outubro, no Teatro Sesc Tijuca. Contando a aventura de Super Nagô, um Youtuber de 10 anos, que descobre seus poderes por intermédio de sua família.

O solo infanto-juvenil tem apresentações em sessões duplas, aos sábados e domingos, sempre às 11h e 16h. Interpretado por Junior Dantas, que assina o texto com Cristina Moura — responsável também pela direção ao lado de Luiza Loroza. Depois da curta temporada virtual de abertura, o espetáculo traz ao teatro presencial novidades e pequenas alterações.

E assim segue a obra no palco italiano, com profissionais de ponta do Teatro negro. Luiza Loroza é imensa, suas mãos são mágicas, ela assina a direção. Conectada ao espetáculo infantil, leva a mesma precisão que atua como atriz a sua direção nesse trabalho. Investiu no desenho de luz, o que deu muito certo. Deixando claro, que a linguagem foi lapidada com mais maturidade, também trouxe um herói que é digital influencer, o que dialoga super bem com os pequenos desta nova geração digital.

Ah! Que não sejam esquecidos o sofrimento e as terríveis injustiças sofridas pela população preta, que se reergue diariamente e ainda com mais força traz alegria, em tudo que representa, seja no samba, no congo ou no Teatro. Quem os assiste sabe bem do que se trata!

O monólogo também bebe dessa teoria, diante de uma atitude grosseira de racismo feita à mãe de uma criança, a força, alegria e o amor, parecem ser muito maiores e fazem fluir desfechos mais inteligentes, pois a ignorância da não aceitação e do desrespeito é atropelada pelo mal-estar.

Tereza Nabuco é a figurinista, tudo bem harmonizado ao texto. E como todo super-herói tem poderes mágicos, as roupas do Nago brilham no escuro. A figurinista foi tão real quanto a narrativa do ator Junior Dantas. Trouxe ao palco uma construção com o que estava ao alcance. Incrível!

Cachalote Mattos é o cenógrafo, que trouxe luz, muita luz. E fez bem. Durante o espetáculo algumas crianças tentavam pegar os feixes de luz com as mãos. Fantástico! Quando o Teatro é infantil, o que vale mesmo é que elas sejam contagiadas e ponto final!

Vale lembrar que a iluminação vem também dos profissionais Ana Luzia Molinari de Simoni e João Gioia. Todos em harmonia ofereceram aos espectadores vida. Bem diferente do que se viu no audiovisual, quando o espetáculo foi estreado na plataforma do Youtube.

Muato transforma a obra em movimento ao assinar a direção musical, composição, produção musical e percussão corporal.

Se um adulto assistir ao espetáculo, não deve deixar de observar a reação e o comportamento das crianças e perceberá o quanto eles se envolvem com o super-herói, dançam e ficam atentos a toda história. O que não poderia ser diferente com um artista como Junior Dantas. Ele vem temperado de ginga, alegria, esperança e muitos outros sentimentos bons. Ele e as mãos arteiras que estão a seu lado foram bastante atentos a todos os detalhes.

Junior é um super-herói, primeiro por ser artista no Brasil e segundo, por ser um negro no Brasil, mas isso passa desapercebido diante da sua potência cênica. Quem conhece seus trabalhos sabe do seu tamanho e da sua presença em palco. Ele chama a atenção em qualquer papel. Impossível ver outro ator como Super Nagô.

A retomada do SESC Tijuca e do ator Junior Dantas foi bela e crucial. Espetáculo lindo onde todos são convidados a recomeçar a história com pé direito e atentos ao que se está plantando para o futuro.

Parabéns Junior, você não está sozinho, seguimos com você e com seu grito de liberdade!

O PEQUENO HERÓI PRETO

Temporada até 24/10

Sábado e domingo, às 11h e às 16h

Sesc Tijuca (Teatro 1)

Rua Barão de Mesquita, 539, Andaraí

Informações: (21) 4020-2101

Ingressos:

PCD – Grátis

R$ 2 (Habilitados SESC)

R$ 5 (Meia entrada)

R$ 10 (inteira)

A bilheteria do teatro funciona de 3ª a domingo de 9h às 17h

Duração 45 minutos

Classificação Livre

FICHA TÉCNICA

Idealização e Obra Original: Junior Dantas

Texto: Cristina Moura e Junior Dantas

Atuação: Junior Dantas

Direção: Cristina Moura e Luiza Loroza

Consultoria de Texto: Kiusam de Oliveira

Direção Musical, Composição, Produção Musical, Percussão Corporal: Muato

Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni e João Gioia

Cenografia: Cachalote Mattos

Figurino: Tereza Nabuco

Assistente de Direção e Produção: Joa Assumpção

Animação e Ilustração: Luísa Martins

Assistente de Ilustração: Diego Ávila

Mixagem e Masterização: Rodrigo Gavião

Costureiras: Sônia Maria da Silva Andrade e Adélia Andrade

Cenotécnico: Moisés Cupertino

Assistente de Cenografia e produção: Matheus Ribeiro

Técnico de Som: Bob Reis

Técnico de Montagem e Desmontagem: Juca Baracho e Guiga Ensa

Eletricista: Leandro Cesar Mattos Dias

Programação Visual, Fotografia, Direção De Vídeo e Edição: Rodrigo Menezes

Mídias Sociais: Junior Dantas e Rodrigo Menezes

Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Assessoria – Gisele Machado & Bruno Morais

Direção de Produção:  Damiana Inês

Produção: Bloco Pi Produções