Grisalhos, sim ou não?

Está aí, uma pergunta que tenho me feito recorrentemente. Acho lindo quando vejo mulheres que assumiram seus grisalhos durante a pandemia. Um lado meu admira sinceramente, deseja profundamente ter a mesma ousadia.

Esse mesmo lado compreende perfeitamente que as mulheres acabam por serem escravizadas a padrões sociais, que ditam o que é certo, ou errado. Sim, porque os homens vão ficando grisalhos e a sociedade aceita, incentiva e até enaltece o poder das madeixas prateadas do gênero. Mas, as mulheres quando estão com suas raízes gritando, brancas, são frequentemente apontadas como desleixadas, descuidadas ou quando conseguem atravessar esse momento de transição, ainda sofrem críticas contundentes de boa parte da sociedade.

Vejo tudo isso e acrescento ainda, com a clareza que tenho, de que tudo é fomentado e apoiado pela indústria da beleza. Para que incentivar os grisalhos se a cada quinze, vinte dias, já nos vemos obrigadas a retocar as raízes? E são milhares de consumidoras. E cada vez, por mais tempo, visto a longevidade feminina, a cultura do bem-estar e da qualidade de vida, a prática de atividades, nos tornamos cada vez mais “coroas ativas” e produtivas no meio social.

Por conseguinte, as mulheres têm se cuidado até uma idade mais avançada. Ops! Olha eu comparando a tintura com o “cuidado”— é quase automática essa ligação.

Mas fato é que, não sei bem se por um motivo, ou por outro, já tentei algumas vezes, mas não consigo manter meus cabelos grisalhos. Raspei algumas vezes a cabeça com máquina três, exatamente para ter uma noção do quanto de cabelos brancos habitam minha cabeleira. Mas, não logrei êxito. Não consigo me reconhecer no espelho.

Eu não penso como uma mulher da minha idade. Sempre tive uma mentalidade a frente do meu tempo. E nessa busca, quase que involuntária, por um enquadramento na teia social me sinto perdida. Passei um mês e meio sem pintar os cabelos, como de praxe, isso me dá um pouco de tristeza. Sempre demorava um ou dois dias para identificar esse sentimento e quando me dava conta, lá estava ela, a bendita raiz branca aparecendo.

Mas desta vez, percebi que ficar este tempo todo sem pintar o cabelo me levou a desprezar outros cuidados como unhas, sobrancelhas, depilação das pernas… Ou seja, não é meu momento. Ainda não chegou a hora. A minha hora. Quando ela será? Não importa. Não preciso ir nem tanto ao mar e nem tanto a terra. Nem me culpar porque pinto meus brancos e nem forçar que eles apareçam, sem que eu me sinta bem.

No momento certo, isso acontecerá. Preciso me livrar mais uma vez dos julgamentos. Preciso apenas me autoconhecer. Uma tinta ontem e já fiz depilação, buço, unhas, e voltei a ter aquela dose de carinho e cuidado próprios, que havia desaparecido junto com a tinta.

Portanto, sejam bem-vindas todas as mulheres: de cabelos brancos, grisalhos, ou coloridos, o único quesito obrigatório é ser feliz do jeito que se está!