Izabel Padovani e aquelas coisas todas

Domingo é dia de mergulhar nas prateleiras e fuçar coisas para ouvir. Eis que bate em minhas mãos o CD de um dos melhores espetáculos que vi este ano. Trata-se de “Aquelas coisas todas”, que marcou em janeiro o fim da turnê do CD homônimo do duo formado pela cantora Izabel Padovani e pelo baixista Ronaldo Saggiorato. O álbum traz versões surpreendentes e sofisticadas de sambas, choros, baiões e outros ritmos, assinados por Guinga, Jacó do Bandolim e Tom Jobim, entre outros.

Os caminhos da paulista de Campinas e do gaúcho de Passo Fundo cruzaram-se em Viena, em 2000, onde viveram dez anos. O primeiro CD do duo, “Tons Bass&Voice”, de 2005, foi indicado para o Prêmio da Crítica Schallplattenkritik (Alemanha). A interpretação e os arranjos permitem ao sisudo contrabaixo, em sua versão de seis cordas, uma sequência de camadas sonoras numa explosão de acordes: a junção das partes harmônica e rítmica num único instrumento. O dedilhado do virtuose Saggiorato encaixa-se perfeitamente nos timbres que a mezzo-soprano alcança neste eclético repertório. “Nosso primeiro trabalho em duo tinha muitas participações. Agora, nos reaproximamos da atmosfera de nossas apresentações ao vivo, dando ênfase no baixo na voz e nas possibilidades de ambos”, explicou Izabel, que me recebeu para uma conversa um dia antes do show no Espaço BNDES. “À medida que foram desenvolvidos os baixos de cinco e de seis cordas, o instrumento ganha condições de sair do fundo do palco e ter o seu protagonismo, de mostrar seus recursos”, completa Saggiorato.

Vários sotaques musicais

“Aquelas coisas todas” é um CD que visita obras de compositores diversos e de várias linguagens musicais. E sotaques distintos como os do saudoso Dominguinhos, José Miguel Wisnik, Luiz Tatit, Rosa Passos, Luhli, além de Toninho Horta, com a música que dá nome ao CD. A escolha do repertório, diz Izabel, consolida “os melhores arranjos que fizemos para o duo ao longo desta parceria”. Mas a cantora assume uma predileção por temas antigos de um período anterior à Bossa Nova. “A gente sente a necessidade de preservar obras de grandes compositores sem, é claro, deixar de apresentar o novo”, afirma, referindo-se a canções como a belíssima interpretação de “Doce de Coco” (Jacob do Bandolim/Hermínio Bello de Carvalho), que tem como tema incidental o prelúdio da sublime Suíte nº 1 para Violoncelo, de Johann Sebastian Bach, ou “Alegria” (Assis Valente/Durval Maia).

Outro ótimo trabalho desta versátil cantora é “Passarinhadeira”, um passeio de gala pela obra de Guinga gravado ao vivo com a Orquestra à Base de Sopro de Curitiba, regida por Sérgio Albach. Ambos os álbuns estão disponíveis nas plataformas digitais.

Foto Divulgação