O banquete tropicalista de Guto ‘inquieto’ Goffi

— Entusiasta da fotografia, o baterista Guto Goffi tem uma faceta pouco conhecida do grande público. Há cerca de 15 anos vem produzindo uma vasto material fotográfico com imagens que distorcem o cotidiano e despertam
reflexão. Toda essa iconografia inspirou o projeto C.A.O.S., o terceiro trabalho solo do músico, cantor e compositor que faz parte da formação original do Barão Vermelho.

As canções de C.A.O.S. — sigla para Confusões Artísticas e Obras Sonoras — ganhou materialidade sonora quando Guto e os integrantes da Banda do Bem, músicos que o acompanham em projetos paralelos desde 2016, entraram em estúdio. Goffi ainda contou com o auxílio luxuoso do guitarrista Nani Dias na produção do álbum. E o resultado é bem diferente do que se espera de um barão de primeira hora: um rock mais experimental que incorpora outras linguagens musicais como ritmos brasileiros como o samba, jongo e maracatu e até mesmo latinos como o tango e a salsa.

— Gosto de definir C.A.O.S. como um banquete tropicalista de sons, versos, solos, batidas e outros sensores de energia musical — filosofa o músico, acrescentando que os arranjos no estúdio foram nascendo de forma natural e orgânica, sem fórmulas pré-concebidas. — Tudo nasceu da participação de meus  companheiros de banda, pois não acredito nessa coisa de dizer que o álbum é uma trabalho solo meu. Tudo são parcerias — prossegue.

Parcerias para montar os arranjos como para criar as canções. E nesse quesito Goffi criou as canções do álbum, com os barões Maurício Barros (teclados), Fernando Magalhães (guitarra) e Rodrigo Suricato (guitarra e
voz) nas músicas “Cérebros e cabeças” (“Pra comer um prato vivo / Só com mãos de general / Sobre o imperfeito tanto me decido / Para ter um Deus melhor, mais que o infinito”) e “A travessia” (“Vamos começar de novo / O bom e o ruim / Porque a verdade está no meio”) e “Na hora de rezar” (“Homens também são anjos / Quando querem se ajudar”), respectivamente. Ouça “Travessia” aqui:

Os colegas de Barão compuseram essas músicas separadamente com Guto, que assina sozinho três músicas do álbum: “Mais feliz”, “Mil nadas” e “Mais perfeito”. Aqui está a ótima “Mil nadas”, com fotos de autoria do músico
usadas no clipe.

Edu Krieger é o parceiro em “Samba do adeus” e Claudio Bedran, do Blues Etílicos, na ousada “Decassílablues” que, como antecipa o nome, é um blues com letra toda escrita em decassílabos (“Todos os imortais estão mortos / Rei não será fácil para ninguém”).

Guto ainda dividiu composições com o guitarrista e compositor carioca Claudio Gurgel (“A queda”) e poeta curitibano Xambu (“Búfalos e leões”) — a única letra que não é de Guto Goffi, que compôs versos e melodia sozinho pela primeira vez em “Tão longe de tudo”, no álbum “Na calada da noite” (1990), do Barão Vermelho.

Com este trabalho, Guto quer correr o Brasil e tudo começará pelo Rio, com uma série de shows na casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, mas os shows estavam previstos para os dias 12, 19 e 26 de março e 2 de abril e foram adiados por causa da quarentena do coronavírus.

Além do repertório de C.A.O.S., Guto quer relembrar canções de seus dois trabalhos solo anteriores: “Alimentar” (2011) e “Bem”, (2016), e alguns sucessos compostos por ele para o Barão. C.A.O.S. foi lançado agora no início de 2020 mas deverá ter lugar cativo entre os melhores álbuns de rock nacional lançados ao longo do ano.

Quando deixar o Rio para pegar a estrada, vocação de todo artista, Guto terá a participação de artistas plásticos expondo as suas telas no cenário.

Foto divulgação