Nasci na época certa

Confesso que já cometi a frase “nasci na época errada” ao falar de gosto musical, comportamento social e outras pautas. Disse isso em outras épocas, quando era mais jovem. Contudo, a cada dia que passa e leva minhas horas para passear não sei onde, eu penso que nasci na época certa.

Nós, que cá estamos, nesse mundo de agora, conseguimos, tranquilamente, reviver os ontens. Se você curte música dos anos 1960 é fácil ouvir música dos anos 1960. Muito provavelmente em quantidade mais massiva que naquela época, porque o ritmo de gravações e lançamentos era outro. Agora, você vai na Internet e tem tudo lá, na quantidade que quiser. Basta clicar “sim”.

Comportamento social, admiração por lutas que foram travadas no passado, também causam, em muita gente, o anseio de ter vivido em outra época. Mas pera lá. O problema é esse? Então, não cola. Não faltam lutas para lutar, sociedade para debater. O mundo muda, mas muda pouco.

Nem adianta usar a moda como argumento. O que a gente mais vê é algum estilo de décadas passadas voltar. Fontes confiáveis desse meio me garantem que o próximo retorno é o da onda emo, famosa nos anos 2000 – sim, anos 2000 já é passado nostálgico para muitas pessoas. Aceita, você está ficando velho. Porém, olhe pelo lado bom, como fala o eterno Luis Fernando Verissimo: “Envelhecer é chato, mas consolemo-nos: a alternativa é pior. Ninguém que eu conheça morreu e voltou para contar como é estar morto, mas o consenso geral é que existir é muito melhor do que não existir”.

O próprio pouco claro funcionamento da Terra também parece viver de ciclos e, vez outra, chama algum passado para uma visita. Seja ele natural, ou social. As guerras e pandemias são exemplos trágicos disso.

A época que estamos vivendo, mesmo com todos os problemas, é a melhor para reviver certos passados. Essa comunicação acelerada que nos empurra para frente sem muito rumo, também nos possibilita olhar para outras épocas e, de certa forma, reviver isso. Para o bem e para o mal. Basta ver esse monte de reacionário por aí. Esses sim tinham que ficar no passado sem nostalgia e desejo de volta. Sem saudades desse ex.

Eu por exemplo, poderia estar chorando pitangas (expressão de outra época), dizendo que seria bem melhor estar publicando esta crônica nos anos 1950, 1960, no auge deste gênero literário no Brasil, quando cronista era influenciador e nem existia Instagram. Porém, tô numa relax, numa tranquila, numa boa aqui, publicando meu texto para leitores que estão na época certa. Nosso tempo é o agora. O restante é incerteza se vai ou se volta. E tudo chega ao agora.