Resgate o passado, jogando com Yara de Novaes 

Yara de Novaes cria um inédito jogo teatral virtual para investigar o passado familiar e refletir sobre representatividade e embranquecimento no Brasil.

Yara cumpre seu papel artístico ao se desnudar diante dos espectadores, no espetáculo virtual, (Des)memória. Quase um ano de isolamento social e fuga de aglomerações, para atender ao público, os artistas brasileiros encontraram uma forma de aproximação dos espectadores, dessa camada da sociedade, que encontra na arte um alento, um respiro, fôlego, por intermédio de diversas plataformas virtuais, artistas explodem em criatividade.

O espetáculo “(Des)memória” é dirigido por Yara Novaes, a atriz esteve no Itaú Cultural, no Sesc ao Vivo e veio como um concorde, cheio de força, para o site do Teatro em Movimento, que apresenta inúmeros espetáculos teatrais das cidades mineiras e também de outros estados. 

A peça, exibida gratuitamente no site, transporta o espectador a um novo universo, ao jogo!

O trabalho virtual só pode ser assistido por meio de um computador, para percepção total dos movimentos necessários, que os usuários/espectadores precisarão fazer para acompanhar o jogo, quando será necessária a utilização dos teclados para movimentar-se. 

 Uma fonação simpática, muito agradável, que transmite uma sensação de proximidade, como se, atores e público, não estivessem distantes. 

O texto apresenta o embranquecimento familiar da atriz, que também dirige a obra. Interessante como as aprendizagens são trazidas, racismo ambiental é um exemplo disso.   

Pasmem, o embasamento é contundente, basta analisar os fatos apresentados e os tristes dados. Por meio desse viés pessoal da atriz, é possível se entender mais da complexidade do Brasil étnico e do racismo estrutural, tão entranhado na sociedade. 

Trata-se de um espetáculo interativo, que depende do espectador para ter continuidade, uma grande sacada, que precisou de profissionais capacitados a participaram dessa ideia inovadora. 

O áudio visual faz uma viagem a lugares por Minas Gerais para desenterrar evidências e compreender um pouco mais da árvore genealógica, da ancestralidade de Yara Novaes. 

Yara viaja no tempo e mostra os lugares por onde sua bisavó passou. Em um dos momentos, ouve-se algumas sábias colocações, relatos incentivadores, que alinhavam as histórias.

No espetáculo virtual a atriz Yara conversa com seu filho (personagem), que também duela com a mãe, harmoniosamente, por meio do áudio.

O ator Lucas Costa integra o elenco com graça. Fafá Rennó é um elemento super interessante, e para assisti-la é necessário aceitar a ligação da atriz, no caso, a irmã de Yara Novaes, que aparece por intermédio das ligações feitas do telefone móvel.  

Cida Moreno tem uma narrativa de peso, entretanto mesmo sendo uma atriz potente, em tela é possível apreciar em sua interpretação uma encenação mais aveludada, macia, leve, sedutora e fantástica! Com uma fala rica, Cida nos relembra o ator Hilton Cobra no monólogo “Tragam-me a Cabeça de Lima Barreto”, onde explicações descabidas são feitas aos literários negros. Um espetáculo que rodou o Brasil por intermédio do Palco Giratório do SESC, um dos melhores projetos teatrais do Brasil, se não o melhor. 

Na verdade, os espectadores já conhecem a competência, a excelência dos trabalhos de Yara Novaes, ela é sinônimo de boa qualidade cênica.  Formada em letras e entregue ao oficio, parece deixar-se levar por suas intuições teatrais, que acabam dando bons frutos.  

Não há necessidade de falar da iluminação, figurino, cenário, mas sim da mensagem entregue ao público, nos quarenta e cinco minutos, na companhia do elenco e de todos os envolvidos. Faz-se a importância do tema. 

O início do texto é carregado de poesia, emoção, mas requer atenção. As explicações sobre o racismo estrutural aparecem no espetáculo por meio de narrativas. Para a construção de indivíduos desprovidos de tantos preconceitos, com uma ampla formação ética e moral, a peça deveria ser apresentada aos jovens, em escolas de todo país.

Yara surpreende sempre! 

‘(DES)MEMÓRIA’ 

Temporada até 10/2

Disponível no canal Teatro em Movimento, gratuitamente.

Acessibilidade: o espetáculo possui versão legendada.

Acesse:  http://teatroemmovimento.com.br/des-memoria/

FICHA TÉCNICA

Direção: Yara de Novaes
Assistência de criação: Lucas Costa
Dramaturgia: Vinícius de Souza
Assistência de Dramaturgia: João Gabriel
Elenco: Alexandre CiolettiCyda Moreno, Fafá Rennó, Josy Anne, Lucas Costa e Yara de Novaes.

Desenho de Som e Trilha Sonora: Barulhista
Desenvolvimento e Design de interação: Abstracto Studio
Produção gráfica: Abstracto Studio,Nívea Gomes e Rodney Arôuca
Game Design e Composição digital: Italo Travenzoli
Figurinista: Lira Ribas
Fotos (Menu) e captação de imagens (abertura): Murillo Basso
Captação/edição de imagens (cena final): Pablo Bernardo
Captação áudios/off: Morris Picciotto
Criação e edição de vídeos (abertura e créditos): Estúdio Ofício / Tiago Macedo.

Supervisão artística: Profa. Dr. Mariana Lima Muniz
Consultoria: Profa. Dra. Leda Maria Martins – UFMG/Prof. Dr.Pablo Gobira – UEMG /Profa.Dr. Heloísa Maria Teixeira – UFOP.

Idealização e Coordenação de produção: Tatyana Rubim
Realização: Rubim Produções 

Fotos Murillo Basso