‘Hell Center’: não há nome mais apropriado

Quem já usou a “Call Center” sabe como é seu funcionamento, e de certo os artistas e criadores da peça também já vivenciaram os centros de atendimentos, pois encarnam muito bem seus personagens. Tão divertidos, que parecem reais.

A fofoca corre solta dentro de um centro de atendimento e é bem reportada nesse espetáculo, com engajamento de dezessete artistas, que falam, se atropelam, suas vozes se embolam e se confundem, mesmo estando cada operador em sua baia, posto de atendimento individual desses profissionais, interlocutores com fones de ouvidos. 

Foi sucesso nacional quando o comediante Fabio Porchat no “Porta dos Fundos” tentou estabelecer um diálogo com a teleatendente Judite, evidenciando a importância destes canais de atendimentos e como se comportam esses profissionais, que são o elo entre o consumidor e as prestadoras de serviços, e respondem pela maioria dos serviços prestados pelas empresas.  

O espetáculo, criado durante o período pandêmico, desafiou artistas a investirem, sem grandes expectativas de ganhos iniciais, no sucesso deste projeto. O coletivo se uniu e fez acontecer.

A peça teatral, disponível on-line, acontece com os atores distribuídos simultaneamente por 5 ambientes diferentes e permite à plateia circular livremente pelos cenários, de forma independente, para acompanhar os membros do elenco, como desejar. Inegavelmente, uma apresentação inusitada e diferente. Trata-se de um espetáculo interativo, como um game. A facilidade é que está disponibilizado na plataforma, um vídeo instrutivo, que explica como usar as ferramentas e transitar pela peça, possibilitando qualquer pessoa a participar dessa inovação do teatro.

São cinco ambientes para acompanhar: copa, sala dos atendentes, sala de reuniões, entre outros. O público, de acordo com a escolha e interesse de cada um, pode mudar de sala a qualquer momento, no entanto, as performances não param e pode-se perder o final da história que inicialmente se assistia.

Esse estilo de apresentação e inovação vieram de fora do Brasil, mas nada que não pudesse acontecer com a ajuda e interesse de todos os quarentemados envolvidos no trabalho. Mas, a ajuda de fora foi necessária. 

A sinopse por audiovisual descreve um pouco do que está por vir a cada espectador.

“O deputado Vânio Barcellos consegue a aprovação de uma lei que favorece diretamente a empresa de Call Center “Boi na Linha” usada em seu esquema de lavagem de dinheiro: todos os atendimentos deverão ser por videochamadas. No meio do caos da pandemia – e do confinamento da quarentena -, os funcionários do telemarketing se olham obrigados a retornar ao trabalho e descobrem que terão que lidar com o novo sistema que os expõe e cria situações inusitadas. A revolta é imediata e piora ainda mais quando uma consultora (com fama de torturadora) é chamada para por todos nos novos padrões. Seus métodos inusitados acabam acirrando os ânimos e um grande mistério faz todos serem suspeitos.” 

E diante de uma tela momentos admiráveis podem ser acompanhados.  

Além de muita simpatia e cor, há a sala dos atendentes, com quase todo o elenco junto, onde muitos diálogos acontecem. A discussão quanto a máscara é divertida, algumas ligações são atendidas e é possível acompanhar e rir bastante. O toque do telefone provoca uma certa irritação, a intenção é justamente essa, remeter a um “Call Center”.  Nessa mesma sala é impossível não simpatizar com o personagem Juremir, interpretado pelo maravilhoso Igor Pushinov! Ele carrega alegria. 

Importante o espectador lembrar de que pode se ausentar de uma sala a qualquer momento. 

O elenco é de peso, escolhido a dedo. 

Thelmo Fernandes chama a atenção em diversas atuações, uma delas na sala de reuniões, quando contracena com a atriz Tuna Dwek, a Miss Bina. Ele, como de costume, encarna o personagem com louvor. Há entrega na voz, nas célebres encenações. Vale ressaltar que o papel foi criado para o ator, mesmo que ele não o aceitasse e foi uma grata surpresa quando o artista aceitou o desafio.

Thelmo Fernandes – Divulgação

Outro momento, com a atriz Andrea Dantas, simplesmente atropela com suas performances, em “As Crianças”, do grandioso Rodrigo Portela, a atriz simplesmente esteve arrebatadora, e mais uma vez se fez eficiente. Cereja no bolo!

Falar de Tuna Dwek é preciso. Perfeita. No figurino a caracterização se faz uma das mais interessantes da tela. Uma delícia assistir à monstra, incisiva, capacitada e brilhante atriz, mesmo quando encarna uma personagem nada bem-vinda. Tuna tem uma experiência com a ditadura e para ela foi um papel bem complicado inicialmente. Mesmo com uma certa experiência de vida frente aos demais, não falta disposição, também atua em outro espetáculo on-line, onde dá um show de vivacidade. Tuna sempre irretocável!

Tuna Dwek – Divulgação

Anderson Muller mergulhou tão fundamente na criação de seu personagem, que irrita qualquer cidadão de boa índole. Parabéns! 

São noventa minutos de “reality teatral”, onde o melhor a ser feito é fuxicar de sala em sala, para saber o que está acontecendo.  

O site foi construído especialmente para este trabalho, disponibiliza a venda de ingressos, pode-se anunciar e até mesmo tentar a sorte no ícone “trabalhe conosco”, vai quê… 

Quem entende um pouco de teatro, do uso da voz, sabe o que é um diafragma contraído pela postura de permanecer sentado por noventa minutos, um esforço exigido dos atores para projetar suas falas.  Bravos guerreiros!

O teatro cumpre, mais uma vez, sua missão. Político, opositor, instigador.

É Medeia golpeada pela política. Antígona lutando contra um tirano. Ionesco e seu Rinoceronte, mostrando o quão estúpido o comportamento humano pode ser. É o golpe de Estado em Hamlet de Shakespeare. É o teatro militante. É “Hell Center” e todos os envolvidos militando também, imprimindo suas marcas em um momento tão sombrio para o país. Resistem, mesmo desvalorizados e humilhados por um Governo anti-cultura, mesmo diante de todo terror tentam trazer alegria e leveza. Subversivos artistas conseguem com sua arte, aproximar e acalentar os corações. Essa glória carregarão, corajosos opositores e acima disso, defensores da arte e da cultura de um povo! 

Rodrigo Boecker cuida desse espetáculo como um guardião, além da codireção, assina o texto com Maurício Gyboski

HELL CENTER

Teatro On-line

www.hellcenter.com.br 

Curtíssima temporada até 26/4

Segundas-feiras, às 20h30 

Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)

Venda: www.sympla.com.br

Classificação 12 anos

Duração 90 minutos

Obs.: As vendas são semanais e os ingressos disponibilizados sempre às terças-feiras para a sessão da semana seguinte.

Dúvidas: grupohellcenter@gmail.com 

FICHA TÉCNICA

Criação:

Rodrigo M. Boecker

Luanna Barbosa

Maurício Gyboski

Texto:

Rodrigo M. Boecker

Maurício Gyboski

Elenco:

Anderson Müller

Andrea Dantas 

Bele Marinho

Bia Guedes

Claudio Torres Gonzaga

Fefa Moreira

Igor Pushinov

Jorge Medina

Julianne Trevisol

Kênia Bárbara

Lucas Oradovschi

Nando Brandão

Patricia Vazquez

Paulo Mathias Jr

Pia Manfroni

Thelmo Fernandes

Tuna Dwek

Direção de Produção:

Alina Lyra

Produção Executiva:

Raíssa Ulhôa

Lucas Malafaia

Direção de Arte:

Giana Lannes

Design:

Patrícia Fernandes 

Site e Webdesign:

Daniel Chevrand

Consultoria tecnológica de transmissão:

Richard Johansen

Matheus Petrovich

Produtor Musical:

Rodrigo Ferrera

Violino:

Amon Lima

Edição de vídeos:

Danilo Rodrigues

Narração:

Luana Curti

Rodrigo Martim

Assessoria de Imprensa:

Camila Novo

Coordenação de Marketing:

Luanna Barbosa

Consultoria em marketing:

Fellipe Guadanucci

Diretor Assistente:

Janaina Medeiros

Direção:

Rodrigo M. Boecker

Luanna Barbosa

Realização:

Alkaparra Produções