Feminista não, realista!

Primeiramente, quero deixar claro que o intuito desta matéria não é discutir posicionamentos políticos partidários. Considero a democracia soberana em todas as suas instâncias, e, portanto, respeito todos os posicionamentos embasados na coerência e na verdade. No entanto, estamos em um ano eleitoral e como de praxe, costumo navegar nos sites do TSE, do TRE da Unidade Federativa onde voto, além de pesquisar a vida dos meus possíveis candidatos. Retificando: das minhas possíveis candidatas.

Pois é, durante este meu movimento quase que investigativo, me deparei com a tabela abaixo, que está disponível no site do TSE. Confesso que mexeu profundamente comigo! Vivemos na atualidade várias discussões polêmicas e estruturais, temos olhado ao redor com um olhar de-colonial, de valorização das nossas origens, de ressignificação de termos, de contestação do racismo estrutural e me ocorreu que mais do que ter um discurso feminista, eu desejo compreender se passamos, nós mulheres, por um “machismo-estrutural”, que se apodera de nossas mentes e votos, sem que percebamos o quanto isso afeta a nossa representatividade.

Talvez pessoas venham apontar mulheres que na política tiveram histórias de fracasso, ou foram malsucedidas, mas ainda assim, temos ao longo do processo democrático elegido políticos do gênero masculino, incompetentes ou com histórias escabrosas. Muitas vezes o eleitorado reelege por dois, três, quatro mandatos, deputados, que muito pouco ou nada fizeram da oportunidade que lhes foi inicialmente concedida.

E quem é esse eleitorado? Nós, mulheres somos a maioria praticamente em todas as faixas etárias a partir dos 17 anos, só não somos maioria na estatística dos 16 anos! Como pode um país com 52,53% de seu eleitorado feminino, ter tão pouca representatividade política nas esferas municipais, estaduais e federais? Somos 79 milhões de mulheres eleitoras e os homens são 71 milhões. Você já se perguntou quem é responsável por isso? Sou eu, é você. Precisamos mais do que nunca compreender que como maioria eleitoreira, deveríamos ser melhor representadas quantitativamente, no cenário político nacional.

Não se trata de ter um discurso feminista, se trata de uma representação mais justa. E tem mais: se for agora numa emergência pediátrica pública, certamente a maioria dos acompanhantes das crianças são mulheres; se fizer uma pesquisa em escolas públicas, verá igualmente que a maioria dos responsáveis pela matrícula é do gênero feminino. Se pensarmos quem vai mais ao mercado e lida diretamente com as alterações nos preços dos produtos, majoritariamente serão mulheres. E o lixo das residências recolhido e disposto no dia certo da coleta, quem são as responsáveis na maioria das vezes?

A mulher é a maior usuária dos serviços públicos, ela também é maioria nos tratamentos preventivos e muitas vezes é graças a ela que a família também cuida da saúde. A mulher conhece muito de perto as necessidades do povo. Ela está numa posição de ascensão social, é maioria nas universidades, é maioria no sustento das famílias. Mulher é guerreira, trabalha doente, desenvolve múltiplas funções, assume duas, três jornadas de trabalho num único dia. Por que não merece estar posicionada em locais onde possa trabalhar em prol da melhoria de todos os segmentos acima citados?

Estou decidida: não voto mais em homens até que a mulher assuma o lugar que lhe cabe na política brasileira. Quero me despir do machismo enrustido nos discursos que me educaram. Precisamos refletir: Porque não viramos esse jogo? Os recursos estão em nossas mãos, para quem já fez biometria, em nossos dedos. Avante, mulher!

Obs.: Excepcionalmente, nas próximas eleições, em novembro de 2020, durante a pandemia, por medida de segurança, não será usada a biometria.

Tabela do Eleitorado brasileiro por faixa etária e gênero:

Faixa Etária Masculino(M) %M/T Feminino(F) %F/T Total(T)
Inválida 1.026 46,98 1.157 52,98 2.184
16 anos 120.469 50,16 119.679 49,84 240.148
17 anos 390.041 49,19 402.851 50,81 792.892
18 a 20 anos 3.332.604 49,17 3.445.331 50,83 6.777.935
21 a 24 anos 6.158.346 49,05 6.396.463 50,95 12.554.809
25 a 34 anos 15.072.995 48,39 16.076.543 51,61 31.149.538
35 a 44 anos 14.987.707 47,83 16.348.257 52,17 31.335.989
45 a 59 anos 17.504.474 47,27 19.517.103 52,71 37.030.315
60 a 69 anos 7.824.532 46,1 9.140.672 53,85 16.974.569
70 a 79 anos 3.971.571 44,64 4.915.976 55,26 8.896.765
Superior a 79 anos 2.042.045 42,86 2.709.335 56,87 4.764.491
TOTAL (TT) 71.405.810 47,44 79.073.367 52,53 150.519.635
FONTE: Tribunal Superior Eleitoral  – Mês de referência: setembro 2020
Disponível em: http://inter04.tse.jus.br/ords/dwtse/f?p=2001:101 Acesso em: 20/10/2020