Experiência de João Moreira Salles na Amazônia pode virar filme

Em transmissão ao vivo realizada no canal 3 em Cena no dia 04/08/2020, o documentarista João Moreira Salles conversou com outros nomes de peso do cenário audiovisual brasileiro como Piero Sbragia, Juca Badaró e Eduardo Escorel sobre projetos que nascem com um propósito, mas com o passar do tempo assumem forma e objetivos diferentes da ideia original. Numa conversa descontraída, ele compartilhou um pouco da experiência vivida ao longo dos quase cinco meses que esteve na Amazônia, mais precisamente no estado do Pará.

Não tem como falar da Amazônia sem mencionar o fato do Brasil estar atravessando um momento no qual os olhos do mundo estão voltados para ele, tanto por questões ambientais envolvendo o atual governo, quanto pela forma na qual têm sido conduzidas políticas de combate à pandemia, principalmente em relação à população indígena. João viajou para o Pará em agosto do ano passado e permaneceu até dezembro, ou seja, antes da crise do coronavírus, mesmo assim, ele discorreu sobre o impacto da política desastrosa de Jair Bolsonaro sobre o maior patrimônio do país, seja antes ou durante a pandemia. João partiu sob a motivação de apurar e escrever uma série de reportagens para a Revista Piauí, e por julgar ser diferente falar da Amazônia a distância que falar estando in loco, ele quis ir ver a floresta, conhecer e conversar com pessoas, viver suas próprias experiências.

Curiosamente, foi durante a pandemia, que ele acessou o material e começou a escrever. Até o momento, já são 7 artigos, mas adiantou que serão entre 10 ou 12, material suficiente para um livro, no qual humildemente reforçou que é apenas devido ao volume e não pela riqueza da obra. Para descrever, com precisão, pessoas e situações ele recorreu ao dispositivo das imagens, nesse caso, em movimento. Criou então, uma rotina de filmar diariamente por 5 minutos. Parte do resultado de sua disciplina foi compartilhada durante a transmissão e está disponível no YouTube sob o título “Filmes Inesperados”. Esse resgate de memórias é na verdade imagens instigantes obtidas a partir de seu Smartphone com planos longos – todos com mais de 1 minuto de duração – mostrando um olhar sensível, que transborda encantamento com a grandiosidade da natureza e ao mesmo tempo, profunda tristeza pelo descaso daqueles, que não compreendem a complexidade da floresta e tentam simplificá-la, transformando-a em algo novo e sem valor. As imagens em si falam pouca coisa quando sozinhas, mas quando acompanhadas por seus comentários, assumem um tom de filme-ensaio. Mesmo descrevendo o processo como rudimentar, uma espécie de caderno de notas, produzido sem equipe, ele deixou claro que o material não foi obtido via improviso, ele viajou com conhecimento prévio, estudou e leu obras de Euclides da Cunha, Mário de Andrade, e do ambientalista Alexander von Humboldt. Definitivamente o conteúdo foi entregue a realidade, mas não foi produzido mediante despreparo.

Apesar de reforçar a ideia do não-filme, ao final os espectadores subiram no chat a hashtag #MontaEscorel, referente a montagem do possível filme pelo também cineasta Eduardo Escorel, é claro que estamos na torcida para que o pedido seja atendido.

Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=G8gCtDR3fV8

Imagem Alexandre Humboldt – Wikimedia Commons