Os ‘Scammers’ e a carência emocional

A internet chegou e revolucionou o mundo, as relações comerciais, financeiras, familiares e pessoais. Longe de mim, ter algo contra o avanço tecnológico das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação). Pelo contrário, sou favorável a tudo que elas nos proporcionam, mas preciso trazer este tema para também abordar um aspecto sombrio de tudo isto.

Trago hoje para esta coluna o assunto: “Scammers”. Tive contato com um deles há mais ou menos treze anos. Recebi um convite numa rede social, em seguida iniciei uma conversa, interessada em “treinar meu inglês”, já que o usuário se dizia britânico. Muito habilidosamente, ele tentou me envolver em suas conversas, dizendo-se viúvo, pai de um menino de quatro anos, e absolutamente romântico, daqueles homens que visualizam e creem no casamento como um encontro de almas, para a vida toda.

Ora, pra uma mulher romântica, ou carente, isso soaria como música aos ouvidos. No entanto, eu conversava com ele por ser britânico e em determinado momento, comecei a perceber algumas falhas na escrita, que me parecia bastante americanizada. Isso sem falar de alguns erros, que aparentemente me pareciam oriundos de tradutores on-line.

Passei a pesquisar sobre o tema, salvei as mensagens trocadas e encontrei vários casos nos quais os textos e as narrativas seguiam o mesmo padrão. Estes homens são golpistas que agem esperando um retorno, que pode ir desde informações bancárias ou pessoais a senhas ou outros artifícios de valor. No primeiro caso, das informações, a prática é chamada de “phishing”, mas a que abordarei nesta matéria é a segunda modalidade, que visa apropriação de dinheiro e coisas de valor mediante o convencimento e o envolvimento emocional.

Fiquei surpresa ao perceber que este golpe, também conhecido como “catfishing” ou “scam romance” é muito recorrente e lesa seriamente muitas pessoas. Os perfis são difíceis de serem identificados, porque os “Scammers” apropriam-se das fotos de pessoas reais, com família e filhos, fotos em cenas bem confiáveis, criam perfis com outros nomes, de modo que vendem uma imagem absurdamente fantasiosa, mas que se aproxima do natural.

Lembro-me de ter ficado chocada ao ler, que na África são comuns “Lans houses” tomadas por pessoas que se dedicavam a essa prática e que a mesma corresponde a uma espécie de “segunda renda” de parte da população. Os artifícios englobam solicitações de pedido de mudança de senha, ou comprovação de autenticidade, oferta de produtos gratuitos, venda de seguidores e interações nas redes como curtidas, por exemplo, empresas de renegociação de dívidas, ou oferta de enriquecimento rápido, contudo o “namoro on-line” será a modalidade que discutiremos aqui.

Esse esquema afeta na maioria das vezes, mulheres e os criminosos estabelecem uma relação de confiança. Alguns dizem que irão até a vítima, para se casarem, inventam histórias mirabolantes e criam situações onde as pessoas mais carentes ficam vulneráveis e acabam por acreditar nas histórias. O “Scammer” com o qual mantive conversa, chegou a me telefonar algumas vezes e eu tive que confrontá-lo, porque pesquisei o código DDI das chamadas e vi que era do continente africano. Ele persistiu na mentira dizendo que estava fazendo um serviço para uma empresa.

Para se proteger, sugere-se que não enviem fotos íntimas, para não serem extorquidas no que é nomeado como “sextorsão”. Verifique as datas de criação das contas, o local onde foi criada e quantos perfis, ou nomes parecidos existem na plataforma. Para além disso, as Centrais de Privacidade das redes sociais aceitam denúncias deste tipo de violação dos termos de uso das plataformas e é fácil encontrar perfis de mulheres e homens que foram vítimas e auxiliam outras pessoas a se precaverem deste tipo de crime.

Porém, a melhor defesa será manter sua saúde emocional, autoestima e racionalidade em dia, pois uma vez que se caia num golpe, não há muito o que fazer para recuperar os bens ou dinheiro perdidos, uma vez que o envio ou a remessa normalmente é feito por livre e espontânea vontade da vítima.