Papo cabeça

Quando estava na terceira ou quarta série do ensino fundamental, a professora Mara falou para a turma da qual eu fazia parte que cérebro é para usar, que quando não é usado, ele atrofia, diminui. Deu frutas como exemplo.  Garantiu que quando pensávamos bastante, nossa massa encefálica poderia chegar ao porte de um a melancia. Caso contrário, ficaria do tamanho de uma uva.

Eu, apesar de sempre ter tido certa fome para o conhecimento (mas só do que eu gosto. Nada de jiló, por exemplo) não queria ter uma cabeça de melancia. Não queria ser como meu colega de classe chamado Erick, que recebeu o apelido de “capacete” por conta de sua protuberância craniana. E Erick nem era inteligente. Ele era um cabeça de uva.

Cabeça de uva, eu também nunca quis ser. Acho que não foi isso que me tornei com o passar de tantos anos. A prova a meu favor é que eu me lembro dessa saborosa história. No entanto vou dar um corte na salada de frutas para ir logo à semente desta crônica.

No recheio da casca que foi o comentário da professora Mara está a ideia de que o cérebro, assim como quase todas as partes do nosso corpo, deve ser exercitado. Sempre que me forço a entender um tema mais complexo para minhas limitações intelectuais, sinto minha cabeça em uma espécie de expansão, como se estivesse crescendo mesmo.

Quando a compreensão é alcançada acontece um sentimento prazeroso.  Muito prazeroso. Um orgasmo intelectual.  Contudo, para chegar a tal nirvana é preciso muito esforço: preliminares e perseverantes.

Uma coisa que vem acontecendo no Brasil e no mundo dos últimos tempos é a reflexão fast-food. Assuntos de extrema complexidade são resumidos a um meme, uma frase de efeito, uma parte de um discurso pronto e limitado. Não há nada mais broxante.  Na verdade, há sim. Só que deixa para lá.

A reflexão fast-food é o extremo oposto do saudável raciocínio da professora Mara, que comparava nossa capacidade de pensar com o tamanho das frutas.  Por outro lado, o amplo orgasmo intelectual tem como oposição a reflexão precoce.  Vamos parar de pensar besteira.