Recém-Politizado

Essa espécie aparece o ano todo e vem se proliferando no Brasil dos últimos tempos, contudo, é no período eleitoral que o Recém-Politizado se reproduz feito chuchu na serra e se torna capaz de lotar estádios e estádios de futebol.

O Recém-Politizado tem como característica predominante o recente interesse por política. Essa predisposição social leva a um sintoma frequente em todos os casos: querer falar sobre política o tempo todo, mesmo sem dominar tanto o tema.

É um pequeno pássaro querendo voar e, por isso, sai batendo em galhos e terras por não ter muita habilidade com as asas — a direita e a esquerda. Contudo, o pior é que é um passarinho que nem formou um peito de pombo ainda, mas que quer cantar como um velho rouxinol.

Não que seja ruim as pessoas se interessarem por política. Óbvio que não é. Muito pelo contrário. Em um país com tantos problemas como o nosso, é extremamente necessário. O problema é que o Recém-Politizado nasce com sete bocas e meio ouvido.

A novidade é impetuosa. E o Recém-Politizado embarca na onda. Só ele quer falar nas discussões sobre política. Qualquer debate vira monólogo. Fora a repetição de clichês e frases feitas ditas como se fossem a grande reflexão da vez. “Você sabia que…”, geralmente, esse raciocínio é concluído com algo que todo mundo, que já foi Recém-Politizado um dia, sabe.

O tempo é o remédio mais rápido para certas questões. Com o Recém-Politizado é assim. Vai melhorando com o girar dos relógios, das eleições. De dois em dois anos, ganha mais casca, amadurece. Seis bocas somem e fica uma só. Passa a ter dois ouvidos. Isso na maioria dos casos, é claro. Sempre tem exceções.  Acontece com alguns uma involução da espécie, um darwinismo dando Moonwalk.  Porém, é exemplo para outro dia — ou nunca mais.

O Brasil é conveniente condenado ao futebol.  O Recém-Politizado é vitima disso. Observa a política como uma briga entre torcidas. Ignora quem manda no jogo — que nesse caso é quem fica nos bancos, cheios de reservas. Não estou negando as paixões no mundo político. Elas são essências.  Para isso e para tudo na vida. Todavia, nessa partida, é melhor sentir com inteligência e pensar com emoção.

Falando em futebol, muita gente sempre desejou que o brasileiro gostasse de política como gosta de ver a bola rolar nos gramados verdes por aí. Eu concordo. Só acho que não precisava ser tão igual. É muita bola fora. Mas sigo na torcida para que façamos mais gols. Chega de 7×1.