Mundo de Mazzaropi cantado por Elpídio

Os felizes canarinhos, ou artistas da Cia. Navega Jangada de Teatro, chegaram a nova linguagem teatral. Quanto lirismo é possível ouvir e ver, no espetáculo “Os Quatro Cantos de Elpídio”? Viva o Teatro por isso!

Eles chegam com um jogral interessante do Teatro Popular, que merece palmas, pois o povo se encontra e se reconhece no Teatro Popular, que sempre valoriza nossa cultura, que não deve ser esquecida e jamais calada.

“A paixão da jovem Catarina pelas músicas de Mazzaropi conduz a trama de “Os Quatro Cantos de Elpídio. Em busca de seu compositor preferido, Catarina vai até os estúdios Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, mas ali descobre que, na verdade, o autor das canções de que tanto gosta é Elpídio dos Santos. Começa, então, uma nova saga para conhecer o artista, agora em meio ao carnaval de São Luís do Paraitinga.” (Sinopse)

Para compreender a obra é preciso conhecer um dos maiores artistas do Brasil: Amácio Mazzaropi!

Mazzaropi desde muito novo mostrava sua capacidade cênica, os professores percebiam e apontavam suas características artísticas. Foi aluno circense e o único artista brasileiro a ficar milionário fazendo cinema. Foram três décadas arrastando multidões, fazendo o Caipira, um personagem divertido e amado. Até hoje em dia, os filmes do Mazzaropi podem ser assistidos na televisão brasileira, na TV Brasil e também na Netflix. Os longas-metragens do grande artista estão em todos os lugares e também em plataformas “streaming”. A dimensão da obra é subestimada por muitos, o que não deveria acontecer, devido a sua importância imensurável, sem contar que também são divertidíssimas. Tanta ingenuidade o ator carrega em seu personagem, que fica simplesmente impossível não rir com o artista e o personagem!

A Cia. Jangada foi assertiva ao escolher o tema apresentado, digna recordação e homenagem. “Os Quatro Cantos de Elpídio” é lindo e alegre, o que vem bem a calhar neste momento!

Elpídio dos Santos também não fica atrás de Mazzaropi, ao contrário, ele compôs vinte e cinco músicas para o artista. Grandes artistas musicais até hoje cantam suas canções. Artistas como Zeca Baleiro, Fafá de Belém, Almir Sater, entre outros, perpetuam suas obras.

A companhia teatral foi bela e popular, fiel ao que se propôs fazer, sem contar o prazer que é assisti-la e a seus doces artistas. São “tocadores da alegria”, trazem toda ingenuidade da época, o que seduz a plateia.

Nagila Sanches assina o figurino e não errou em nenhum dos atos, do início ao fim do espetáculo, cores e estilos apropriados, tudo bem pesquisado. Desenhos, flores, acessórios como os chapéus, dão vidas as indumentárias, que se assentaram com harmonia, tornando tudo muito simpático. As trocas de figurino feitas no palco é um ponto relevante para quem assiste. É tudo muito poético, além de sofisticado.

Os objetos de cena também foram bem acolhidos para o audiovisual. Zé Valdir assina o cenário, tudo bem brasileiro, como deve ser quando se apresenta a cultura popular!

A iluminação de Danilo Mora é simples e precisa. Talita Cabral responsável pela dramaturgia, teve mão forte na direção.

O que falar de um texto tão refinado e poético?

A alma dessa gente brasileira agradece, a dimensão dada à obra por Talita, que educou, ensinou, reavivou e deu a César o que é de César, nesse trabalho com artistas imensos e tão nacionais. Talita, entendeu a função do Teatro, como fio condutor da educação.

Um texto gracioso, dengoso até, alegre e interiorano, que agrada aos ouvidos. O elenco? Os canarinhos? Bem ensaiados, bem dirigidos, lindos e cientes dos seus ofícios e da importância de quem estavam encenando. Com sotaque do interior, o espetáculo é romantizado do início ao fim por um primoroso elenco: Rita Gutt, Gabriel Ivanoff, Rodrigo Régis, Dicinho Areias, Alef Barros, Melina Marcehtti, Rebeka Teixeira e Thiago Mota.

Palmas para eles!

A idealização da obra também é de Talita e de Rodrigo Régis, que também assumiu a direção musical, com muita eficiência, porque o legado de Elpídeo não é pequeno, o repertório foi bem escolhido para a obra. Que trabalho dengoso, mimoso sobre um artista que cantava a saudade, cuja dramaturgia falava de amor.

São mais de dez anos da Cia. Jangada de Teatro, óbvio que o público não poderia esperar menos do que assistiu. A crítica só pode elogiar e enaltecer. Se há algum arranhão a ser mencionado: o fato do espectador desejar subir no coreto do cenário e entrar na festa! Mais uma vez, obrigada Sesc!

FICHA TÉCNICA

Criação: Talita Cabral e Rodrigo Régis

Texto e direção: Talita Cabral

Direção musical: Rodrigo Régis

Elenco (atores e músicos): Rita Gutt, Gabriel Ivanoff, Rodrigo Régis, Dicinho Areias, Alef Barros, Melina Marcehtti, Rebeka Teixeira e Thiago Mota

Cenário: Zé Valdir

Figurinos: Nagila Sanches

Auxílio biográfico: Negão dos Santos e Lia Marques

Iluminação: Danilo Mora

Técnico de som: Yuri Mel

OS QUATRO CANTOS DE ELPÍDEO

Gratuito e On-line

Assista: https://www.youtube.com/watch?v=dvoSsvmRfeE&t=83s

Classificação Livre

Foto divulgação