Mahin: a mulher que habita em nós

“Luísa Mahin… eu ainda continuo aqui”. Impossível não se impactar com essa obra, a força desse trabalho é tão latente, que expande em todas as dimensões teatrais.

Impossível apagar sua voz, seu grito e sua história. Negra, africana da Costa da Mina, liberta. Luísa esteve envolvida em articulações políticas e em relevantes revoltas dos escravos, que, corajosamente, sacudiram a Província da Bahia. Alguns historiadores acreditam que ela tenha fugido para o Maranhão, onde, por sua influência desenvolveu-se o “tambor de crioula”, uma dança africana praticada por descendentes de escravos.

A atriz Cyda Moreno parece guiada por orixás, ao mostrar sua maestria cênica. Cyda já havia trazido aos palcos a escritora negra Carolina de Jesus, marcando ali sua coragem e competência para interpretar personagens fortíssimos. Nessa nova montagem seu movimentar pelo palco é belo e consistente, tira do espectador suspiros de admiração. Viva Édio Nunes e sua direção!

A força latente, que vibra da atriz em cena é visível. Quem sabe não seja a própria Luísa?!

As atrizes, que contracenam e comungam desse momento quase místico, também são convincentes e potentes, interpretam mães pobres e periféricas, que perderam seus filhos injustamente. Na verdade, para quem não se convence da realidade explícita na dramaturgia, basta abrir os jornais.

Gritos soam bem aos ouvidos. Gritos desesperados e de dor dessas mães negras, que choram a perda de seus jovens filhos negros. Esse é o mote do texto de Marcia Santos. E para ratificar as dores dessas mulheres contemporâneas, a história da ancestral Luísa Mahin se faz presente e é tão atual quanto as demais.

Luísa é a mãe de Rábula Luiz Gama, que ainda criança foi vendido pelo próprio pai, sendo separado de sua mãe. O tal “negrinho fujão, que libertou mais de quinhentos negros da escravidão”. Amigo de Raul Pompéia e também patrono da cadeira número 15 da Academia Paulista de Letras. Ele procurou por sua mãe por um longo tempo.

As vozes dos artistas Thelmo Fernandes, Marcelo Escorel e Gedivan de Albuquerque são bem colocadas e o ator Deo Garcez, na voz de Luiz Gama, foi uma escolha de muito bom tom, afinal ninguém defende Gama como Deo, que ao longo desses últimos anos, vem arrancando aplausos emocionados do público no monólogo homônimo sobre o abolicionista.

O figurino de Wanderley Gomes é lindo e bem executado, carregado de cores africanas. A obra é resultado de um trabalho necessário, pois é preciso mudar mentes e comportamentos.

A forma como a criança é arrancada da personagem interpretada por Cyda e como inúmeras crianças, ainda hoje, são arrancadas abruptamente de suas mães por causa da violência, é tocante, dentro e fora do teatro. A sensação, que gela a boca do estômago, de impotência, frente às brutalidades sofridas por Luísa Mahim e por tantas outras mulheres, continua…

Aliás, infelizmente, não é só uma sensação, é estatística!

As mulheres ainda carregam dores e desaforos do patriarcado e do racismo estrutural, enraizados na sociedade, e o universo feminino é exposto na fala das atrizes, vozes que ecoam por todas as mulheres que conhecem bem essa história, ou já sentiram a dor na pele e sofreram com essa bruta realidade.

Linda mensagem! Que toquem os atabaques, que se joguem e dancem a Capoeira e o Ubuntu!

LUÍSA MAHIN…EU AINDA CONTINUO AQUI
Teatro PetraGold
Online pelo Sympla e presencial (10% da casa)
Temporada: 16, 23 e 30/5, às 17h
Duração 50 minutos
Classificação 14 anos
Gênero Drama
Ingressos Presencial entre R$ 25 e R$50
Compre pelo Sympla https://bileto.sympla.com.br/event/67539/d/98056

FICHA TÉCNICA
Texto: Márcia Santos
Idealização: Cyda Moreno
Direção artística e corporal: Édio Nunes
Direção musical e preparação vocal: Jorge Maya
Atriz convidada: Marcia do Valle
Vozes dos policiais: Thelmo Fernandes, Marcelo Escorel e Gedivan de Albuquerque
Voz de Luiz Gama: Deo Garzez
Cenário e figurinos: Wanderley Gomes
Trilha sonora original: Jorge Maya e Regina Café
Percussão: Regina Café
Desenho de luz: Valdecir correia
Edição de vídeo: Madara Luiza
Fotografia: Cláudia Ribeiro
Design: Maria Julia Ferreira
Maquiagem: Andréia Jovito
Coordenação de marketing: Naira Fernandes
Apoio de pesquisa histórica: Aline Najara
Direção de produção: Cyda Moreno
Assistente de produção: Marina Silva