Tesouro da Era do Gelo encontrado na floresta Amazônica

Enquanto o mundo parece ter parado para lutar contra uma pandemia avassaladora e a busca por meios de imunizar toda população terrestre, inúmeros registros de arte rupestre, retratando enormes criaturas da Era Glacial, são encontrados na floresta amazônica e revelados por pesquisadores e arqueólogos do projeto Erc LastJourney, da Universidade inglesa de Exeter. Uma descoberta surpreendente, em plena selva Colombiana, evidencia que os primeiros habitantes da floresta tropical viveram ao lado dos gigantes animais da Era do Gelo.

Pinturas incríveis, provavelmente feitas por volta de 11.800 a 12.600 anos atrás, retratam diversos animais extintos há milhares de anos, peixes, tartarugas, bichos-preguiça gigantes, cavalos da era glacial e até um mastodonte, parente distante dos elefantes, além de pessoas em rituais e dançando, estão registradas em três cavernas, sendo que na maior delas, Cerro Azul, estão dispostos 12 painéis e milhares de pictogramas.

Há indícios de que essas pinturas, que permaneceram escondidas por tanto tempo, tenham sido feitas há mais de 12,5 mil anos. Algumas estão dispostas nas partes mais altas das paredes rochosas e só puderam ser observadas com o auxílio de drones.

      Foto do Paredão Rupestre – Guillermo Legaria/AFP

A região onde encontraram esse tesouro arqueológico fica a 400 km de Bogotá. Uma área de mata verde preservada e fechada, na “Serranía de la Lindosa”, ao norte de onde serpenteia rio Guaviare. A área se manteve isolada sob controle das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, os rebeldes da Farc. Por essa razão, arqueólogos e estudiosos só tiveram acesso à região em 2016, pós assinatura do tratado de paz entre os guerrilheiros e o Governo.

De acordo com o arqueólogo Mark Robinson, da Universidade de Exeter, as imagens são realmente impressionantes e foram produzidas pelas primeiras pessoas que habitaram o oeste da Amazônia. Essas pinturas compõem um dos maiores acervos de arte rupestre da América do Sul.

Para esfoliar as rochas e deixar as superfícies mais lisas e planas, os ancestrais usaram fogo, afirmam os especialistas. E por estarem protegidas por outras pedras, apesar de expostas ao tempo, estão em melhores condições de preservação do que outras pinturas da arte rupestre encontradas na Amazônia.

Historiadores, analisando fósseis, afirmam que os pintores desses desenhos encontrados eram caçadores-coletores, que se alimentavam de frutos de palmeiras e árvores, pescavam piranhas e crocodilos no rio e também comiam cobras, tatus e roedores.

A pesquisa se aprofunda na região e os pesquisadores pretendem descobrir quando os humanos se estabeleceram na região e como afetaram a biodiversidade.

José Iriarte, professor de Arqueologia de Exeter, disse à CNN que as descobertas são uma etapa inicial de um projeto que durará cinco anos.

“Um dos objetivos imediatos é documentar toda a arte rupestre da área e descobrir que outros animais são retratados”, disse ele. “Essas pinturas rupestres são uma evidência espetacular de como os humanos reconstruíram a terra e como caçaram, cultivaram e pescaram”, completou Iriarte, que ficou impressionado com o realismo das pinturas encontradas.

          Arqueólogo José Iriarte e o paredão rupestre recém descoberto – Foto José Iriarte/Arquivo Pessoal

Os novos achados arqueológicos remetem à arte rupestre existente no Parque Nacional Chiribiquete, situado próximo à região da nova descoberta. O que evidencia que há 19 mil anos os seres humanos habitavam o território e decoravam suas rochas com cenas do seu cotidiano, caça, dança e comida. Ao lado das figuras humanas há imagens de cervos e alces, porcos-espinho, cobras, pássaros, macacos e insetos. No entanto, a maioria dessas pinturas estão nas áreas mais elevadas e de difícil acesso do Parque Nacional Chiribiquete, Patrimônio da Humanidade.

Há uma enorme ansiedade por parte dos arqueólogos e pesquisadores de que esse sensacional achado revele novas facetas da vida humana na Amazônia da era glacial. Pois as pinturas não só informam sobre as espécies animais e vegetais que existiam na época, como também revela como seus habitantes se comunicavam, seus rituais xamânicos, suas preferências. O novo tesouro da Amazônia provavelmente levará décadas para ser desvendado, analisado e documentado.