Irreverência Olímpica

A proposta era escrever uma coluna intitulada “Eu, Feminino”. Maravilha, adoro. Mas, peço licença para referir-me ao feminino de alguns equipamentos olímpicos, que nos tem proporcionado gratas surpresas. E vamos listá-los: as luvas, as velas, a rede, a toca e porque não incluir, a canoa e a bola? Quis encontrar um jeito de enaltecer os atletas, que estiveram por detrás desses equipamentos, independentemente do gênero, na última semana das Olimpíadas.

Atletas, que com todas as peculiaridades, que esse ciclo olímpico enfrentou, oriundos de um país, que passa por momentos tão difíceis, foram lá, honraram a nação e abrilhantaram nossa trajetória nos jogos. Mas aí, vem a seleção olímpica, e a despeito das possíveis punições do COB, sobe no palco com o casaco do uniforme oficial amarrado na cintura… Irreverência pura, que não me cabe aqui julgar, ou tecer posicionamentos. Apenas reconhecer, que foi bastante “brasileira” a ousadia.

E pego carona então, para falar da seleção masculina olímpica de Futebol, do Isaquias Queiroz, do Herbert Conceição, do Pedro Barros e do Alison dos Santos, no meio das meninas, que tão bem representaram o gênero feminino.

Ganhar uma final de Futebol e conquistar um bicampeonato, em duas edições seguidas, se equiparando somente à Argentina. Ah… isso tem, no mínimo, um gosto especial. Mas a alegria dos meninos na comemoração, a declaração do Richardson diante da noite “virada” era a demonstração tácita da saudade, que esse torneio vai deixar. Imagino então o Daniel Alves, como deverá estar vivenciando este momento único! Fato é, que Matheus e Malcon selaram nossa conquista com seus gols. Independentemente da cor da medalha, Isaquias, Hebert e Alison não formam somente um pódio, são representantes ilustres de um Brasil batalhador, sofrido, que precisa de algo para crer, de esperança para viver e eles, para além do brilho das medalhas, e do alto desempenho, nos deram também uma lição de humildade, de simplicidade, de naturalidade.

Igualmente nobre foi a conquista de Pedro Barros, na primeira apresentação do esporte numa edição, já escreveu nosso nome no Skate Park brasileiro! Tudo isso, mostra cada vez mais, o quanto o esporte é um caminho poderoso para a formação ética e moral do indivíduo.

Todavia, as meninas não ficaram para trás, bateram o recorde de medalhas femininas, em uma única edição, com o ouro de Ana Marcela, que mesmo diante de um desempenho de excelência, digno do lugar mais alto do pódio, manteve, assim como os meninos, sua postura humilde e nos deu uma lição de foco, perseverança e disciplina.

Não menos simples e humilde foi a grata surpresa da corajosa dupla Martine Grael e Kahena Kunze, que não hesitaram em traçar sua rota diferenciada, com a segurança de quem treinou, de quem se conhece e de quem sabe bem onde melhor navega. Igualmente gigante, foi a maravilhosa Bia Ferreira — não precisamos lhe desculpar moça — só lhe reverenciar! Que luta! Que orgulho! A menina sai direto do Nordeste brasileiro para representar o nosso país e conquistar a posição de segunda melhor do mundo! Isso é muito!

Dando sequência, trago aqui a seleção olímpica de Vôlei, que nos trouxe a prata e fez uma belíssima campanha. Esporte é isso aí, se de um lado nós nos abatemos, de outro, o time americano lutava por três edições seguidas pelo título. E chegar onde chegamos é muito! Não tira de forma alguma o brilho da campanha, das atuações, da performance e do profissionalismo com que encararam até mesmo o desligamento de uma componente, no meio do evento.

Vale ressaltar, que vivemos em um país, que muito deixa a desejar nos quesitos educação, esporte, saúde pública. Terminamos a edição com nossa melhor participação. Décimo segundo lugar alavancado, majoritariamente, pelo Nordeste e pelas mulheres! Quem diria? Então fica o recado aos governantes, num renitente apelo, para investirem em educação, em esporte, em qualidade de vida para a população. Muitos de nossos atletas ainda enfrentam a distância de casa, porque não possuem condições de treinar em suas bases.

Queremos menos ódio, mais amor, menos ego e mais saúde, menos ignorância e mais educação. Tenho certeza de que o Brasil poderia sim, estar no pódio dos países, se nossa população, guerreira e talentosa como é, recebesse equidade de condições com os atletas dos países de ponta. Fica a dica! Faltam só três anos e já estamos com saudades…

Bienvenue a Paris 2024!